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Fuchsia OS: tudo o que sabemos sobre o misterioso sistema operacional do Google

Por  • Editado por  Douglas Ciriaco  |  • 

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Google/Divulgação
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Por se tratar de uma das maiores empresas do mundo, o que o Google desenvolve nos seus laboratórios chama a atenção. O Fuchsia OS é um desses projetos secretos que há algum tempo aparecem em notícias que atestam evolução discreta e prometem grandes novidades para o futuro.

O Fuchsia (o nome vem da cor fúcsia) é um projeto do Google descoberto em 2016 em um repositório de código da empresa no GitHub. Ele seria um sistema operacional construído do zero, livre do kernel Linux e feito sobre um microkernel chamado Zircon, escrito em linguagem C e destinado a sistemas embarcados.

Mas ele é um espaço para experimentação ou uma grande aposta que tomará o lugar do Kernel Linux do Android ou Chrome OS no futuro? O que as notícias falam sobre ele desde a sua descoberta? Para esclarecer alguns pontos nesse debate, o Canaltech reuniu as principais informações acerca do SO e tenata desenhar o progresso desse misterioso software que parece crescer em segredo.

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A curiosidade move montanhas

Uma das primeiras perguntas levantadas por esse projeto misterioso é: por que Fuchsia OS? Por si só, o nome de batismo não parecia aleatório. Uma das teorias o apontavam como a soma de duas cores: rosa, de pink, em inglês, como era o codinome de um dos protótipos do macOS, da Apple; e roxo, ou purple, como era conhecido o projeto confidencial que deu origem ao iPhone, iniciado em 2004.

A escolha peculiar de cores levanta suspeitas sobre a finalidade da plataforma. De primeira, a internet acreditou que ele seria o sistema do Google para suceder o Android em celulares e tablets. Contudo, o código encontrado no GitHub indicou algo mais do que um simples irmão para o robozinho.

Um sistema operacional para todos governar

A estrutura do Fuchsia OS apresentava sinais de alta escalabilidade, isto é, ele poderia rodar tanto em dispositivos avançados, como celulares e computadores, quanto integrar hardware de carros, relógios e sinais de trânsito. Versatilidade que, hoje, é um dos objetivos do HarmonyOS da Huawei, por exemplo.

Após a primeira aparição, o sistema operacional do Google continuou evoluindo às escuras. Em 2017, o site Ars Technica flagrou melhorias no código e o desenvolvimento de uma interface de usuário chamada Armadillo em um protótipo. Pela primeira vez, o software foi equipado com elementos visuais mais amigáveis.

Na edição do Google I/O daquele mesmo ano, o vice-presidente de engenharia do Android, Dave Burke, comentou que o Fuchsia era um projeto experimental entre vários outros que existiam no Google. Segundo ele, “muitas pessoas inteligentes trabalhavam” no sistema e que, de certa forma, ele diferia do Android.

Em 2018, um dos desenvolvedores da equipe do Fuchsia, Travis Geiselbrecht, contrariou o comentário do executivo por meio de um dos canais abertos da iniciativa. “[O Fuchsia OS] não é um brinquedo, projeto de 20% ou um resto de plataforma para o qual não ligamos mais”, disse o programador. Então, as coisas voltaram a ficar confusas.

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Um hiato misterioso

Depois desse período, o software do Google sumiu do mapa. O desenvolvimento parecia ter sido suspenso, porém, em 2020, ele voltou a ser destaque na internet ao ter seu código aberto expandido para permitir a contribuição de desenvolvedores de fora da companhia.

Na publicação de anúncio, a Gigante da Web fez algumas revelações importantes: a primeira, de que o Fuchsia é um projeto de longo prazo com “propósitos gerais”; a segunda, que o software é desenhado para priorizar segurança, capacidade de atualização e desempenho; por fim, que ele é desenvolvido por uma equipe exclusiva.

O repositório de código da plataforma esteve aberto desde 2016, mas o Google deu a ele um site dedicado. De lá, curiosos poderiam acompanhar a evolução do protótipo ao longo dos anos. Além disso, foram abertos meios para captar o feedback da comunidade (por e-mail e por um portal “issue tracker”).

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Nesse meio tempo, as principais descobertas sobre o sistema foram feitas por curiosos, seguindo pistas deixadas a cada evolução de código. Entre os achados estão a intenção do Google em implementar suporte nativo para aplicativos Linux e Android no Fuchsia e os preparativos da Samsung para adotá-lo no futuro.

Qual a interface do Fuchsia OS?

A Armadillo, como é conhecida a interface do sistema misterioso, é bem rudimentar. Na prática, pouquíssimas coisas são funcionais e boa parte dos elementos parece experimental. O visual é recheado por cartões, bandejas, ícones de navegação, organização em lista e "aplicativos" divididos em abas.

