Crítica Abigail | Um terror que tenta inovar, mas se rende ao clichê
Por Diandra Guedes • Editado por Durval Ramos |
Tentando inovar no terror, Abigail, novo filme de Matt Bettinelli-Olpin (Pânico 6) chega aos cinemas tentando conquistar um público que já está saturado das histórias de sempre. Com Melissa Barrera, também da franquia Pânico, como uma das protagonistas, a trama une sequestro, vampiros e muito sangue jorrando na tela. Mas, ao contrário de toda a proposta inicial, entrega um desfecho clichê e cansativo.
No longa, um grupo de criminosos sequestra uma menina doce e apaixonada por balé. Ela é filha de um homem rico e poderoso e a ideia é que ele pague US$ 7 milhões para cada para ter a criança de volta. Mas não demora muito para o grupo — e o público — perceber que tudo isso é, na verdade, uma armadilha e a menina é uma vampira centenária em busca de sangue e vingança.
Logo de cara, o filme crava o seu primeiro acerto: surpreender o espectador. Isso porque, no primeiro momento, a trama parece que vai construir toda a tensão baseada no sequestro de uma criança inocente, com um enredo semelhante ao clássico O Quarto do Pânico, no qual a jovem Kristen Stewart (Crepúsculo) vive uma mocinha amedrontada.
Não demora muito, no entanto, para o público entender que o filme escolheu outro caminho, o do sobrenatural. Quando Abigail revela seus dentes afiados, a história deixa de ser um terror de mistério para apostar em uma ação cômica, com piadas devidamente encaixadas no texto, muita perseguição e mordidas no pescoço.
Esse lado engraçadinho do filme fica a cargo de Kevin Durand, que vive o brutamontes Peter. Apesar de talentoso, o ator se apaga em um papel estereotipado do homem forte e burro que tenta resolver tudo no soco. É desnecessário e o personagem poderia ter sido melhor escrito, assim como Dean (Angus Cloud), um viciado que fala arrastado e desenha pênis de canetinha na cara dos amigos. Sinceramente, era melhor nem ter colocado ele no filme.
Já quem assume o protagonismo é Frank (Dan Stevens), um ex-policial corrompido e, claro, Joey (Melissa Barrera), a final girl — aquela personagem feminina que sempre é a última sobrevivente do grupo em filmes de terror. Juntos, eles formam uma dupla excelente que tenta de tudo para matar, ou pelo menos conter, a vampira. Só que a trama começa a tropeçar em si mesma, escancarando vários erros grotescos.
Um deles é a forma como a vampira pode ser derrotada. Se alho, cruz e uma estaca não são capazes de matá-la, por que o sol a faz derreter? E se Abigail não morre nunca, por que os outros vampiros morrem? Indo além, por que Joey é a única que não se transforma em um deles após ser mordida? Embora Abigail claramente mexa nas regras clássicas do vampiro, em nenhum momento fica clara quais são as regras que o próprio filme quer seguir.
São falhas como essas que empobrecem o roteiro e fazem o longa perder qualquer resquício de credibilidade com o público. Outro ponto negativo é que a equipe de caracterização não se preocupou em dar uma nova cara para Barrera. Com exceção do penteado, a atriz está exatamente igual à sua personagem Tara Carpenter, de Pânico, e isso dificulta o público diferenciar uma da outra.
Final ridículo quase estraga dois terços de um filme ótimo
Apesar dessas falhas simples e totalmente evitáveis, Abigail é um filme interessante e até mesmo divertido para aqueles que amam terror. Os efeitos especiais são muito bem trabalhados e as garras dos vampiros fogem do lugar comum — aqueles caninos afiados —, lembrando as mostradas em Renfield, com Nicolas Cage.
O fato da trama surpreender o público, o difere de tantos outros longas comuns do gênero. Além disso, o elenco funciona bem em cena e a pequena Alisha Weir, que vive a vampira do título, consegue se destacar mesmo entre tantos adultos experientes, mas não tão brilhantes assim.
O ritmo ágil também ajuda a manter o espectador preso à cadeira do cinema, tentando descobrir quem será a próxima vítima da pequena vilã. O que realmente estraga o longa é o final risível e desnecessário. Sem entrar em spoiler, vale dizer que ele poderia ter terminado meia hora antes do fim, mas quis prolongar uma história que já não tinha mais o que entregar e se rendeu aos clichês banais das tramas de vampiros.