Leito fóssil de ictiossauros, gigantes marinhos preservados, era um berçário
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Um conhecido leito fóssil nos Estados Unidos, com dezenas de ictiossauros preservados, revelou ter sido um antigo berçário da espécie, abrigando gerações por centenas de milhares de anos. O sítio fossilífero fica no Parque Estadual Berlin-Ichthyosaur, do estado de Nevada, e abriga os restos de diversos Shonisaurus popularis, ictiossauros de até 15 metros de comprimento do Triássico superior.
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Os grandes lagartos marinhos migravam de maneira parecida com a das baleias atuais, 200 milhões de anos depois, e esse comportamento ajudou a explicar o achado de 37 S. popularis no que um dia foi as profundezas do mar, no leito fóssil americano. Até agora, não havia uma hipótese que abarcasse todos os restos mortais acumulados na região, como encalhes em massa ou envenenamento por algas nocivas — simplesmente não havia evidências.
Mistério de milhões de anos
Assim, uma equipe de cientistas da Universidade Vanderbilt, do Museu de História Natural de Utah e da Instituição Smithsonian buscou unir técnicas de digitalização 3D e geoquímica do local, estudando restos já guardados em museus, fotografias, notas de arquivo e de campo e novos achados para resolver o mistério. O próprio parque abrigava fósseis de 7 espécimes em exposição em uma rocha na coleção Pedreira 2 (Quarry 2), que morreram no mesmo período.
A modelagem 3D e codificação por cores ajudou a visualizar a disposição dos animais na rocha, e testes geoquímicos no mineral excluíram a hipótese de cataclismos, como atividade vulcânica, que seria denunciada pela presença de mercúrio, ou falta de oxigênio nas águas, que seria mostrada por aumentos expressivos de matéria orgânica nos sedimentos.
Como os ictiossauros estavam nas profundezas do antigo mar e não na costa, um encalhamento em massa também teve de ser descartado. A quase ausência de restos de peixes ou outros animais com os quais os S. popularis se alimentavam também denunciava isso. Notou-se, então, via comparações dos restos, que havia alguns espécimes recém-nascidos ou em estágio embrionário, sem animais juvenis.
A nova possibilidade se assentou: o local seria um berçário. Centenas de milhares, ou até milhões de anos, separavam os diversos leitos fósseis de Berlin-Ichthyosaur, mas eles abrigavam a mesma espécie com o mesmo padrão demográfico, ainda que separada pelas eras geológicas. Ficou claro que gerações e mais gerações de ictiossauros vinham para o local para dar à luz, e alguns eventualmente morriam e paravam no fundo do mar, onde acabaram ficando preservados.
Agora que a ideia se estabeleceu, a equipe busca investigar mais sítios onde há ictiossauros preservados, especialmente na América do Norte, mas não se limitando apenas aos S. popularis. Encontrar leitos reprodutivos e localidades com maior diversidade de espécies que poderiam ter sido presas dos grandes répteis estão entre as expectativas dos pesquisadores.
Fonte: Current Biology