Greentechs | Como startups sustentáveis podem ajudar o meio ambiente
Por Márcio Padrão • Editado por Claudio Yuge |
Apesar de não atraírem tantos investimentos quanto as startups financeiras (fintechs), de propriedades e imóveis (proptechs) e de varejo (retailtechs), as ambientais (greentechs) são muito necessárias em um mundo cujo ambiente caminha para a destruição. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) diz que devemos reflorestar cerca de 1 bilhão de hectares de áreas devastadas em dez anos se quisermos reverter ou adiar a degradação climática.
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As greentechs, portanto, podem tanto ajudar a salvar a Terra quanto ganhar dinheiro. De acordo com um relatório da consultoria Allied Market Research, o mercado global de tecnologia verde foi estimado em US$ 6,85 bilhões (R$ 37,9 bilhões) em 2018 e deve atingir US$ 44,61 bilhões (R$ 246,9 bilhões) até 2026.
Não há dados abertos e recentes sobre a quantidade de greentechs brasileiras em atividade, mas algumas delas têm despontado nos últimos anos graças a alguns motivos, como o potencial do bioma brasileiro e a grande necessidade de protegê-lo de ações predatórias.
Por outro lado, os poucos investimentos no setor ainda são um entrave. Segundo um relatório de 2020 da Aspen Network of Development Entrepreneurs, investimentos de impacto no país mais que dobraram entre 2017 e 2019, de US$ 343 milhões para US$ 785 milhões (R$ 1,8 bilhão a R$ 4,3 bilhões). O setor de manufaturas lidera o interesse de investidores (28%), mas as empresas ambientais receberam só 1% do montante.
"Existe uma ideia de que se o produto faz bem, ele não dá dinheiro. Que o produto sustentável é mais artesanal, logo custa mais caro, logo não consegue competir em faturamento com a produção em massa da indústria", disse ao O Globo Tiago Brasil Rocha, fundador da Build From Scratch e organizador do evento Greentech América Latina, ao enfatizar o preconceito do mercado contra empresas sustentáveis.
Ainda assim, Paulo Bellotti, diretor-executivo da aceleradora de startups ambientais Mov Investimentos, acredita que existe um interesse muito grande neste segmento. "Do ponto de vista do investidor, é uma oportunidade de melhorar o mundo e ainda ter um retorno financeiro. É um movimento que não tem volta. Quem não se atentar a isso, tende a ficar para trás", disse ele ao Valor Econômico.
Greentechs de sucesso no Brasil
Já falamos no Canaltech da GreenPlat, que usa blockchain para rastrear o caminho correto do tratamento do lixo. Já acompanhou o traamento de 1 milhão de toneladas de resíduos em suas soluções: a PlataformaVerde, que atende ao setor privado, e a e CTR-e, para entidades públicas. Além do lixo em si, seus programas gerenciam licenças, transportes, matérias-primas e indicadores ambientais usados no processo, como água e emissão de carbono.
O objetivo da startup é que as empresas e o setor público tornem seus processos de gestão de resíduos e emissão de carbono ágeis e transparentes o bastante para atingir o Aterro Zero, isto é, que evitem que mais de 90% de seu lixo chegue a aterros e incineradores.
"Sem dados não há como tomar boas decisões. Sem a digitalização dos processos de gestão e rastreabilidade dos resíduos, não se sabe para onde está indo o resíduo, que pode acabar em aterros, mas também em lixões ou até leitos de rios. A reciclagem também é dificultada e muitos agravantes ambientais como poluição, problemas para saúde pública e emissão de carbono acontecem de forma deliberada", explica Chicko Sousa, CEO da GreenPlat.
Um caso parecido é o da Green Mining, que desenvolveu uma logística reversa baseada em blockchain para rastrear e recuperar embalagens e devolvê-las ao ciclo de produção. A empresa capacita ex-catadores de rua e os contrata em regime CLT para recuperar os recipientes para reciclagem. Neste mês, a empresa chegou a 2,79 milhões de quilos coletados e 496 mil quilos evitados de gás carbônico despejados na natureza. Ambev, Unilever, Natura e Braskem são algums de suas clientes.
Com seu algoritmo exclusivo, a Green Mining mapeaia de pontos de geração de resíduos pós-consumo. Em áreas com mais lixo, a startup instala um hub para armazenar todo o material coletado. Os coletores percorrem bares e mercados da área para trazer mais embalagens ao hub. Quando este atinge sua capacidade máxima, o lixo é enviado a usinas e empresas de reciclagem.
Já a Eco Panplas é uma greentech que remove resíduos de óleo lubrificante das embalagens plásticas sem usar água, além de reaproveitar esse mesmo óleo restante. A empresa diz ter processado mais de 10 milhões de embalagens e economizado 17 bilhões de litros de água.
A Biosolvit, fundada em 2014 em Barra Mansa (RJ), usa restos da indústria do palmito parta transformá-los em produtos para jardinagem, como substrato e xaxim. Aém disso, desenvolveu equipamentos mais baratos e eficazes para conter vazamentos de óleo. A empresa captou R$ 15 milhões em rodada seed em 2016 e prepara uma segunda para 2022 ou 2023 para expandir seu negócio a outros países.
Fonte: O Globo, Valor Econômico, Aspen, Distrito