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O visual fez a internet pensar que o Fuchsia OS era, de fato, apenas um ambiente de experimentação de recursos que alimentariam outros projetos, como o Android e o ChromeOS. Pouquíssimos elementos dele eram interativos ou personalizáveis; aplicativos disponíveis não funcionavam ou consistiam apenas de uma demonstração.

Atualmente, o sistema pode ser executado também com o Fuchsia Emulator (FEMU) em distribuições Linux, como bem demonstra o vídeo abaixo, produzido pelo site 9to5Google. O processo de instalação é extremamente complicado e não tem aplicação além de estudo.

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A noção de que se tratava de um protótipo mudou em maio de 2021, quando o Google finalmente liberou para o público o Fuchsia OS em versão final — completo, com interface gráfica, apps operando como esperado e tudo no seu devido lugar. No entanto, ele chegou apenas ao Nest Hub original, lançado em 2018.

A estreia do Fuchsia OS

Para surpresa de todos, a primeira aparição da plataforma não foi em um celular, mas na primeira geração da tela inteligente que dá corpo ao Google Assistente. A aparência, por sua vez, não introduziu nenhuma novidade, visto que é baseada no Flutter, um conjunto de ferramentas para desenvolvimento de elementos gráficos também utilizado no Cast OS.

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A mudança quase imperceptível, de certa forma, sugere qual a estratégia da companhia para o projeto: o Google quer experimentar o sistema em cenários limitados, colocando-o como uma troca nada chamativa para testar sua versatilidade em casos de uso específicos.

Se nenhum problema for encontrado, a companhia provavelmente dará sequência aos planos. Além de discreta, a implementação no Nest Hub seria, no geral, simples. Nesses dispositivos, não há demanda por um gerenciamento de recursos avançado para multitarefas ou cargas de atividade intensas como há em celulares e computadores.

O que diz o Google

O portal dedicado ao Fuchsia o descreve como um "novo sistema operacional de código aberto atualmente em desenvolvimento". "Estamos construíndo o Fuchsia desde o Kernel para atender as demandas do crescente ecossistema de dispositivos conectados", explica o Google.

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Segundo a página, "o Fuchsia está evoluindo rapidamente, mas os princípios e valores do sistema permaneceram relativamente constantes ao longo do projeto". Novamente, a companhia estabelece que os fundamentos que orientam o desenvolvimento do projeto são segurança e capacidade de atualização. Todavia, inclui dois novos: inclusividade (por ter suporte para uma variedade de linguagens e tempos de execução) e pragmatismo.

O Fuchsia OS tomará o lugar do Android?

De forma breve: é (muito) cedo dizer. Embora seja claro quanto aos passos tomados pelo Fuchsia OS, o Google mantém em segredo seus planos para ele. Até mesmo a estratégia de distribuição por cenários limitados está no campo das especulações.

Para substituir o Android, o Fuchsia precisaria estar em um altíssimo nível de amadurecimento. O sistema do robozinho, que caminha agora para mais uma geração, é extremamente eficiente na tarefa de embarcar em smartphones de diversos tipos e garante aos fabricantes a capacidade de customização, até mesmo de adicionar recursos não nativos sobre ele.

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Consolidado e em constante evolução, o Android continua sendo uma das soluções mais avançadas do mercado mobile. Para virar a página e mudar para o Fuchsia OS, o Google precisaria antecipar essa decisão em anos, especialmente para que as fabricantes estudem o sistema e implementem sua própria abordagem.

Por outro lado, o robozinho não dá sinais de cansaço. No Android 12, o Google deu passos importantes na evolução da plataforma: estreou o Material You, sua nova linguagem de design, inaugurou ferramentas de privacidade avançadas e continuou imaginando novas maneiras de tornar o celular um aliado.

Nada está escrito em pedra

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Lendo essa reunião de informações dá para notar que as descobertas relacionadas ao Fuchsia OS aconteceram ao longo dos anos. Nesse mesmo tempo, a percepção sobre o que seria esse projeto também mudou, transitando entre a forte crença de que se tratava de um protótipo, um ambiente em que o Google testava suas ideias, para um sistema operacional completo — mas não somente para smartphones.

Um bom retrato da evolução desse tema são os materiais e notícias relacionadas ao projeto. Aqui mesmo, no Canaltech, o Fuchsia OS foi visto como um possível substituto para o Android em 2019. A cada novo passo dado pelo Google, o cenário muda significativamente. Por isso, é importante continuar atento às alterações do sistema.

Desde que estreou no Nest Hub, o Fuchsia OS voltou ao silêncio na internet. No entanto, assim como foi sua estreia na tela inteligente, revelações igualmente importantes podem acontecer de uma hora para outra.