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Crítica Exército de Ladrões | Um desenho animado salvo pelo carisma de seu herói

Por| Editado por Jones Oliveira | 04 de Novembro de 2021 às 19h50

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Divulgação/Netflix
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Spin-offs são sempre arriscados. É apostar em uma história ou personagem para desenvolver algo completamente novo — o que, na maioria das vezes, significa transformar um coadjuvante em protagonista. E como dar profundidade a alguém que foi criado para ser apenas alívio cômico? Por sorte, Matthias Schweighöfer tem carisma de sobra para carregar Exército de Ladrões: Invasão da Europa nas costas.

O filme é o prequel que ninguém pediu de Army of the Dead: Invasão em Las Vegas e, embora seu personagem Ludwig Dieter fosse uma das melhores coisas do filme de zumbi, vamos combinar que ninguém ficou se perguntando como ele se tornou o maior arrombador de cofres do mundo. Ainda assim, esse retorno ao seu passado se revelou uma grata surpresa.

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Só que, para isso, algumas mudanças significativas tiveram que ser feitas, sobretudo no tom geral da trama. Ao invés do clima mais voltado para a ação como no longa original, Exército de Ladrões se apoia muito mais na comédia para aproveitar aquilo que seu protagonista tem de melhor. Embora a dinâmica do roteiro e as várias cenas de perseguição tragam um nível de adrenalina considerável, Invasão da Europa é muito mais filme para rir do que para se empolgar.

E isso está bem longe de ser um problema. Essa mudança torna tudo bem mais divertido ao explorar a personalidade de Dieter — ou Sebastian, se preferir — em um contexto um pouco menos tenso do que em Army of the Dead. Embora o senso de urgência seja constante, a ideia de que os personagens podem morrer é bem menor e isso permite que você aproveite mais a ingenuidade do protagonista. Sob todos os aspectos, esse é um filme muito mais leve e gostoso de assistir.

Parte disso está na direção do próprio Schweighöfer, que usa esse controle sobre a produção a seu favor para fazer com que todas as esquisitices de Ludwig brilhem. Assim, temos o personagem mais uma vez deslocado no meio de brucutus e ladrões experientes, com a diferença de que agora ele não é mais o coração apenas do plano, mas também do roteiro.

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O coração dos cofres

A história de Exército de Ladrões: Invasão da Europa segue tão simples quanto a do filme original. Sebastian é um jovem entusiasta de cofres que segue sua vida medíocre como caixa de um banco em Berlim até que tudo muda quando ele é convidado a participar de uma sequência de roubos a banco pelo continente. E o principal atrativo não é o dinheiro, mas o desafio de arrombar três cofres lendários antes que eles sejam destruídos.

É uma premissa que chega a ser boba, mas que funciona justamente por ser tão ingênua quanto o seu protagonista — e é isso o que torna o filme tão divertido. Além disso, a ideia se amarra muito bem com aquilo que a gente viu e conhece do personagem em Army of the Dead, o que faz com que os dois longas conversem muito ao mesmo tempo em que Exército de Ladrões segue por caminhos tão diferentes que fazem dele algo isolado do longa original. Não por acaso, ele não depende de Invasão em Las Vegas para nada e consegue existir de forma isolada sem qualquer comprometimento.

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Parte disso está justamente nessa mudança de tom. A estética ainda é a mesma e até mesmo a dinâmica do roteiro, sobretudo nas interações desses grupos que parecem tão disfuncionais, mas o fato de Exército de Ladrões partir muito mais para a comédia é uma virada de chave tão grande que é até difícil imaginar que pertencem ao mesmo universo — não por acaso, ele precisa ficar a todo momento mostrando um zumbi para forçar essa associação. Os sonhos de Dieter não fazem o menor sentido, mas estão lá só para criar a conexão entre as histórias.

E essa desassociação com o filme de Zack Snyder faz muito bem para o longa. O ator Matthias Schweighöfer tem um timing muito bom para a comédia que já tinha sido demonstrado no filme de 2020, mas que é muito melhor explorado aqui. Não se trata apenas de esticar as piadas que funcionaram no outro filme, mas de expandir as esquisitices e o jeito inocente de seu protagonista diante de um grupo de brucutus.

