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Crítica Kill Boksoon | Uma assassina perfeita, uma mãe falha e um filme incrível

Por| Editado por Jones Oliveira | 12 de Abril de 2023 às 21h00

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O cinema de ação oriental sempre foi sinônimo de qualidade, com ótimas lutas muito bem coreografadas e um ritmo acelerado que Hollywood custou (e ainda custa) a reproduzir. Por isso mesmo, a ideia de a Coreia do Sul trazer seu próprio John Wick parecia muito promissor. E Kill Boksoon é realmente uma grata surpresa no catálogo da Netflix, ainda que não da forma que muita gente poderia esperar.

A comparação com a franquia de Keanu Reeves é mais do que óbvia. A ideia de uma grande organização de assassinos que passa a caçar sua melhor agente faz com que as duas histórias partam quase da mesma premissa. No entanto, enquanto John Wick embalou para algo frenético e crescente, a trama coreana parte dessa proposta não para abusar da pancadaria e dos tiroteios, mas para explorar sua personagem.

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Essa é uma decisão curiosa. Ao focar nos dilemas de sua protagonista e na sua relação conturbada com a filha adolescente, Kill Boksoon quebra todas as expectativas sem maiores cerimônias. E isso está longe de ser um problema. Ainda que essa subversão possa ser um pouco frustrante para quem busca mais ação, o bom roteiro nos apresenta uma protagonista tão falha que se torna apaixonante.

Uma ótima assassina, uma pessoa horrível

Essa história do assassino que vê o trabalho invadir sua vida pessoal não é algo novo e já vimos aos montes no cinema de ação nas últimas três décadas. Só que Kill Boksoon faz algo diferente nessa linha não por transformar essa filha adolescente em alguém que deve ser protegida, mas no ponto de abertura para que conheçamos melhor essa protagonista tão errada.

Gil Bok-Soon (Jeon Do-yeon) é uma habilidosa assassina que trabalha para a maior agência de matadores de aluguel da Coreia. Sem nunca ter falhado em uma missão, ela é admirada por toda uma nova geração de profissionais e respeitada pelos veteranos — uma lenda viva e extremamente mortal.

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Só que, da mesma forma que ela é essa profissional exemplar que é consciente e orgulhosa de sua fama e eficiência, ela também é uma péssima mãe. Além de esconder a verdade de sua filha Jae Yeong (Si-ah Kim), ela não consegue se aproximar da garota e as duas têm uma relação bastante conturbada.

E é a partir desses conflitos constantes que a gente passa a conhecer mais de Bok-soon e sua relação com a maternidade. Embora siga a cartilha de tudo o que se espera de uma mãe ideal — uma escola cara, reuniões de pais na escola para se gabar dos filhos e viagens caras —, é evidente o quanto ela não nasceu para isso e como se sente culpada por se sentir assim.

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O resultado disso é que ela passa a se esconder no trabalho, fazendo da matança sua válvula de escape para a frustração doméstica. Só que ela logo percebe o preço a ser pago por isso quando vê que ela mal conhece sua família. Assim, para evitar que esse afastamento seja definitivo, decide abandonar a vida de assassina, o que a transforma em um alvo de sua antiga agência.

Essa descrição toda já deixa claro que o foco de Kill Boksoon está muito mais nos dilemas dessa protagonista do que na ação propriamente dita. É uma abordagem inesperada e muito bem-vinda, pois traz muito mais camadas para uma história que poderia ser muito superficial e esquecível, mas que ganha tons muito mais interessantes por isso.

Até porque o roteiro aproveita muito bem esse diferencial para entregar uma personagem que se torna apaixonante nas suas próprias falhas. Ainda que Bok-soon seja uma pessoa horrível em todos os aspectos possíveis, é divertido acompanhá-la se afundando nessa personalidade duvidosa a cada cena. Do prazer que sente ao ser bajulada por admiradores às mentiras que conta para a filha para manter essa imagem de perfeição que tanto almeja, ela é apaixonante de um jeito muito errado.

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Muito disso está na ótima atuação de Jeon Do-yeon. A atriz de Intensivão de Amor tem um carisma incrível ao se transformar nessa assassina orgulhosa e entrega em detalhes todas as camadas de sua personalidade duvidosa. São pequenos olhares e pequenos sorrisos que dizem muito sobre como ela pensa e se sente, o que faz com que nos sintamos muito mais próximos e até mesmo íntimos dessa protagonista.

Ação de menos

Ainda que Kill Boksoon seja muito mais um filme de personagem do que uma história de ação, não faria mal algum o longa ter algumas cenas a mais de pancadaria — até para dar mais ritmo à história. Com quase 2h20 de duração, o longa demora a engatar e a entregar a adrenalina prometida.

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A maior prova de que alguns minutos a mais de lutas seriam muito bem-vindas é que os momentos em que Bok-soon coloca a mão na massa são mesmo muito bons. A direção consegue criar sequências bem ágeis que exploram bem tanto ótimas coreografias de luta como uma edição ágil que torna tudo visualmente impactante. E, assim como no primeiro John Wick, cada disparo importa, o que dá peso e risco aos tiroteios.

O filme ainda explora um recurso interessante ao longo dos combates. Para mostrar como sua protagonista é excepcional, o longa brinca com a ideia de lutas imaginárias. São sequências que mostram possíveis desdobramentos para a luta, quase como se Bok-soon fosse capaz de prever o que viria a seguir — o que só reforça como ela é uma assassina bastante particular.

É uma solução criativa muito boa, mas que perde um pouco de impacto por causa do uso excessivo. O diretor e roteirista Sung-hyun Byun parece ter se empolgado com a ideia que teve e passa a repetir o recurso mais do que devia, o que faz com que algumas dessas aplicações sejam cansativas.

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Ainda assim, sua utilização na luta final é bem impressionante, da mesma forma que ver Bok-soon usar essa sua genialidade assassina na hora de ter uma conversa banal com a sua filha mostra bem como ela encara a maternidade.

Surpresa bem-vinda

A ideia de trazer uma versão coreana de John Wick já fazia de Kill Boksoon um filme interessante pelo potencial que a estética oriental poderia trazer às sequências de ação. Só que o filme da Netflix surpreende por ser algo muito maior do que isso. Trata-se de uma história de personagem, um estudo sobre alguém incorrigivelmente errado que, apesar de tudo, tem um carisma enorme que nos mantém presos a essa jornada descendente.

É claro que isso pode frustrar quem esperava algo mais voltado para a porradaria desenfreada e, de fato, algumas demonstrações a mais da habilidade dessa assassina não fariam mal algum. Mas ainda é uma quebra de expectativa que vem para somar e que mostra como o cinema de outras partes do mundo têm a oferecer mesmo em cima de bases tão conhecidas.

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Kill Boksoon está disponível na Netflix.