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Este pente-do-mar pode ter sido o primeiro animal do planeta

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Alexander Semenov/CC-BY-4.0
Alexander Semenov/CC-BY-4.0

Um estudo de pesquisadores da Universidade da Califórnia pode ter descoberto a resposta para uma das perguntas mais antigas e curiosas da ciência: qual foi o primeiro animal multicelular do planeta? Entre os competidores, estavam as esponjas (Porifera), seres cuja anatomia é bastante simples, não tendo sequer um sistema nervoso, mas a genética destas criaturas e de seus parentes evolucionários mudou as percepções da ciência.

Os novos candidatos a primeira criatura multicelular do mundo são os ctenóforos (Ctenophora), também chamados de água-viva-de-pente ou pente-do-mar, parentes muito distantes das águas-vivas, na verdade, embora tenham um sistema nervoso mais complexo e desenvolvido do que elas. É mais um lembrete de que a evolução não é linear, ficando longe de ser uma marcha rumo à maior complexidade.

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Genes e dedução

O ancestral comum mais recente de todos os animais provavelmente viveu entre 600 e 700 milhões de anos atrás. É difícil saber como eles foram, já que eram criaturas de tecidos moles, então não deixaram registros fósseis para que possamos estudá-los. Comparar animais vivos, no entanto, especialmente na questão genética pode nos dar muitas informações acerca dos nossos ascendentes mais antigos.

Em pesquisas anteriores, os resultados haviam sido inconclusivos, com evidências tanto para o lado das esponjas quanto para o dos pentes-do-mar. Isso mudou quando uma equipe da Universidade de Viena comparou os arranjos de sequências incrivelmente conservadas das moléculas genéticas (cromossomos) de ambos os animais, mostrando de forma mais clara a ordem de eventos evolucionários que levaram ao seu desenvolvimento.

Os pesquisadores da UC, então, compararam as novas sequências genômicas dos pentes-do-mar, de duas esponjas marinhas dois animais unicelulares (coanoflagelados e amebas) e de um micróbio parasitário dos peixes aparentado com todas estas espécies e fungos (Ichthyosporea) com os genomas de outros animais bem mais modernos.

Foram encontradas sequências genéticas no mesmo cromossomo por todas as espécies animais, revelando um padrão bastante evidente. Esponjas e animais mais modernos compartilham dos mesmos traços vindos de um tipo raro de fusão e rearranjo cromossômico.

Nos pentes-do-mar, no entanto, esses traços não estão presentes, e seu genoma está arranjado de forma mais parecida com a de seres unicelulares. Em outras palavras, os ctenóforos são mais semelhantes aos “não-animais”, e a explicação mais simples é que eles se ramificaram da árvore da vida antes dos rearranjos cromossômicos acontecerem.

O que faz um animal

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Com os resultados, foi possível concluir que os pentes-do-mar evoluíram primeiro, tornando- se os animais pioneiros do planeta, seguidos então pelas esponjas. O rearranjo cromossômico característicos destas últimas foi passado para a frente, para os seus descendentes, chegando até os animais de hoje. São grupos pequenos de genes e bilhões de anos de divergências evolutivas entre os animais e os não-animais, então encontrar as pistas genômicas não foi fácil para os cientistas.

Pode-se dizer, agora, que os ctenóforos surgiram primeiro como seres multicelulares, embora ainda exista uma possibilidade — a de que tanto as esponjas quanto os animais não-ctenóforos passaram pelos mesmo rearranjos genéticos convergentes, o que é extremamente improvável. Com a técnica utilizada pelos pesquisadores, mais mistérios evolucionários poderão ser desvendados no futuro.

Fonte: Nature