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Crítica | Rebecca - A Mulher Inesquecível salta para a glória de um fiasco

Por| 22 de Outubro de 2020 às 22h00

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Quando se trata de um filme dirigido por um diretor como Alfred Hitchcock e, ainda, vencedor de uma premiação tão popular quanto o Oscar, pensar em um remake ou, no caso, uma readaptação pode ser bem questionável — no mínimo, perigoso. Se, além disso, acrescenta-se uma pitada de elegância irritante, tudo pode ficar um tanto quanto pretensioso. Mas quando, de quebra, plastifica-se o todo e o expõe cercado por uma redoma de vidro, tem-se essa nova versão de Rebecca - A Mulher Inesquecível.

Não que o filme dirigido por Ben Wheatley (do bom Turistas, de 2012) seja descartável. Isso é justamente o que ele não é — porque talvez seja impossível descartar aquilo que nem se consegue tocar. O diretor parece estar mais preocupado com a beleza visual do seu trabalho do que com o alcance tanto do romance quanto do suspense. Nesse sentido, Lily James (Mrs. de Winter) e Armie Hammer (Maxim de Winter) formariam o casal ideal para o alcance de qualquer profundidade, mas a narrativa se mantém na superfície.

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Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Sem força

Wheatley, aliás, demonstra estar mais preocupado exatamente com a superfície. Enquanto ele filma planos que pouco (ou nada) significam para acrescentar uma dimensão mais sensorial ao filme, esses mesmos planos são preenchidos pela luz quase de fábula da direção de fotografia de Laurie Rose (do recente Cemitério Maldito). É uma boniteza visual que se complementa com todo o desenho de produção de Sarah Greenwood (de O Destino de uma Nação).

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Tudo, então, é, realmente, de muita imponência em Rebecca - A Mulher Inesquecível. Acontece, porém, que beleza por beleza só é atraente quando se está disposto a esse tipo relação. Apesar de, aparentemente, James e Hammer serem uma escalação de elenco perfeita para um romance fantasioso, a relação é guiada pela direção de maneira burocrática. Ao mesmo tempo, tudo o que envolve a falecida Rebecca tem uma criação de tensão explorada sem qualquer força.

Aliás, é possível, sim, sentir certa aflição, mas tudo é condensado na atuação de James e de Kristin Scott Thomas (Mrs. Danvers). Esta, inclusive, de semblante sempre duro, talvez seja o que de melhor idealizou Wheatley – se é que a idealização do trabalho da atriz partiu dele.

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Por outro lado, a trilha sonora musical de Clint Mansell (de Com Amor, Van Gogh) é de uma cafonice que rima com a dita elegância irritante. Traçando linhas harmoniosas quando o que se acompanha é o romance na cabeça da inicialmente inocente Mrs. Danvers ou pendendo para uma tentativa de suspense genérico quando algo pretensiosamente misterioso acontece, Mansell é tão expositivo quanto a direção de Wheatley não promove qualquer unidade.

E sem asas

Rebecca (sem subtítulo no original) acaba por ser uma onça linda e forte que sonha em voar. Mas não somente sonha... ela sobe em um penhasco e pula majestosamente, abrindo-se para o mais bonito dos voos. O animal, por si só, é, de fato, lindo. Poderíamos enquadrar uma fotografia de sua robustez. Qualquer ângulo estaria perfeito. Mas o resultado do salto é desastroso.

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Em resumo (e ciente de que uma crítica é, somente, a visão individual de quem escreve), Rebecca - A Mulher Inesquecível é uma mistura de nada com qualquer coisa tentando ser relevante. A onça criada pela escritora Daphne Du Maurier e que Hitchcock domou há 80 anos olhou-se no espelho através dos olhos de Wheatley e viu uma águia; assim, ficou com a pretensa ideia, de repente, de que o reflexo poderia superar o conteúdo.

Rebecca - A Mulher Inesquecível está disponível para os assinantes da Netflix.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.