Maior paleotoca do BR, feita por preguiças-gigantes, terá tour virtual
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Talvez você já saiba o que é uma paleotoca, mas provavelmente nunca visitou uma, não é mesmo? Pois graças a um mapeamento do Serviço Geológico do Brasil (SGB), você poderá visitar a maior paleotoca do país virtualmente em breve. Essas cavernas foram artificialmente criadas por preguiças gigantes há mais de 10 mil anos, ficando em um distrito de Porto Velho, em Rondônia, a cerca de 300 km de sua zona urbanizada.
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Descoberta há mais de dez anos pelo geólogo Amilcar Adamy, a paleotoca tem pelo menos 600 m de extensão, entre túneis e bifurcações, mas escaneamentos mais modernos podem revelar ainda mais terreno inexplorado nas profundezas do local. Em alguns lugares, o teto chega a mais de três metros de altura, indicando a presença de animais consideravelmente grandes.
Descoberta e história da paleotoca
Essa paleotoca foi a primeira a ser descoberta na região amazônica e é a maior do país, ficando dentro de uma propriedade privada em Vista Alegre do Abuña, distrito de Porto Velho. Adamy, o geólogo responsável, fez a primeira visita com uma equipe em 2010, mas o desconhecimento e falta de equipamentos impediu uma exploração profunda. A partir de 2016, com mais preparo, foi possível percorrer os mais de 600 m da estrutura, que, inicialmente, se pensava ter sido feita ou habitada por garimpeiros ou paleoíndios.
Com a contribuição de pesquisadores, a SGB descobriu que o sítio arqueológico se tratava de uma paleotoca, que poderia ter sido construída por preguiças-gigantes ou gliptodontes, enormes tatus ancestrais dos animais atuais de mesmo nome. Dada a altura considerável das cavernas e a presença de fósseis das preguiças-gigantes no rio Madeira, no mesmo estado, conclui-se que elas foram as responsáveis.
Essas criaturas chegavam a seis metros de comprimento e mais de cinco toneladas, e foram extintas no final do Pleistoceno, há 10 mil anos, durante a última Era do Gelo.
O que é uma paleotoca?
Para um local ser uma paleotoca, além de ser escavado por um animal antigo (paleofauna), ele tem de possuir um sistema complexo de túneis, bifurcações, formato semicircular abobadado e marcas de garras. Na instância de Porto Velho, é preciso entrar agachado, mas o local se alarga dentro de alguns metros. A quantidade de túneis era para que fosse possível que as preguiças-terrícolas saíssem por um local diferente do que entraram, não precisando alargar demais as passagens.
Mapeamento e tour virtual da paleotoca
Para mapear completamente as antigas cavernas amazônicas, o SGB trouxe dois engenheiros cartógrafos, que se puseram a examinar tudo com lasers de escaneamento terrestre. A tecnologia usa uma nuvem de pontos muito próximos entre si, tomando nota de todas as superfícies com precisão milimétrica.
O ambiente é, assim, mapeado em 3D e em tempo real. Lasers aéreos acoplados em drones também farão parte do esforço, ajudando na delimitação cartográfica da região. Com filtros, a vegetação pode ser “retirada” virtualmente, descobrindo mais sobre o solo sem precisar derrubar qualquer planta.
Começando em agosto desde ano, os projetos cartográficos devem ser finalizados entre 30 e 40 dias, mas a geração do passeio virtual em realidade aumentada vai demorar um pouco mais — o foco inicial é catalogar tudo que podemos saber sobre a paleotoca para fins científicos. Depois, o esforço deve se voltar à educação, permitindo conhecer a localidade sem ter de ir até Rondônia, explorando tudo pelo computador.