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Crítica | 2ª temporada de The Boys confirma ótimo timing para adaptação

Por| 09 de Setembro de 2020 às 11h12

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Reprodução/Amazon Prime Video
Reprodução/Amazon Prime Video

A segunda temporada de The Boys já está entre nós — ou, pelo menos, o começo dela. O Amazon Prime Video liberou os três capítulos iniciais de uma só vez e preferiu, assim como no ano passado, distribuir cada novo capítulo semanalmente. E o que dá para dizer após essa “degustação”? A adaptação manteve a pegada da primeira? A história está melhor? O que acontece com a introdução de uma nova e poderosa integrante nos Sete?

Respondo a essas e outras questões nas primeiras impressões da segunda temporada logo abaixo. Mas atenção: após este alerta você vai encontrar vários spoilers, portanto, siga por sua própria conta e risco.

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O segundo ano começa com Billy Butcher desaparecido, após encontrar sua esposa, Becca, viva e com um filho crescido, aparentemente do Capitão Pátria. Hughie, Leitinho, o Francês e a Fêmea seguem escondidos, enquanto são procurados pelo governo. Luz-Estrela entrou no jogo dos Sete e se torna um “carro-chefe” da equipe da farmacêutica Vought Internacional, que tenta, a todo custo, esconder o Composto V, a substância que criou os super-heróis — e supervilões.

O clima de tensão nos Sete aumenta com a chegada da competitiva e moderninha Stormfront, que, aos poucos, impõe seus valores feministas e questiona a liderança do Capitão Pátria. Este, por sua vez, tenta a todo custo que se filho manifeste poderes e se torne mais parecido com o pai. É aí que descobrimos que Billy Butcher está vivo graças a um acordo de sua esposa com o próprio Capitão Pátria.

Ao final do terceiro episódio, vemos o envolvimento (e morte) do irmão da Fêmea, pelas mãos de Stormfront, em uma falhada negociação entre os The Boys e o governo dos Estados Unidos — e que poderia aproximar Billy de Becca. Por outro lado, Hughie e Luz-Estrela conseguem, na surdina, expor a Vought Internacional e o Composto V, o que é considerado uma pequena vitória.

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Mas a disputa interna nos Sete, inclusive com o reaparecimento de um abalado Profundo; e a sede de vingança da Fêmea sobre a morte de seu irmão, colocam Stormfront como um alvo, tanto do Capitão Pátria quanto da integrante dos The Boys. E assim seguimos esperando a sequência da história.

O melhor momento para adaptação de The Boys

Falei aqui algumas vezes que a série do serviço de streaming é bem melhor que o material original, especialmente porque a produção conseguiu encaixar bem os temas da revista no momento em que o mundo vive. Quando a revista foi lançada, em 2006, já tínhamos uma internet mais avançada, mas as redes sociais, o monitoramento constante, os algoritmos de busca, entre outras coisas encravadas em nosso atual cotidiano, ainda não eram tão relevantes.

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Desde meados dos anos 1990, o criador, Garth Ennis, vinha participando de um dos momentos mais efervescentes do selo Vertigo, na DC Comics, com uma boa passagem por Hellblazer e com o sucesso de seu Preacher. Seu estilo sempre misturou o humor sombrio e a ultraviolência banalizada, em meio a personagens durões. E isso fazia muito sucesso no período, com diretores que tinham uma pegada semelhante no cinema, a exemplo de Quentin Tarantino e Guy Ritchie.

Acontece que The Boys foi lançada em 2006, quando Ennis vivia um certo declínio em sua carreira e suas histórias chamavam mais atenção por mostrar super-heróis usando drogas, participando de orgias ou cometendo atrocidades do que exatamente pelos temas que vemos no seriado — não à toa, o título mensal foi banido da DC Comics e teve que continuar na Dynamite Entertainment. Os produtores da atração do Amazon Prime Video conseguiram elevar os subtextos dos quadrinhos aos principais questionamentos da série no streaming, a partir de elementos do momento em que vivemos atualmente.

