Fóssil de 45 mil anos pertenceu a espécie humana desconhecida
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Estudos de uma caverna habitada por neandertais, na França, revelaram um osso de quadril pertencente a um bebê humano moderno — características do fóssil, no entanto, sugerem que ele possa representar uma linhagem primitiva desconhecida de Homo sapiens. O local em questão é a Grotte du Renne (Gruta das Renas, em tradução livre), um dos mais curiosos sítios paleolíticos do continente, já que foi habitado durante a transição entre neandertais e H. sapiens.
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A Grotte du Renne já revelou uma grande quantidade de ferramentas de pedra, caracterizadas pelo complexo tecnológico e cultural Chatelperronense, geralmente associado aos neandertais e caracterizado por ossos trabalhados e lâminas curvas, mas que surgiu nesse período de transição entre espécies. Isso faz parte, inclusive, do debate — teriam os H. neanderthalensis criado essas tecnologias de pedra ou apenas adaptado dos humanos? Seria uma cultura conjunta?
Até hoje, só foram encontrados restos mortais de neandertais na camada Chatelperronense da Grotte du Renne, mas fósseis de Homo sapiens também já foram vistos em cavernas associadas a essa cultura antiga. O novo osso pode ajudar a resolver o mistério — ou, talvez, a criar mais controvérsias.
Nova espécie de humano?
O osso da pelve encontrado na caverna, com aproximadamente 45 mil anos, foi comparado aos restos de quadril de 2 crianças comprovadamente neandertais e a 32 ossos de humanos recentes, vindos de natimortos. Isso revelou um formato significativamente diferente do ílio de neandertais, muito mais parecido com o de humanos modernos, como nós.
A questão é que o fóssil também não encaixa perfeitamente nas variações esperadas de bebês Homo sapiens, tendo, nas palavras dos cientistas, “uma espinha ilíaca póstero-superior orientada mais lateralmente”. Acredita-se que essa diferença acontece porque o osso pertencia a uma linhagem primitiva dos humanos modernos, com uma morfologia ligeiramente diferente da nossa.
Tal linhagem nunca teria sido documentada antes, e os pesquisadores afirmam que o bebê provavelmente foi um membro dos humanos modernos que coexistiu com os últimos neandertais, durante meados e final do paleolítico, entre 41 mil e 45 mil anos atrás.
Além disso, a presença de humanos antigos em Grotte du Renne sugere que as espécies compartilharam dos mesmos espaços durante o surgimento da indústria Chatelperronense, o que levanta a possibilidade de que as ferramentas teriam sido criadas em conjunto — seria, talvez, a mais antiga transferência de tecnologia do mundo.
O desenvolvimento da tecnologia Chatelperronense pode, em conclusão, ser obra de uma difusão cultural ou aculturação, acompanhada de uma miscigenação populacional entre humanos e neandertais. É possível, então, que os neandertais tenham atualizado sua tecnologia após observar os “vizinhos” Homo sapiens, gerando uma indústria híbrida que foi utilizada para dominar partes da Europa até que o último neandertal desaparecesse.
Fonte: Scientific Reports