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Latrinas de Jerusalém trazem evidência mais antiga de parasita da disenteria

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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F. Vukosavović/Mitchell et al./Parasitology
F. Vukosavović/Mitchell et al./Parasitology

A evidência mais antiga de um parasita estomacal causador da disenteria foi encontrada em uma latrina da era bíblica em Jerusalém. O antigo culpado é o protozoário Giardia duodenalis, que causa uma condição chamada giardíase ou diarreia do viajante, podendo evoluir para a disenteria — condição que causa diarreia sangrenta e severa e pode levar a cólicas estomacais e febre. As fezes humanas analisadas têm mais de 2.500 anos.

Os vasos sanitários milenares estão em dois grandes sítios arqueológicos abrigando possíveis residências de elite, construídas com blocos de pedra dos séculos VII a.C. a VI a.C. Nos banheiros, os blocos apresentam uma superfície curvada para que o usuário se sente, além de um grande buraco central para a defecação e um menor possivelmente para a urina, tudo acima de uma fossa. Como estavam na localização original, foi possível identificar os microorganismos das fezes ancestrais.

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Análises anteriores haviam mostrado a presença de ovos de diversos tipos de vermes, de nematódeos como Trichuris a platelmintos como tênias, todos parasitas intestinais. Isso sugere que as práticas sanitárias da Idade do Ferro eram precárias. Embora os ovos tenham uma robustez que facilita a detecção, é mais difícil detectar os cistos produzidos pelos protozoários, mais frágeis e de preservação complicada.

Identificando protozoários bíblicos

A investigação científica foi realizada por uma equipe conjunta de pesquisadores de universidades britânicas e israelenses, bem como Autoridade em Antiguidades de Israel. A técnica utilizada foi a ELISA — sigla em inglês para análise de imunoabsorção enzimática —, que consegue detectar antígenos, ou seja, substâncias que ativam a resposta imune em seres humanos, produzidos por diversos organismos.

Uma amostra foi retirada do fosso da Casa de Ahiel, no exterior das muralhas de Jerusalém, e três da fossa de Armon ha-Natziv, a 1,6 km ao sul da cidade. Os kits ELISA conseguiram detectar, nas amostras de fezes, o antígeno da proteína que forma a barreira do cisto de G. duodenalis. Esse parasita, em si, tem um formato de pera e contamina água ou alimentos a partir das fezes de humanos ou animais infectados.

O microorganismo afeta a camada protetora das paredes intestinais nos seres humanos, dando acesso aos nutrientes do órgão. Com antibióticos, a recuperação é relativamente fácil, mas caso a camada intestinal seja rompida, bactérias e outros organismos prejudiciais podem aproveitar a chance e invadir, podendo provocar doenças sérias.

A evidência do protozoário nas latrinas da Idade do Ferro é a mais antiga já detectada na história, sugerindo, de acordo com os cientistas, uma longa presença do patógeno nas populações do Sudoeste Asiático. Não é possível, no entanto, descobrir o número de pessoas infectadas com base nas amostras das latrinas comunais.

Ainda não sabemos há quanto tempo o G. duodenalis vem causando disenteria em seres humanos, mas relatos médicos da Mesopotâmia — uma das sociedades complexas mais antigas do mundo — já citam problemas com diarreia entre 3.000 e 4.000 anos atrás.

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O sintoma é comum em locais apinhados de seres humanos e sem estruturas sanitárias modernas, o que leva a ciência a crer que surtos de disenteria teriam sido comuns no Sudoeste Asiático desde que os primeiros assentamentos permanentes e domesticação de plantas e animais se estabeleceram.

Análises mais profundas ainda serão necessárias para determinar a origem dos parasitas e quando se espalharam pela região, provavelmente com migrações, comércio e incursões militares.

Fonte:  BAS Library, International Journal of Paleopathology, Parasitology