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Curados da COVID-19 contam como se sentiram durante e após a doença

Por| 27 de Abril de 2020 às 14h43

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Há cerca de um mês, o Canaltech entrevistou duas pessoas que haviam contraído a COVID-19, doença provocada pelo novo coronavírus, que relataram suas experiências perante os sintomas, o tratamento e sobre como foi feito o diagnóstico.

Como ainda não há nenhuma medicação comprovada como eficiente para a cura da doença, tampouco uma vacina preventiva, o que resta a um infectado é esperar, monitorar o que está sentindo e procurar não buscar um hospital caso os sintomas sejam leves, evitando assim a lotação de locais de internamento e privar casos de extrema gravidade que necessitem de intubação e respiração mecânica — o que já vem acontecendo, infelizmente.

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Imagem: Reprodução

Agora, fomos atrás de entender de pessoas que já se curaram da COVID-19 como foi esse processo, pedindo para que elas explicassem como se sentiram com o isolamento, sintomas e o alívio após o tratamento. Bruno Romaniow, estudante de 24 anos, havia nos contado na primeira entrevista como estava sendo a sua quarentena enquanto estava com a doença, e agora nos contou como é estar curado da doença.

Voltando para quando tudo aconteceu, Bruno disse que a primeira reação que teve ao receber o diagnóstico clínico foi o sentimento de incerteza e insegurança, principalmente por não ter o acesso a um exame pela escassez. O estudante foi diagnosticado pelos médicos com base nos sintomas, que batiam com a COVID-19, mas apesar da preocupação, ele não estava no grupo de risco por ser jovem e não possuir nenhuma doença crônica, embora existam relatos de pessoas na mesma condição que já tiveram seus casos agravados.

Fabia Fuzeti, residente na Espanha e youtuber, também não teve acesso ao teste. Seu diagnóstico foi feito após ter recebido uma ligação do serviço sanitário do país, informando que ela havia tido contato com uma pessoa que testou positivo. A ligação veio justamente no momento em que os sintomas estavam aparecendo. "Então, eles disseram que viriam me testar quando fosse possível, mas nunca vieram. Disseram que pelo contato e pelos sintomas eu provavelmente estava infectada e que tinha que ficar isolada em casa", contou.

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O Canaltech conversou ainda com Caio Quemel, que antes do diagnóstico já imaginava estar contaminado pelo novo coronavírus por ter feito uma viagem. "Mas fiquei com medo porque sabia pouco sobre a doença. Todos ao meu redor ficaram super preocupados e mandando apoio", conta o jovem de 24 anos, que trabalha como personal trainer.

Assim como muitos que estão em isolamento, os entrevistados dizem ter sentido falta de contato humano, muitas vezes evitando até estar perto de quem mora na mesma casa, o que pode ser doloroso em um momento tão difícil. "Eu não sabia o que fazer e torcia para me curar logo", contou Caio.

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Para Fabia, esse processo de isolamento foi um pouco mais tranquilo, pois ela já estava morando longe da família, trabalhando em home office e vivendo com a esposa, que também acabou sendo contaminada. Portanto, as duas se faziam companhia para lidar com a situação. "Os amigos ofereceram ajuda com o que fosse necessário, mas não houve pânico. Bruno também relatou a preocupação de pessoas próximas, como também muita curiosidade de quem está de fora sobre os sintomas.

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Solidão, sintomas e incertezas

Perguntamos aos entrevistados quais foram as maiores dificuldades enfrentadas enquanto sofriam com a COVID-19, e como foi a intensidade dos sintomas. Bruno relatou ser bastante complicado estar sendo medicado e não saber se tudo o que o seu corpo estava recebendo fazia efeito ou não, uma vez que, ressaltando, ainda não existe uma medicação com eficácia comprovada contra o novo coronavírus.

"Ter crise em casa e não ter um profissional da saúde para auxiliar... a falta de auxílio para quem tem casos leves, que apesar de ser leve é sintomático, as dores e a falta de ar estão presentes, é algo que deixa o paciente preocupado. Parece que você está sozinho", lamentou o estudante. Bruno sentiu dores no corpo, irritação na garganta, febre, dor e pressão na cabeça e olhos, e nos disse que os sintomas eram progressivos, ficando a cada dia mais intensos, principalmente a falta de ar.

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Fabia também contou ao Canaltech que as maiores dificuldades foram as incertezas, a falta de qualquer ideia do que poderia ou estava prestes a acontecer, além do processo de isolamento em si, principalmente por estar longe do seu país de origem e da família.

