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Sinal mais antigo de canibalismo é visto em osso de 1,45 milhão de anos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 28 de Junho de 2023 às 07h45

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Jennifer Clark/Scientific Reports
Jennifer Clark/Scientific Reports

Paleoantropólogos identificaram ossos de ancestrais humanos com marcas de possível canibalismo de 1,45 milhão de anos atrás — o exemplar de tíbia traz marcas de corte, como outros ossos canibalizados, um comportamento já conhecido no passado. A novidade está na sua idade, já que, se confirmarmos que um hominínio misterioso realmente arrancou a carne de um parente para consumo, seria o exemplo mais antigo da prática já visto.

Encontrado no Quênia, o osso foi analisado pela equipe da cientista Briana Pobiner, do Museu de História Nacional da Instituição Smithsonian, incluindo exames em 3D e experimentos no osso para descobrir o que possivelmente teria causado os cortes interpretados como raspagem para remoção de carne a ser consumida. Segundo os achados, as marcas teriam sido feitas com ferramentas de pedra.

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Um estudo publicado em 2022 mostrou que humanos e nossos parentes evolucionários mais próximos, como os neandertais, ocuparam uma posição muito alta na cadeia alimentar nos últimos 2 milhões de anos, mas sabemos que, mesmo assim, alguns animais ainda conseguiam predar hominínios, como os grandes felinos do passado — com menos frequência do que você imagina, no entanto. É isso que levou os pesquisadores a estudar ossos fossilizados como esse, em busca de sinais de predadores.

Antropofagia na pré-história

No osso de 1,45 milhão de anos — ou seja, início do Pleistoceno — de Koobi Fora, no Quênia, algo bem diferente de um carnívoro selvagem foi percebido. Os cortes deliberados, no lugar de marcas de dentes de algum tigre-dentes-de-sabre, indicam que um hominínio teria feito as marcas, e isso é mais comum do que parece ao longo da história dessa linhagem, que inclui os gêneros Homo, como nós, e Pan, como os chimpanzés, e seus ancestrais respectivos.

Muitas vezes, o propósito de manipular o osso dessa maneira é ritual, como no processo de enterrar os mortos. Também era bastante comum que humanos entalhassem ossos de outros humanos, os transformando em objetos decorativos como pentes, pingentes e outras joias. Em alguns casos, no entanto, os cortes nos ossos foram feitos para o objetivo de antropofagia, muito embora o consumo não fosse necessariamente da mesma espécie humana — o que, a rigor, não configuraria canibalismo.

É difícil provar antropofagia antiga. Com a ausência de outras evidências, é fácil interpretar mal os objetivos da raspagem do osso, mas a ciência tem algumas provas irrefutáveis de canibalismo no Pleistoceno. Para examinar o osso do Quênia, os pesquisadores criaram um molde a partir de material usado na moldagem dental, enviando o resultado ao paleoantropólogo Michael Pante, da Universidade Estadual do Colorado.

Pante escaneou o molde e o comparou a uma base de dados de 898 marcas de dentes, esmagamento e corte criadas ao longo do tempo em experimentos controlados, com o objetivo de ter uma base de comparação em momentos como esse. Os resultados mostraram que 9 de 11 das marcas no osso eram, sem dúvida, cortes, mais especificamente, feitos por ferramentas de pedra. As outras marcas eram de dente, como as feitas por um leão.

Não se sabe quais marcas vieram primeiro, mas os cortes foram feitos da mesma maneira que se remove a carne do osso, como na preparação para consumo. Todas foram feitas no local onde o músculo da panturrilha se ligava, o lugar perfeito para cortar caso o objetivo fosse remover carne de qualidade do osso. É bem parecido com o que se verifica nos fósseis de animais consumidos, o que também indica um consumo nutricional, e não ritual.

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Não há como saber a espécie de hominínio que consumiu a carne e nem a que foi consumida — quando o osso foi descrito pela ciência pela primeira vez, no início dos anos 1970, pensava-se se tratar de um Australopithecus boisei. Nos anos 1990, a definição mudou para Homo erectus, mas hoje os arqueólogos e antropólogos dizem que simplesmente não há dados o suficiente para identificar a espécie.

Como é mais difícil ainda saber o autor das marcas, o canibalismo não é garantido, mas o mais próximo que podemos definir é que houve antropofagia, ou seja, no mínimo um hominínio se alimentou de outro.

O outro competidor para o posto de antropofagia em fóssil mais antiga já registrada é um crânio datado entre 1,5 milhão e 2,6 milhões de anos atrás com marcas interpretadas como sendo feitas por ferramentas de pedra, mas esse achado também é questionado. Para descobrir mais, teremos de revisitar esse fóssil e muitos outros guardados em museus e depósitos pelo mundo.

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Fonte: Scientific Reports, Journal of Human Evolution via Science Alert