Deuses da astronomia | Como os egípcios interpretavam os astros
Por Nathan Vieira |
Na antiguidade, tudo era justificado com base nos deuses: desde os fenômenos da natureza até as emoções. Desenvolvemos a série "Deuses da Astronomia" justamente para entender de que maneira os astros eram justificados pelas antigas civilizações e, nesta terceira parte do especial, você descobre como os astros eram representados na mitologia egípcia.
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De acordo com o filósofo e teólogo Valdecir Ferreira, professor de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), as divindades surgem da necessidade de encontrar significado e que estes fossem convincentes, diante daquilo que não havia respostas
"Podemos dizer que foi uma primeira forma de conhecimento mais sistemática, mesmo que não científica. Era interessante como as estações do ano eram determinadas pelos deuses. O mesmo se dizia sobre os trovões, as chuvas, as secas, a beleza na natureza e tantas outras situações referentes as obras existentes. No tocante ao ser humano ou àquilo que nele se esbarra, é importante recordar que a paixão, o medo, a coragem também eram atribuídos aos deuses", explica o professor. "Guerras, pragas (infestações), males (doenças) e até mesmo as classificações sociais eram igualmente direcionadas, como forma de pretextar", acrescenta.
O especialista conta, ainda, que os egípcios foram promissores nas pesquisas da astronomia. "Assim como os gregos tiveram a influência dos egípcios, estes tiveram influência dos mesopotâmicos. A astronomia egípcia estava muito ligada com a economia".
Valdecir ressalta que a economia estava condicionada às enchentes do Rio Nilo. Portanto, a astronomia inicial no Egito era ligada especialmente ao sol e as influências com os ventos e as chuvas. "Contudo, não podemos diminuir o valor desta astronomia, visto que sua maneira de desbravar tal conhecimento, influenciada pelos conhecimentos dos mesopotâmicos, fez com que algumas pirâmides fossem construídas em alinhamento com as estrelas. Novamente fazendo aquela referência ao ser humano, ao contemplar o céu, tem uma vontade de infinito (e não nos esqueçamos que as pirâmides eram túmulos para os Faraós)", declara.
Céu
A criação do mundo para os egípcios é variante dependendo da cidade e do deus cultuado nesta cidade. Na cidade de Heliópolis, a criação é protagonizada pela deusa do céu, Nut, uma primordial (que antecede outras gerações). De acordo com esse mito, Nut é filha de Shu, deus do ar seco, com Téfnis, deusa da umidade, e seria irmã e esposa de Geb, o deus da terra.
Alguns estudiosos sustentam a ideia de que a deusa Nut simbolizava a faixa da Via Láctea. Normalmente, Nut é representada sob forma humana, de perfil e nua, como se arqueasse seu corpo sobre o deus da terra, tocando o horizonte com os braços e pernas estendidos. Em outras ocasiões, a deusa é representada apoiada em seu pai, Shu. Ela também foi representada de frente no interior de sarcófagos, geralmente engolindo ou dando à luz o sol.
No mito, o riso de Nut representa o trovão e o choro representa a chuva, enquanto o corpo simboliza a abóbada celeste. A ideia, basicamente, é que Nut se estendia sobre a Terra para protegê-la; seus membros, que tocavam o solo, simbolizavam os quatro pontos cardeais. A divindade em questão também era tida como a mãe dos corpos celestes. Os egípcios acreditavam que ao entardecer, o Sol se punha em sua boca, para que, à noite, viajasse através de seu corpo e que, pela manhã, ele voltasse a brilhar em seu ventre, no Oriente.
No entanto, o céu também é personificado pelo deus Hórus, que é representado com uma cabeça de falcão e uma coroa branca, considerando que os olhos representavam o Sol e a Lua. Durante uma batalha contra Set (deus da desordem), Hórus feriu o olho esquerdo, o da Lua. Este ferimento é uma explicação dos egípcios para as fases da lua. Após derrotar Set, tornou-se o rei dos vivos no Egito.
Sol
Rá é conhecido como o deus do sol e uma das mais importantes divindades egípcias antigas. Ele também foi associado à construção de pirâmides e à ressurreição dos faraós. Esse deus simbolicamente nascia todas as manhãs com o nascer do sol, e morria com cada pôr do Sol, iniciando sua jornada para o submundo. Assim como no caso de Nut, o principal centro de seu culto era a cidade de Heliópolis, onde, na verdade, era identificado como Atum ou como Atum-Ra. Segundo o mito da cidade em questão, Atum seria o avô de Nut, pai de Shu e Téfnis.
Rá era frequentemente associado ao Hórus e, assim como ele, era geralmente retratado como um homem com cabeça de falcão. No entanto, em vez de uma coroa branca e vermelha, Rá possuía um disco solar em sua cabeça. Em vários mitos, Rá é o deus supremo do egito que mantém o Caos (a serpente Apófis, que é vista como a destruidora dos mundos) contido. A relação entre Rá e Apófis pode ser uma representação para o eclipse: a serpente persegue Rá e eles lutam enquanto o deus arrasta o Sol através do céu, iluminando o mundo. Então, quando, o monstro quase consegue vencer o a divindade solar, acaba gerando o que conhecemos como eclipse.
Outra divindade egípcia relacionada com o Sol é Bastet, filha de Rá. Basicamente, em contrapartida ao mito de Apófis, era ela que tinha o poder sobre os eclipses solares. Era representada como uma mulher com cabeça de gato, e seu centro de culto estava na cidade de Bubástis, na região oriental do Delta do Nilo. Bastet também era tida como uma deusa da fertilidade, além de protetora das mulheres grávidas. Já a guerreira Sekhmet, relacionada com a vingança, também é uma filha de Rá, e por isso é identificava como uma deusa solar.
Lua
Por sua vez, a Lua também tinha a sua representação na mitologia egípcia. No caso, uma delas era Iá, que era representado com um disco solar e uma Lua crescente sobre sua cabeça. Segundo o mito, ele poderia também se manifestar como um pássaro ou falcão.
No entanto, Iá não é a única divindade associada ao satélite natural da Terra. O deus Quespisiquis também cumpre esse papel, exceto que representa também a passagem no tempo, e está mais associado à movimentação da Lua. Alguns determinados mitos egípcios atribuem a Quespisquis um fundamental na criação de nova vida em todos os seres vivos.
Esse último deus também pode ser representado com uma cabeça de falcão, com um enfeite em sua cabeça trazendo um disco solar e uma Lua crescente. Vale ressaltar que, além de deus da Lua, também é tido como um curandeiro.
Constelações
Assim como a mitologia grega, que trazia justificativas para as constelações, a egípcia também faz. É o caso, por exemplo, de Sopdet, considerada por muitos estudiosos na área como Sirius. O significado de seu nome, em egípcio, é justamente uma referência ao brilho de Sirius. Sopdet costuma ser representada como uma mulher com uma estrela de cinco pontas sobre a cabeça. Sopdet também foi considerada como uma deusa do solo fértil, responsável por anunciar as inundações do Nilo, protetora da agricultura, do tempo. Vale apontar que Sopdet é a esposa de Sah, uma representação da constelação de Órion. Sah, eventualmente, é identificado como uma das formas de Hórus.
Fonte: Com informações de History, Ancient History