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Misteriosos tubarões das profundezas vivem centenas de anos — agora sabemos como

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Hemming1952/CC-BY-S.A-4.0
Hemming1952/CC-BY-S.A-4.0

Um dos animais mais misteriosos dos mares nas últimas décadas foi o tubarão-da-groenlândia, uma espécie lenta e muito, muito longeva de tubarão que nada nos oceanos Atlântico Norte e Ártico. Eles são os únicos que aguentam a temperatura congelante da região o ano todo, com alguns estando por aí desde a época em que os países das Américas eram colônias.

Como o metabolismo da espécie — Somniosus microcephalus — é bastante lento, já suspeitava-se de sua longevidade, mas não se sabia quantos anos esses tubarões viviam. Uma pesquisa de 2016, no entanto, conseguiu descobrir que os animais são os vertebrados que mais vivem no mundo, chegando a cerca de 400 anos: estimativas vão entre 272 e 500 anos. Mas… como eles fazem isso?

Como os tubarões-da-groenlândia vivem tanto

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Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Leibniz do Envelhecimento e publicada na revista científica BioRxiv, ainda sem revisão por pares, cientistas sequenciaram 92% do DNA do grande peixe, mostrando como seu corpo funciona e mantém o organismo sendo o mais velho vertebrado do mundo. Para isso, tiveram permissão para eutanasiar alguns espécimes para coleta de amostras.

Tubarões-da-groenlândia crescem muito lentamente, menos de 1 cm por ano, chegando a 6 metros de comprimento, mas não atingem a maturidade sexual antes dos 100 anos. Seu genoma é incrivelmente longo, o dobro de um humano e maior do que todos os tubarões sequenciados até hoje. Uma das habilidades chave, que acredita-se ajudar muito na longevidade, é a capacidade de consertar esse DNA.

O conserto de DNA é uma habilidade vista em muitas das espécies de vida longa, como o rato-toupeira-pelado, o roedor mais longevo, que vive até 30 anos, e algumas tartarugas, que passam dos 100 anos. Mais de 70% dos genes dos tubarões-da-groenlândia são “saltadores”, ou transposons, que conseguem se mover pela sequência de DNA ao se duplicarem e, algumas vezes, sofrerem mutações.

Normalmente, duplicações de genes assim são maléficas, sendo até chamadas de “parasitas genéticos” por conta das doenças que podem causar, incluindo câncer. Aparentemente, nos tubarões, os genes que pulam são justamente os que consertam DNA, então os efeitos do pulo são na verdade benéficos, mantendo os genes saudáveis e conferindo a longa vida que lhes dá fama.

Esse estudo pode, no final das contas, ajudar os seres humanos a terem uma vida mais longa, e especialmente mais saudável. É difícil extrapolar a genética de uma espécie para a outra, mas alguns cientistas já experimentam colocar genes de ratos-toupeiras-pelados em camundongos, por exemplo, fazendo-os viverem mais. O difícil é saber como poderíamos fazer nosso DNA se comportar como o do tubarão.

Cada espécie lida com a velhice de uma maneira diferente, e talvez seja mais útil focarmos em como os tubarões evitam o câncer e outras técnicas de reparo de DNA antes de procurar desenvolver essa habilidade. Os pesquisadores esperam que outras equipes estudem o genoma da espécie para pensar em maneiras de aplicar o segredo da vida longa em nós, humanos — se é que isso será possível.

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Fonte: BioRxiv