Hoje em dia sabemos como funciona a influência das pessoas em redes sociais, e como é possível construir todo um cenário para que os seguidores acreditem em uma realidade perfeita que não existe. Além disso, vemos a cada ano como a desinformação pode afetar o posicionamento político e a opinião de uma nação inteira. A maneira como a Vought Internacional gerencia a imagem dos Sete e o comportamento dos heróis, que estão mais preocupados com sua própria vaidade e dinheiro do que salvar o mundo, estão intimamente ligados.

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Nestes primeiros episódios, você não vê nenhum confronto entre seres superpoderosos. Em The Boys, a “cultura do cancelamento” é levada tão a sério que o Trem-Bala desiste de confrontar Luz-Estrela, seja fisicamente ou entregando seus atos de espionagem aos Sete, porque a exposição nas redes sociais — e consequentes rompimentos de contratos publicitários — aqui tem muito mais poder do que um soco de toneladas de força.

Ou seja, embora a divertida ultraviolência, o cinismo e o humor ácido de Ennis ainda permeiem os heróis da série, são os elementos envolvendo privacidade e tecnologia é que realmente aproximam questões primordiais da atração com o cotidiano da audiência — na cena de apresentação da Stormfront a vemos se comportando como uma “heroína influencer”, com direito a um ao vivaço no celular.

A psicologia dos super-heróis

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Vamos dar os devidos créditos à obra original de Ennis e dizer que um dos grandes méritos desta segunda temporada é investir em um dos temas centrais dos quadrinhos: ter superpoderes causa um grande impacto psicológico e emocional nos personagens, que estão sempre no limite nas revistas; e isso é bastante explorado na série.

No final da primeira temporada, já tínhamos visto algo assim na narrativa do Profundo, que se mostra muito vaidoso e está o tempo todo cuidando da aparência. Na verdade, ele se sente muito inseguro, devido às guelras que possui no corpo. É interessante como este segundo ano mostra que é justamente isso que talvez o torne abusivo com as mulheres.

O Capitão Pátria é outro exemplo disso. Como seria ter os poderes de um deus? Será que em algum momento você realmente não se convenceria de que é realmente um ser divino? E é assim que o personagem se comporta, principalmente quando o vemos participar mais na “educação” de seu filho com Becca.

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As ações extremistas de Stormfront, escondidas sob discursos panfletários que, inicialmente, parecem mesmo ser uma demonstração de luta por liberdade e direitos iguais; o impacto que toda a violência tem em pessoas “normais”, como Hughie; entre outras coisas, são as principais razões pelas quais The Boys está entre as melhores críticas e desconstruções do gênero.

Vale a pena?

A série continua com a mesma análise precisa sobre mundinhos construídos por corporações, sem deixar de lado o “charme super-heróico”, emulando como seria a presença de deuses na Terra. As críticas sobre vaidade na mídia e nas redes sociais, além das campanhas de desinformação, também dão mais estofo verossímil para a trama geral, que muitas vezes soa como absurda.

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Um dos únicos pontos negativos até o momento é que as explicações sobre como terminou a primeira temporada e a construção do cenário desta segunda consumiram bastante tempo dos três episódios iniciais. Assim não sobrou muito para ação e efeitos especiais, elementos que também são importantes para os fãs. Isso não chega a atrapalhar, mas há quem possa estranhar o aumento dos diálogos em detrimento das sequências de luta.

E há também a questão dos episódios semanais. Muita gente se acostumou a “maratonar” séries, já que a Netflix popularizou a liberação de todos os capítulos de uma vez só. Mas a própria produção de The Boys explicou que a frequência de distribuição foi uma imposição deles mesmos à Amazon, pois, assim, eles acreditam que mantêm o hype de sua atração na boca do povo por mais tempo ao longo da exibição — então, paciência, o jeito é aguardar a continuação do jeito que estávamos habituados no passado.

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Em suma, The Boys manteve e ampliou tudo o que fez sucesso na primeira temporada, e, pelo que vimos até agora, promete superar seu ano de estreia — já que o melhor parece mesmo ainda estar por vir.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.