Esta mulher sobreviveu a duas cirurgias cerebrais na Idade do Bronze
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Arqueólogos encontraram os restos mortais de uma mulher que passou por duas cirurgias cranianas, há milhares de anos, e sobreviveu para contar a história, mesmo que o procedimento tenha sido feito na Idade do Cobre. O achado foi na Espanha, em um grande cemitério antigo chamado Camino del Molino, no sul do país, na cidade de Caravaca de la Cruz.
- Crânio de 5 mil anos exibe indícios da primeira cirurgia de ouvido da história
- Hospitais suíços ainda usam oração medieval para estancar sangramentos
A antiga paciente tinha entre 35 e 45 anos quando faleceu, e faz parte de 1.348 pessoas enterradas no sítio funerário, usado entre os anos de 2566 e 2239 a.C. Ao contrário dos outros mortos, seu crânio mostra sinais de trepanação, método que envolve a raspagem ou perfuração do crânio para expor a dura-máter, a meninge (ou camada) mais exterior do tecido que envolve o cérebro e medula, uma antiga forma de tratamento medicinal.
Sobrevivendo à cirurgia cerebral milenar
Os buracos na cabeça da curiosa sobrevivente se sobrepunham, tendo 53 x 31 mm e 32 x 12 mm, respectivamente. Há várias razões para os cientistas determinarem não serem resultado de ferimentos, e sim feitos de propósito: primeiramente, não há fraturas irradiando dos buracos, e cada um possui bordas bem definidas. Eles também são “oblíquos”, segundo contou a autora principal do estudo, Sonia Díaz-Navarro, ao site Live Science, e muito distintos, feitos com técnica de raspagem, e não perfuração.
O objeto usado na cirurgia teria de ser áspero e lítico (ou seja, uma pedra), sendo pressionado contra a caixa craniana, com o objetivo de causar uma erosão nas bordas para criar o buraco, segundo Díaz-Navarro. Para isso, a mulher provavelmente foi fortemente imobilizada por outros humanos ou tratada com uma substância psicoativa que aliviaria a dor ou a deixaria inconsciente.
Ossos com sinais de cura no crânio da mulher mostram que ela sobreviveu às duas cirurgias, vivendo por diversos meses após o segundo procedimento. Documentar cirurgias como essas é bastante raro, especialmente nessa parte do cérebro, a região temporal. Na península ibérica, trepanações nas partes frontal e parietal (no topo) eram mais comuns. Como o local possui muitos músculos e vasos sanguíneos, ele se torna vulnerável e pode sangrar muito durante o procedimento, dificultando a cirurgia.
Trepanações pré-históricas de raspagem eram muito mais bem-sucedidas e seguras do que as perfurantes, já que os cirurgiões antigos geralmente não danificavam as meninges ou o cérebro, diminuindo o risco de infecções pós-cirúrgicas. Instrumentos estéreis e plantas com antibióticos naturais também podiam ajudar a evitar possíveis infecções.
Não se sabe o motivo da cirurgia na mulher do sítio arqueológico espanhol, mas é possível que fosse algum trauma no crânio cuja evidência sumiu após o procedimento, já que foi retirada a camada óssea superior. Fragmentos de ossos quebrados também podem ter sido removidos durante a cirurgia. A paciente ainda tinha fraturas curadas nas costelas e cáries nos dentes, mas isso não parece ter relação com a trepanação.
Fonte: International Journal of Paleopathology com informações de Live Science