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Stonehenge | Novo estudo mostra incríveis propriedades acústicas do monumento

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Timothy Darvill et al.
Timothy Darvill et al.

Estudos acústicos feitos em uma réplica impressa em 3D do enigmático Stonehenge revelaram uma propriedade curiosa do monumento milenar —sua estrutura era capaz de amplificar os sons produzidos no interior e abafar os sons exteriores. Em outras palavras, seria o local perfeito para fazer discursos e comandar rituais secretos, impedindo pessoas de fora de ouvir, participar ou espionar o círculo interno.

Construída há cerca de 5 mil anos, a misteriosa estrutura é composta por um círculo de pedras, erigida na parte rural de Wiltshire, no sudoeste da Inglaterra. Há outros monumentos de pedra semelhantes, mas o mais famoso é, também, o mais sofisticado, o que talvez explique sua fama. Adiciona à curiosidade o fato de que não sabemos quem construiu o Stonehenge ou o porquê, embora a mais recente pesquisa já esteja trazendo algumas pistas.

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Segundo Trevor Cox, que capitaneia os esforços atuais, a acústica dos lugares influencia na forma como são utilizados. Entender os sons de um local pré-histórico é parte importante da arqueologia, o que o levou a aplicar tais métodos em Stonehenge. Teorias envolvendo a construção dizem que ela poderia ser um cemitério, local de cura ou mesmo um calendário celestial, dado que os espaços do anel de pedra externo se alinham exatamente com o solstício de verão e inverno.

Os sons de Stonehenge

Levando cerca de 10 anos, a pesquisa de Cox descobriu que o monumento era uma enorme câmara de eco, levando à crença de que teria sido usado como um local para rituais, nos quais apenas a elite dos povos da época participava. O pesquisador notou que a técnica de modelagem em escala acústica nunca havia sido aplicado em locais pré-históricos, o que o levou a considerar que o Stonehenge poderia ter alguma propriedade diferente.

Para descobrir isso, ele criou uma réplica escala 1:12, pequena o suficiente para que pudesse ser testada na câmara semianecoica da Universidade de Salford (sala quase à prova de som, com espuma geométrica em toda a superfície, menos no piso).

Cox conseguiu obter um modelo computadorizado do monumento pela English Heritage, ajudando a entender como era há 4 mil anos, época em que teria sido construído. Muitas pedras, atualmente, estão faltando ou caíram, com a disposição mudando bastante desde 2000 a.C. até hoje. Para recriar a aparência antiga, foram impressas 157 pedras em 3D, levando 6 meses. Após serem pintadas de cinza e dispostas apropriadamente, começaram os testes acústicos.

Como o tamanho é 1/12 do original, os sons tiveram de ter a frequência multiplicada por 12. Alto-falantes dispostos pela sala tocaram as frequências que os cientistas buscavam, e microfones captaram os resultados. Um modelo computacional criado por Cox simulou vozes e música, as distorcendo e simulando as propriedades da construção pré-histórica.

Acústica desde a pré-história

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Surpreendendo os pesquisadores, o Stonehenge — que não possui teto ou piso — ricocheteia o som entre os espaços das pedras, o mantendo dentro do círculo. A voz, assim como a música, teria soado mais poderosa e impactante no centro da estrutura. A direcionalidade da voz é um dos aspectos mais interessantes da pesquisa, já que em um morro com grama normal, sem pedras, uma pessoa de costas só teria as falas ouvidas ⅓ do tempo, em média.

O reflexo sonoro das pedras amplifica a voz em 4 decibéis, no entanto, o que aumenta o índice de falas entendidas para 100%. As cerimônias ou rituais realizados dentro do círculo seriam privadas, excluindo qualquer pessoa que estivesse do lado externo. Pesquisas já indicaram que o entorno do Stonehenge poderia ter sebes cultivadas (cercas de gramíneas ou árvores), também ocultando o local visualmente de qualquer um que não pudesse participar.

Cox compara a acústica da construção à diferença entre ficar de pé em um cinema vazio e em uma catedral — embora não pareça tão diferente para nós, acostumados a entrar e sair de locais fechados, uma pessoa do Neolítico Superior, sem familiaridade com a acústica de paredes, teria achado o efeito hipnotizante.

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Os primeiros resultados da pesquisa foram publicados no periódico científico Journal of Archaeological Science em 2020, mas Cox e sua equipe continuam estudando a acústica do local mais a fundo, explorando, por exemplo, como pessoas no círculo de pedras poderiam ter mudado a reverberação do som.

Recentemente, com modelos miniaturizados de até 100 pessoas dentro do mini Stonehenge, novas medições foram feitas. Como nosso corpo absorve sons, alterações na acústica durante cerimônias certamente aconteciam.

Também estão sendo verificadas as mudanças de acordo com a posição do ouvinte, já que isso muda caso estejamos de frente ou de lado para a origem do som. Refletir sons lateralmente melhora a qualidade da música em salões de concerto, por exemplo. Cerimônias humanas geralmente envolvem falas, cânticos ou outras formas de som, o que provavelmente teria sido importante para os povos que levantaram as pedras em Stonehenge, embora não saibamos quem foram.

Conclusões definitivas acerca desses misteriosos humanos pré-históricos são impossíveis, mas mais dicas sobre o que faziam no círculo de pedras serão publicadas após novas análises sobre os dados pela equipe de Cox, ainda este ano.

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Fonte: Journal of Archaeological Science, BBC