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Crítica | Novos Mutantes teria sido melhor com a ajuda da franquia X-Men

Por| 12 de Setembro de 2020 às 12h00

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Divulgação/Fox Film do Brasil
Divulgação/Fox Film do Brasil

Eis que, depois de tantos adiamentos, a adaptação da nova geração de X-Men, Novos Mutantes, finalmente chegou às telonas gringas — no Brasil a estreia continua agendada para o dia 8 de outubro. E o resultado? Bem, o filme tem lá muitos de seus defeitos, mas tem seus ótimos momentos e uma reviravolta bastante interessante. Infelizmente, é um longa que precisava muito da força de sua franquia, que já estava no fim antes mesmo do final das gravações. E o que ficou bom e ruim? É o que te digo logo abaixo.

Antes de entrarmos na crítica, vale apenas um resumo do problemático histórico do filme, que, enquanto terminava suas gravações, em setembro de 2017, via a Disney alinhando a compra da Fox. Até esse momento, a estreia estava prevista para 13 de abril de 2018. Conforme a negociação avançava, havia até mesmo o risco de o título não ser lançado, e seu lançamento foi postergado para 22 de fevereiro de 2019, quase um ano depois.

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Quando a compra da Fox pela Disney foi confirmada em meados de 2018, o chefão do Marvel Studios, Kevin Feige, precisava decidir se o longa faria parte de seus planos. Assim, Novos Mutantes ficou para agosto de 2019 — tempo razoável para bater o martelo. Com o processo de fusão encerrado, o filme entrou para o Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) de fininho, embora até agora não haja confirmação se ele faz parte da cronologia — essa decisão veio mesmo para que, pelo meno, a obra de Josh Boone pudesse exibir o último suspiro do universo mutante na Fox. E aí a estreia ficou para 2 de abril deste ano.

Então veio a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e atrasou tudo de novo. Desta forma, depois até mesmo de uma possível estreia diretamente no streaming, Novos Mutantes finalmente conseguiu ver a luz do sol no dia 28 de agosto. E aí que começamos a falar sobre o resultado de todo esse trabalho.

Atenção, a partir deste ponto há vários spoilers sobre o filme!

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Fidelidade e clima tenso

A trama e os personagens de Novos Mutantes são bem fiéis às histórias de sucesso do grupo nos anos 1980, quando venderam milhões de cópias na fase de Chris Claremont e Bill Sienkwiecz. O filme começa com Danielle Moonstar/Miragem (Blu Hunt) tendo visões que a atormentam, enquanto se lembra de fugir de uma ameaça, que aparentemente mata seu pai.

Ela vai parar em uma instalação que seria parte do complexo do Instituto Xavier para Jovens Superdotados, a famosa Mansão X, dos X-Men. Nesse setor, estariam os mutantes que apresentam mais problemas ao usar seus poderes. É a ala “especial” para quem pode, a todo momento, colocar a si ou outros em risco. Ou seja, parece-se mais como uma clínica de regime fechado do que uma escola.

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O local é dirigido pela médica Cecilia Reyes (Alice Braga), que já trata outros pacientes: a russa Illyana Rasputin/Magia (Anya Taylor-Joy), o brasileiro Roberto da Costa/Mancha Solar (Henry Zaga), a escocesa Rahne Sinclair/Lupina (Maisie Williams) e o caipira estadunidense Sam Guthrie/Míssil (Charlie Heaton). A chegada de Moonstar começa a trazer os pesadelos de cada um para a realidade e, aos poucos, eles precisam superar as diferenças para encarar seus medos e vencer não somente o confinamento como a ameaça do Urso Místico.