Para isso, Exército de Ladrões adota uma pegada quase cartunesca em seu roteiro para criar situações em que Dieter possa brilhar. Há muitos momentos e diálogos que são forçados para que soem como algo de um desenho animado e que casam muito bem com o jeito quase infantil com que Dieter encara o mundo nesse momento. Por mais bobo que soe Gwen (Nathalie Emmanuel) roubar todo mundo em uma cafeteria em apenas sete segundos, incluindo a arma que estava na coxa de um senhor, as reações de Ludwig são tão caricatas e exageradas que a piada acaba funcionando.

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E isso acontece porque o ator é muito carismático. Esse tipo de humor não é tão simples de fazer, até porque esse exagero pode facilmente se tornar infantil e ridículo — como acontece dentro do próprio Invasão da Europa. Só que Schweighöfer tem um controle tão bom de seu personagem e da própria direção dessas cenas que você não se incomoda com o absurdo, mas se diverte com ele. Tudo é propositalmente um desenho animado no entorno de Dieter e isso acaba virando o seu charme.

Uma fórmula que não é para todos

Só que, mais uma vez, essa estrutura só funciona com o protagonista porque o seu carisma consegue fazer essas brincadeiras funcionarem. Assim, quando o longa tenta repetir a fórmula com outros personagens é que você percebe como as coisas são ridículas.

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Isso fica bem claro na figura de Delacroix (Jonathan Cohen), o chefe da Interpol que quer a todo custo capturar o grupo de Gwen. O roteiro também tenta dar a ele o mesmo tom cartunesco dado a Dieter, só que isso claramente não funciona e você percebe a diferença entre os dois com muita facilidade. Com um jeito trapalhão e cheio de trejeitos, o policial se torna tão caricato que parece um vilão de filme infantil.

Isso é nítido já em sua primeira aparição. Enquanto todos os demais agentes estão discutindo o apocalipse zumbi que acabou de começar, ele está obcecado em prender os ladrões de banco e dá início a um discurso sem pé e nem cabeça. O motivo? Ele levou um tiro na bunda de um dos membros do bando no passado e, por isso, quer vingança.

A história do personagem segue infantil nesse nível e avança para absurdos como ele montar tocaia no banco errado e ser enganado pelos heróis com uma gravação de áudio. Tudo isso se encaixa na velha persona do policial trapalhão que é uma figura recorrente em filmes infantis.

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E se essa abordagem funciona em Dieter, em Delacroix ela é uma enorme tragédia porque o ator não tem o carisma para abraçar essa abordagem e muito menos o personagem oferece essa brecha. Se ele é o grande antagonista dos heróis, ele deve representar uma ameaça e não ser uma piada para o público. Tudo bem que ele não é o único desafio para o protagonista, mas a forma de abordar o policial é algo que derruba o nível geral do filme em níveis absurdos.

Saldo positivo

Ainda assim, não há como negar que Exército de Ladrões: Invasão da Europa é um longa divertido. Para um prequel que ninguém pediu, ele se sai melhor que a encomenda e se revela uma bela surpresa. Ao abrir mão da tensão do filme anterior, ele segue por um caminho mais leve e aproveita tanto o que o universo criado por Zack Snyder tem a oferecer quanto dá espaço para que esse personagem possa brilhar livremente.

Ainda assim, ele deixa claro o quanto essa é uma estratégia arriscada. A ideia de expandir um personagem que nasce como uma piada é algo perigoso, porque é impossível estender uma brincadeira por duas horas de história. E o que salva Invasão da Europa é que esse protagonista tem carisma de sobra para fazer com que todas as maluquices funcionem. Ele é ingênuo como o roteiro precisa e são nessas brincadeiras que mais parecem um desenho animado que o jeito bobo de Ludwig Dieter se destaca e nos lembra porque ele foi o escolhido do elenco original para ganhar seu próprio spin-off.

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Pode não ser o filme que a gente pediu, mas realmente estávamos precisando de algo leve assim.

Exército de Ladrões: Invasão da Europa está disponível para todos os assinantes da Netflix.