Jogos Mortais | Como a promissora saga de terror quase virou um fiasco?
Por Diandra Guedes • Editado por Durval Ramos |
Lançado em 2004, o primeiro filme da saga Jogos Mortais chegou aos cinemas com a promessa de trazer frescor ao gênero e entregar uma trama diferente de tudo aquilo que já tinha sido visto. Assinado por James Wan (Invocação do Mal), o longa não era focado em assombrações, demônios e exorcismos como seus concorrentes e trazia uma trama repleta de tarefas macabras que brincava com a angústia do público e chocava pela brutalidade.
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A novidade deu certo e caiu no gosto do povo, fazendo com que a audiência pedisse por mais histórias gore, mas não demorou muito para que os produtores e roteiristas se perdessem no meio do caminho e entregassem continuações fracas e desinteressantes. Com o tempo, aquele ar de frescor se perdeu e a saga passou a repetir os mesmos erros de outras franquias do passado. Pior: por muito pouco, ela quase não caiu na irrelevância e viu seu terror virar uma comédia involuntária. Mas, por que isso aconteceu?
Excesso de cenas gore
O termo gore no terror se refere a um subgênero que aposta em imagens extremamente violentas, com muito sangue, restos mortais e vísceras. Em Jogos Mortais, isso está presente assim como também a tortura física, que faz com que as vítimas de Jigsaw peçam perdão por seus pecados.
No primeiro filme, há uma cena chocante em que um dos sobreviventes decide serrar o próprio pé para conseguir escapar do jogo. Esse fato chamou a atenção do público que não esperava um desfecho tão macabro. Isso sem falar da própria reviravolta de que o vilão Jigsaw assistia a tudo aquilo de camarote como o cadáver no meio da sala.
Acontece que o sucesso dessa sequência horripilante fez os produtores entenderem que o público queria mais e mais torturas ao invés daquela história envolvente que recheava o terror. Assim, os próximos filmes pecaram pelo excesso, deixando a trama de lado e apresentando cenas muito grotescas e gratuitas.
Esvaziamento da história
Por falar em deixar a trama de lado, não dá para negar que com o passar do tempo e o surgimento de novos filmes de Jogos Mortais, a história principal foi sendo esvaziada de uma maneira bem perceptível. O foco central, que era a vingança de John Kramer àqueles que o fizeram mal, foi sendo deixado de lado para que novos vilões assumissem o posto quando ele morresse.
Acontece que a maioria dsses sucessores não tinha motivos fortes e atrativos suficientes que justificassem a vingança, e isso fez com que a história perdesse um pouco a força. Amanda, por exemplo, além de ser uma personagem sem graça, ainda descumpriu a única regra criada por John — a de permitir que os jogadores tivessem uma chance de se salvar das armadilhas.
Repetição da fórmula
Outro erro da franquia é que ela repete a mesma fórmula em todos os filmes, e isso faz com que o público já saiba o que vai encontrar na trama. Os filmes sempre começam com uma ou mais pessoas presas nas armadilhas mortais e ao longo do tempo vai mostrando por que elas foram capturadas.
É claro que, ao trazer brinquedos mortais diferentes, a saga instiga a curiosidade da audiência, mas ainda assim, depois de nove filmes (o décimo acaba de estrear nos cinemas), não há curiosidade que dê conta de ver sempre a mesma história.
A figura de John Kramer como vilão supremo
E, por falar em vilão, um dos grandes acertos de Jogos Mortais foi humanizá-lo para que o público conseguisse sentir repulsa e empatia dele ao mesmo tempo. A boa atuação de Tobin Bell (Belzebuth) também contribuiu para que John, que atende pelo codinome de Jigsaw, caísse nas graças do público.
Acontece que, como a vida do personagem já estava prestes a acabar, já que ele sofria com um câncer terminal, os criadores resolveram passar o bastão para outros personagens. Tal recurso até poderia ter sido uma boa saída para a franquia, mas John ficou tão marcado como o vilão que nenhuma outra pessoa conseguiu suprir sua falta.
Essa situação é tão verdadeira que Jogos Mortais Xsurgiu como uma prequência — ele se situa entre o primeiro e o segundo filme —, trazendo Tobin Bell novamente no papel principal.
Insistir depois de O Final
Como o próprio nome diz, Jogos Mortais: O Final foi criado para ser o último filme da saga, dando a esperança que ela ainda poderia terminar de maneira agradável. Ignorando esse detalhe, no entanto, Josh Stolberg e Pete Goldfinger decidiram fazer mais um filme em 2017: Jogos Mortais: Jigsaw, no qual mostra um grupo de policiais perseguindo o fantasma do vilão que já havia morrido há tempos.
Com apenas 32% de aprovação dos especialistas no Rotten Tomatoes, o filme não emplacou e não acrescentou à saga. O mesmo aconteceu com Espiral, o spin-off que, apesar de ter mais fôlego que os filmes citados anteriormente, não chegou a ser uma grande revolução da franquia.