A caracterização de cada um dos aspirantes a heróis é muito fiel, com exceção de Illyana, que não tem o sotaque russo que todos esperam da irmã de Colossus. Mas, tirando isso, é muito interessante ver como Boone explorou a perspectiva de adolescentes que estão experimentando o ônus de seus poderes pela primeira vez. Se normalmente esse já é um período assustador para qualquer pessoa, imagine com os problemas que as manifestações de suas habilidades podem trazer. Roberto da Costa e Sam Guthrie, por exemplo, têm que viver com a culpa de terem matado pessoas queridas.

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Os cortes das cenas e a trilha, principalmente no primeiro ato do filme, lembram mesmo os títulos de terror. É nessa hora que vemos a trama mostrar o “lado feio” da escola Xavier, de ser um mutante. E essa ambientação realmente é bastante diferente de tudo o que vimos até agora nos longas de super-heróis. A identidade visual, principalmente do Urso Místico, segue bastante os clássicos desenhos de Sienkiewicz e a narrativa crua, intimista e claustrofóbica ajudam a manter um clima tenso.

Mas… Aí começam os problemas.

Interessantes plot twists e a falta que uma franquia faz

O filme tem ótimas surpresas, que poderiam render muitos frutos, caso fossem melhor aproveitadas na própria história ou no universo dos X-Men da Fox. Rahne nutre um amor explícito por Moonstar, algo bem-vindo para uma história que tem muito a ver com representatividade; e a união de pessoas tão problemáticas na “detenção” chegou a ecoar memórias de Clube dos Cinco. Cecília Reyes aos poucos revela que os mutantes estão em uma instalação da Essex Corporation, do vilão geneticista Senhor Sinistro — e não de Xavier.

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E, para completar, a maior de todas as reviravoltas é que o Urso Místico, na verdade, não é o vilão que lemos na fase clássica de Claremont/Sienkiewicz; e sim a manifestação de um “lado ruim” dos próprios poderes de criação de ilusões sólidas de Danielle Moonstar. Essas três linhas de narrativa ficaram bastante interessantes.

Só que, a partir do segundo ato, começam os problemas para amarrar tudo em um tom mais homogêneo, o que não acontece. Há pouco tempo para explorar as particularidades de cada um dos personagens e a ambientação tensa dá lugar a uma sucessão de cenas com seres estranhos e explosões — tudo com um certo “dramédia” que não avança nas interações entre os heróis. As manifestações de poderes até são bem feitas, mas são muito raras e a história segue com uma “pressa” para explicar tudo. E todo aquele castelo de cartas construído no começo cai rapidamente.

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A ausência da conexão com os X-Men, algo que poderia manter a audiência presa por mais tempo, também se esvai. E, conforme as questões vão se resolvendo de uma maneira fácil, temos a verdadeira dimensão de um filme que nasceu quase para ser um experimento, de uma franquia que não sabia qual era o seu futuro. E a sensação é essa: de que Novos Mutantes serviu de “laboratório” para algo que nunca floresceu na Fox.

Vale a pena?

Os fãs dos X-Men com certeza vão querer dar esse “adeus” para a franquia da Fox — e serão os que mais vão se divertir com as referências e as interações entre personagens tão queridos e que nunca estiveram juntos nas telonas. Embora a perda do caminho no meio do trajeto, Novos Mutantes tem lá seus momentos interessantes e reviravoltas divertidas.

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Já para o cinema de super-heróis, serve mesmo como um bom experimento. Vale lembrar que o primeiro X-Men, lá em 2000, também serviu de “laboratório” para o mercado e, sem ele, talvez Homem de Ferro não tivesse sido produzido da maneira como foi — e tido o sucesso que teve, oito anos depois (lembrando que Feige começou trabalhando como assistente nos longas dos mutantes).

Então, se Novos Mutantes não é o filme ideal que a nova geração de X-Men precisava, pelo menos pode servir de referência como o novo gênero de super-heróis pode flertar com o terror e o pós-terror. Se Doctor Strange in the Multiverse of Madness aprender algo com essa experiência e elevá-la no MCU, o último filme dos mutantes na Fox já cumpriu o seu papel.