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A perigosa relação entre a síndrome do pânico e a pandemia

Por| Editado por Jones Oliveira | 14 de Maio de 2021 às 08h00

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Nandhu Kumar/Pexels
Nandhu Kumar/Pexels

Já é conhecido que a COVID-19 traz impactos de curto e longo prazo no que diz respeito à saúde mental. Já fizemos um especial justamente sobre o impacto dessa doença no psicológico da população (parte 1; parte 2). Desta vez, o Canaltech conversou com especialistas da área para entender um mal que pouco se explora em meio aos estudos: a síndrome do pânico.

Mas antes de tudo: você sabe o que é a síndrome do pânico? Bem, segundo Luiz Scocca, psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da USP e membro da Associação Americana de Psiquiatria (APA), essa síndrome está interligada com o instinto de sobrevivência, algo que contempla todos os seres vivos.

"O ser humano tem um mecanismo complexo chamado mecanismo de luta ou fuga, que o fez sobreviver como espécie, e até hoje faz. Ele depende de medo, preocupação, justamente sintomas pilares da ansiedade, portanto precisamos de ansiedade para sobreviver. Atravessar a rua, manter o emprego. Então a ansiedade é normal e desejável, inclusive", pondera o especialista.

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No entanto, quando a ansiedade vira transtorno, pode culminar na síndrome do pânico. "O paciente refere ao que nós chamamos de ataques de pânico, que são acontecimentos súbitos de descargas de ansiedade. O coração dispara, bate forte e rápido, traz sensação de falta de ar, sudorese, anestesia e formigamento de alguma parte do corpo, dor no peito, tremores nos olhos, dor ou queimação gástrica, medo de enlouquecer, de perder o controle, e medo de morrer, que é onde vemos esse mecanismo de defesa", explica o psiquiatra.

Para se caracterizar uma síndrome do pânico, segundo o psiquiatra, é preciso haver ataques recorrentes e inesperados de pânico por pelo menos quatro semanas. "A pessoa começa a tomar atitudes de evitação das situações que pode desencadear os ataques de pânico", acrescenta Scocca.

Síndrome do pânico na pandemia

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Ainda há muitos levantamentos a serem feitos, mas segundo o psiquiatra, os especialistas da área notaram sim um aumento da síndrome do pânico durante os tempos de pandemia. No entanto, Scocca frisa que muitos outros transtornos aumentaram por conta dessa nova realidade. "Nós tivemos transtornos de ansiedade generalizada, depressão, dependência química, mas também síndrome do pânico. Há um aumento de sintomas ansiosos por conta do isolamento. O ser humano precisa sair, precisa dessa sensação de liberdade. Há sintomas relacionados também às notícias que vemos", reflete o especialista.

Questionado se, depois da pandemia, a síndrome do pânico pode vir a ser uma consequência, apresentando-se assim como um impacto a longo prazo deixado pela realidade que vivemos atualmente, Scocca analisa: "Nós percebemos que [a síndrome do pânico] já aumentou. Nós estimamos que haverá aumento de todos esses transtornos, pelas experiências que tivemos anteriormente. Já tivemos outras pandemias, e mesmo em épocas muito anteriores, temos descrições que nos levam a concluir que a saúde mental é muito prejudicada após grandes tragédias".

Dr. Henrique Bottura, psiquiatra diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista e colaborador do ambulatório de impulsividade do Hospital das Clínicas de São Paulo, observa que a pandemia trouxe um aumento de quadros ansiosos como um todo. "É difícil afirmar que houve um aumento do quadro de síndrome do pânico, porque é preciso um estudo para fazer isso. O que a gente pode afirmar é que o aumento da ansiedade como um todo está muito presente".

O que se aguarda com o fim da pandemia, segundo Bottura, é um aumento muito grande de estresse pós-traumático. "Como o organismo responde com a ansiedade para vários elementos, espera-se que aumente sim o quadro de ansiedade de modo geral, inclusive de síndrome do pânico", estima o especialista.

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Como tratar a síndrome do pânico

De acordo com Scocca, o tratamento profissional é indispensável para essa síndrome, principalmente pela união da COVID-19 com essa tendência à ansiedade. "A síndrome pode ser tratada com antidepressivos, neuroléticos, determinados anticonvulsivantes, calmantes. Nesse tratamento, os remédios são necessários por um tempo, mas devem ser associados com a psicoterapia, e terapia cognitivo-comportamental, em que aprende-se muito relaxamento", observa.

"Muitas vezes as pessoas resistem em procurar o médico porque acham que conseguem lidar com o problema, mas estão gastando muita energia apenas para suportar o problema. A nossa consciência não precisa gastar tanta energia par simplesmente funcionar. A minha orientação é: se está tendo crises de pânico com frequência, é importante procurar a ajudar de um profissional que possa entender o que está acontecendo e orientar um tratamento", conclui Bottura.