Andamos no Mirai, carro movido a hidrogênio da Toyota
Por Paulo Amaral • Editado por Jones Oliveira |
Primeiro carro de série do mundo movido a uma célula de hidrogênio, o Toyota Mirai é um luxuoso sedan que não faz parte do line-up da montadora no Brasil, mas já está em sua segunda geração no Japão, agora com um jeitão de coupé e uma pegada bastante esportiva.
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Apesar de não haver qualquer programação, mesmo a médio prazo, de o Toyota Mirai dar as caras no mercado nacional, a reportagem do Canaltech teve o privilégio de sentir o gostinho de como é andar neste carro com ar futurista, desempenho de elétrico e muita tecnologia.
Antes de falar do test-drive relâmpago, no entanto, vale a pena conhecer um pouco mais sobre este FCEV (Fuel Cell Vehicle, ou Veículo com Célula de Combustível, na tradução para o português) que entrou para o Guinness World Records, o Livro dos Recordes, ao percorrer uma distância de 1.359,9 quilômetros com um único tanque de hidrogênio.
Como é o Toyota Mirai?
O Toyota Mirai testado rapidamente pela reportagem do Canaltech é um sedan de grandes proporções. Ele mede 4.975 mm de comprimento, 1.885 mm de largura e 1.470 mm de altura, além de ter uma distância entre-eixos de 2.920 mm e pesar 1.900 quilos.
O carro é construído na plataforma GA-L, mesma utilizada na fabricação do Lexus LS. A estrutura é suficiente para acomodar uma bateria elétrica de 1,2 kW e 330 células de hidrogênio, responsáveis por gerar energia para o motor elétrico de 184 cavalos e 30,6 kgfm de torque.
A principal diferença entre o Mirai de 1ª geração e o testado na pista de Sorocaba é que o atual conta com três tanques de hidrogênio, um mais que a versão anterior. A capacidade total de armazenamento é de aproximadamente 5,6 kg e o tempo de abastecimento é similar ao de um carro a gasolina: 5 a 8 minutos. A autonomia declarada é bem menor do que o recorde estabelecido no Guinness: 600 quilômetros.
O carro é zero emissor de poluentes e a única substância que sai pelo cano de escapamento é água — cerca de 6 litros a cada 100 quilômetros rodados. O Mirai custa entre US$ 49,5 mil e US$ 66 mil (R$ 270 mil e R$ 360 mil na conversão direta) nos Estados Unidos, dependendo da versão — XLE ou Limited.
Test-drive: carro a hidrogênio anda como elétrico
O contato da reportagem do Canaltech com o Toyota Mirai foi rápido, mas bastante prazeroso. O test-drive durou menos de cinco minutos, o suficiente para dar uma volta na pista de testes da montadora japonesa em Sorocaba, interior de São Paulo. E para sentir o gostinho do que o futuro reserva para quem é apaixonado por carros e por desempenho.
Logo de saída, o acabamento luxuoso do Toyota Mirai salta aos olhos. O capricho está presente em todos os detalhes: desde os confortáveis bancos, passando pelas portas e painéis e finalizando na central multimídia e no cluster digital, ambos recheados de informações sobre desempenho, autonomia e uma infinidade de outras funções.
E como anda o Toyota Mirai movido a hidrogênio? Dentro das limitações impostas ao teste, principalmente a de não “cravar” o pé no acelerador (pois a autonomia estava reduzida e havia outros jornalistas para testar o carro no evento), dá para dizer que o comportamento é bastante similar ao de um carro elétrico.
Mesmo sem pisar fundo nas duas retas do curto circuito, foi possível notar a resposta imediata do enorme sedan, que ainda mostrou firmeza e estabilidade nas curvas graças à boa aerodinâmica e distribuição de peso. Segundo números oficiais, o Toyota Mirai vai de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos, mas, por conta das limitações, não foi possível tentar se aproximar destes números.
O silêncio a bordo, que também é marca registrada dos carros elétricos, foi outra similaridade encontrada na condução do Toyota Mirai. Dirigi-lo, mesmo que por poucos metros, foi uma experiência agradável e que deixou um gostinho de “quero mais”.
Toyota Mirai vem ao Brasil?
Depois de ter a chance de testar o desempenho do Mirai na pista, a reportagem do Canaltech foi procurar saber se, enfim, há a possibilidade de o luxuoso sedan, hoje presente no Japão, na Europa e na Califórnia (Estados Unidos), ser vendido também no Brasil.
De acordo com Eduardo Benacchio, Gerente de Engenharia Experimental, a barreira do abastecimento é o grande obstáculo a ser superado, pois a infraestrutura não existe por aqui. Segundo Benacchio, a Toyota vê o hidrogênio como uma “rota para o futuro”.
Sérgio Costa, executivo da White Martins, empresa multinacional parceira da Toyota e especialista na área, citou que em países da Europa, como a Itália, já há uma boa infraestrutura para carros a hidrogênio e apostou que, no Brasil, ela também vai chegar “dentro de 5 a 10 anos”.
Segundo Costa, a inserção de veículos com esse tipo de propulsão no país deve começar pelo transporte público, pois, neste caso, uma única estação daria conta de abastecer uma frota inteira. “Começa pela prefeitura, recebe incentivos do governo e aí vai ampliando, como também já está acontecendo no Uruguai e no Chile”, comparou.
Vale lembrar que a Toyota não está sozinha na busca pelo avanço dos carros movidos a hidrogênio. Oliver Zipse, presidente da BMW AG, deu entrevista recentemente falando a respeito do assunto e apostando que o carro a hidrogênio será mais popular que o elétrico. A marca, inclusive, prometeu lançar um "carro a hidrogênio acessível" até 2030.