"O isolamento é difícil, mas aqui na Espanha toda a população está em Estado de Alarme e em quarentena, funcionando apenas os serviços essenciais. Minha mulher era quem saia para comprar comida, sempre protegida com luvas e máscara caseira (porque desde o início era impossível encontrar para comprar). Difícil não poder sair de casa e não caminhar, especialmente porque moramos em um apartamento pequeno", diz Fabia, que trabalha com turismo junto com a esposa, algo que não pode ser feito quando se está 100% do tempo dentro de casa. "Estamos sem trabalho e sem renda, sem saber como vamos nos manter. Milhões de pessoas já foram demitidas e a previsão é de uma crise bem pior que a de 2008", completou, contando como vem sendo o problema no país europeu.

A youtuber disse que os sintomas iniciais eram calafrios e calor muito forte, mas com a temperatura corporal ainda em 37 graus, e que 12 horas depois, a febre aumentou para 38,5 ºC, ficando assim por dois dias."Ao mesmo tempo muita dor no corpo, na cabeça e especialmente no pescoço. Um pouco de tosse. O corpo só doeu nesse primeiro dia e passou. Sentia muito cansaço, passei uma semana deitada e dormindo muito. Não aguentava fazer nada. E a perda total do olfato, que levou um mês para voltar", disse. Em relação a essa anosmia, em um vídeo gravado para o seu canal no youtube, Fabia disse que o sentido não fica mais fraco, mas sim some completamente: mesmo ao tentar sentir um cheiro de perfume dentro do frasco, não obtinha nenhum sucesso.

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A incerteza, sem dúvidas, vem sendo a maior preocupação dos contaminados e de quem entende o quão grave vem sendo a situação, e não há como não pensar no pior. Bruno disse que sentia os dias passarem como uma incógnita, porque acordava se sentindo mal e continuava na cama se sentindo da mesma forma. "Não tinha uma unidade de saúde, um pronto-socorro que fosse me atender. Quando busquei uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) por causa da falta de ar, me mandaram voltar para casa e continuar em repouso, pois ali não poderiam fazer nada", relembrou o jovem.

Fabia disse ainda que lidar com as consequências psicológicas de estar contaminada pelo novo coronavírus, junto às incertezas, era bastante difícil, e que seus dias se resumiam a dormir muito, se alimentar e tentar controlar a ansiedade. "Medo constante, tinha falta de ar que eu não sabia se era da doença ou por estar ansiosa e com medo", disse a youtuber. "Bastava ler alguma coisa que falava de morte, ou de pessoas mais novas que tinham morrido, ou gente que tinha melhorado e depois piorado, que eu entrava em pânico e começava a ter falta de ar", completou.

Bruno também relatou as consequências psicológicas de estar contaminado com uma doença nova, afirmando o constante sentimento de estar sozinho e de precisar buscar soluções nesta condição, o que deixa a pessoa abalada e mais reflexiva do que nunca.

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"Eu pensava: mas só vou receber auxílio médico se eu chegar lá para ser entubado? Por que não tentar auxiliar e medicar os pacientes no início das crises? Talvez seria uma forma de evitar alguns casos de intubação. Eu vi no jornal sobre um jovem médico que faleceu de COVID-19, em que a saturação dele em condições ambientes ficou em 93% e os colegas, por mensagem disseram que ele precisava se internar para receber oxigenioterapia. No meu caso, minha saturação ficava em 90%, os batimentos cardíacos subiam muito e a orientação foi ficar em casa. Qual seria a diferença ou o critérios, para o auxílio do oxigênio chegar até alguns, para respirarem melhor, e para outros não?", indagou o estudante.

Mesmo com histórico de atleta e sem nenhuma doença respiratória, Caio sentia muitas dores ao respirar, febre, tosse e falta de ar. "Eu não sabia o que fazer e torcia pra me curar logo. Hoje, vendo casos de pessoas jovens morrendo, eu fico ainda mais aliviado por ter sobrevivido, porque poderia ter sido eu", contou o personal trainer, comentando ainda que foi medicado com antibióticos para tratar a pneumonia adquirida e que também teve flebite, condição que causa inflamação na veia, devido à troca de medicação intravenosa.

A recuperação foi boa para Bruno, mas o estudante disse ter sentido medo de acabar adquirindo alguma sequela ou comprometimento pulmonar. Seu médico pediu apenas uma tomografia do tórax, quando foram identificadas algumas alterações, nada grave, mas ele não foi informado sobre o que se tratava. "Meus exames revelaram pedras nos dois rins (algo que eu nunca tive). Hoje, estudos apontam acometimento renal da COVID-19, inclusive a formação de cálculos renais. Ou seja, mais uma coisa sem resposta. Hoje me sinto 100%, porém sem saber de fato o que eu tive, se já passou e quantas pessoas mais estão passando por essas situações", completa o estudante.

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Fabia diz que já está bem há mais de um mês, mas o medo ainda está presente. "Faz mais de um mês que estou bem e tem hora que ainda tenho medo de piorar. Estar em quarentena fechada em casa não ajuda. Sei que se estivesse levando uma vida normal não estaria mais com medo, mas é tudo acontecendo ao mesmo tempo", desabafa.