Crítica | Missão Presente de Natal traz reflexão em forma de comédia romântica
Por Beatriz Vaccari |
Há diversos clichês que funcionam quando se trata de comédias românticas, um dos mais populares já foi inclusive estudado pelo escritor Kurt Vonnegut em sua tese de antropologia que apresenta os formatos de histórias tanto no cinema, televisão e teatro quanto na literatura. No formato Garoto Encontra Garota, o estudioso oferece uma trajetória do personagem protagonista em que ele ou ela encontra alguém, perde essa pessoa e depois a conquista para sempre. Dá pra listar quantos filmes do gênero utilizam dessa premissa que funciona até hoje, e o caso de Missão Presente de Natal, mais recente lançamento natalino da Netflix, não é diferente.
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Comédias românticas tendem a se reinventar desde que permaneçam na mesma zona de conforto e entregar para o espectador um conteúdo de aproximadamente 90 minutos que o entretenha sem deixar de mostrar o previsível: que o casal da capa do filme ficará junto no final. É válido dizer que Missão Presente de Natal conseguiu trazer algumas novidades quando se trata de um filme natalino, embora ainda traga os mesmos clichês que o público admite amar mesmo já ter visto repetidas vezes em outros títulos.
O começo você já conhece bem: uma jovem super preocupada em entregar um bom trabalho que está disposta a abrir mão de parte da sua vida pessoal por uma carreira bem sucedida e claramente não tem tempo para pensar num relacionamento agora. Por outro lado, temos um jovem de bom coração, atraente e tudo o que envolve o que um cara "bom partido" deve ser. Eles são o oposto um do outro, embora você já saiba onde isso vai dar, mas vamos seguindo.
Logo na primeira cena o público é apresentado a Erica, interpretada por Kat Graham (The Vampire Diaries), assessora de uma deputada do Congresso norte-americano que está disposta a fechar três bases da Força Aérea dos Estados Unidos para cortar gastos públicos. Desconfiada de uma das tradições de fim de ano de uma das bases no meio do Oceano Pacífico, que organiza a Operação Presente de Natal, levando mantimentos, remédios, materiais escolares e brinquedos para os moradores das ilhas próximas, por meio dos aviões de guerra, a deputada interpretada por Virginia Madsen (que mais tarde torna-se a verdadeira antagonista da história) envia sua assessora com uma única tarefa: encontrar qualquer tipo de ineficiência na operação que justifique o fechamento da base.
E por quem a operação é gerenciada? Isso mesmo, pelo galã que divide o cartaz do filme com a protagonista. Alexander Ludwig, de Vikings e Jogos Vorazes traz seu papel mais simpático na carreira até então, dando vida ao capitão Andrew, que está encarregado a ser o guia turístico de Erica durante sua estadia na ilha, mostrando todo o trabalho da Base da Força Aérea norte-americana e se certificando que a tradição da Operação Presente de Natal não se quebre.
O primeiro encontro da dupla é exatamente o que esperar desse tipo de clichê, afinal, ela já desembarcou do avião desconfiadíssima e determinada a encontrar qualquer irregularidade para fazer um bom trabalho e entregar um bom relatório, afinal, há uma promoção para ser Chefe de Gabinete em jogo, sem contar que a protagonista abriu mão de passar o natal com a família só por esse trabalho. Enquanto Andrew é todo hospitaleiro e só sorrisos, Erica é casca grossa, determinada a fazer seu relatório e conquistar a deputada, fazendo o máximo para ignorar toda a beleza paradisíaca que a cerca, mas como toda pessoa durona tem seu ponto fraco, o de Erica acaba sendo o próprio capitão da Base.
Missão Presente de Natal ganha vários pontos por alguns fatores diferenciais em seu enredo, como por exemplo, trazer uma trama inteira ambientada no natal sem um floco de neve sequer, tornando a experiência até mais um pouco familiar para quem mora em regiões cujo clima não é frio nessa época do ano, como o Brasil. Outra coisa atrativa é justamente por girar em torno de toda uma causa humanitária, embora o desenvolvimento não seja tão sutil e algumas informações sejam literalmente jogadas na cara do espectador, a intenção é boa; além de mostrar uma operação que realmente acontece no Departamento de Defesa dos Estados Unidos desde 1952.
As verdadeiras estrelas do filme são, realmente, Graham e Ludwig. Embora não seja cansativo, o filme leva seus 95 minutos para explorar e desenvolver toda a personalidade do casal principal, deixando os personagens coadjuvantes praticamente opacos. Além disso, embora os atores se esforcem muito, a química entre eles é morna, mas, mesmo assim a história não se torna totalmente dispensável, disposta a arrancar muitos Awww! dos fãs de comédia romântica.
O filme ainda assim comete alguns deslizes, problemas que foram apresentados logo no início, como a dificuldade de Erica em se relacionar com a família após a morte da mãe, são resolvidos como um passe de mágica (ou como a própria protagonista diz, Milagre de Natal). A produção também não é grande coisa, com elementos e paisagens que entregam claramente o fundo verde, mas, como comentado antes, a intenção acaba valendo, além do título cumprir muito bem seu papel de ser uma distração de fim de ano para casais apaixonados ou para fãs do bom, velho e ingênuo "água com açúcar".
Missão Presente de Natal traz dois atores que merecem dividir o protagonismo e que, embora não entreguem tanta química, a mensagem de fazer o bem ao próximo e doar seu tempo para ações humanitárias acaba sendo clara e destacada várias vezes ao decorrer do filme. O título acaba não sendo o prato principal da ceia de Natal de filmes da Netflix, mas faz uma boa tentativa e consegue ocupar seu espaço ali nos aperitivos e agradar os fãs de comédias românticas, com alguns pontinhos diferenciais. Lançado na última quinta-feira (5), o longa está disponível no catálogo da plataforma de streaming.
Missão Presente de Natal está disponível para todos os assinantes da Netflix.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.