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Mais de 80% do oceano ainda é desconhecido. Entenda o porquê!

Por| Editado por Patricia Gnipper | 23 de Fevereiro de 2022 às 20h40

EpicStockMedia/Envato
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Embora a Terra seja conhecida como o "Planeta Água", cerca de 80% do oceano ainda é desconhecido. Com pontos do fundo do mar que atingem mais de 11 km de profundidade, explorar essa grande extensão de água ainda é um tremendo desafio para nossa atual tecnologia.

Além disso, boa parte das águas oceânicas estão localizadas em zonas internacionais, o que significa que nenhuma nação possui direitos sobre elas. Isso, por si só, desestimula a pesquisa oceanográfica. Por essas razões, conhecemos mais a superfície de Marte do que o fundo dos oceanos da Terra!

Oceano desconhecido: quantos por cento ainda não exploramos?

Cobrindo mais de 71% da superfície do planeta, o oceano é uma peça fundamental para o sistema terrestre. Além de regular o clima global, ele sustenta as maiores biodiversidades da Terra. Ainda assim, desconhecemos pouco mais de 80% do oceano.

Cobrindo mais de 70 % da superfície terrestre, o oceano é uma peça fundamental para a Terra (Imagem: Reprodução/NASA/Mark Garcia)
Cobrindo mais de 70 % da superfície terrestre, o oceano é uma peça fundamental para a Terra (Imagem: Reprodução/NASA/Mark Garcia)

O primeiro — e talvez maior — desafio para explorar as profundezas oceânicas é a sua imensidão, tanto em extensão, quanto em profundidade. Estima-se que cerca de 50% do planeta esteja sob o oceano entre profundidades de 3 e 6 km.

O Canaltech conversou com Adriana Lipp, oceanógrafa pela USP e divulgadora de ciências, para entender melhor o porquê de conhecermos tão pouco dos oceanos do nosso planeta. Ela explicou que a pesquisa oceanográfica precisa lidar com o grande camada de água que impossibilita o alcance de instrumentos ópticos.

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Parte do oceano começou a ser conhecido com a Segunda Guerra Mundial, quando equipamentos como sonares e radares passaram a permitir localizar objetos sem a necessidade de uma visualização direta. Tais instrumentos passaram a mapear o fundo oceânico, fornecendo a profundidade e materiais presentes nele.

Um veículo de exploração remota a 6 km de profundidade na Fossa Mariana, no Oceano Pacífico (Imagem: Reprodução/NOAA)
Um veículo de exploração remota a 6 km de profundidade na Fossa Mariana, no Oceano Pacífico (Imagem: Reprodução/NOAA)

Com o aprimoramento da tecnologia, hoje inúmeros satélites de observação terrestre fornecem informações sobre o oceano, como temperatura e correntes oceânicas, mas a profundidade continua sendo o maior dos desafios, porque a pressão nesses pontos profundos é esmagadora.

Pelo ponto de vista geopolítico, segundo Lippi, existem duas questões que dificultam a exploração do oceano.

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A primeira é que boa parte dos oceanos permanece “sem dono”, pois estão em áreas internacionais, “onde nenhum país tem jurisdição, o que desestimula a pesquisa”, acrescentou. O segundo ponto é que a pesquisa oceanográfica gera um custo muito alto. Por exemplo, para mapear grandes extensões do fundo marinho longe da costa, é necessário o uso de um navio, uma grande equipe de pesquisadores e itens para consumo da tripulação durante a expedição.

Como se explora o oceano

Apesar do desafio tecnológico, existem ferramentas para entender parte do oceano. A batimetria, por exemplo, fornece a profundidade, enquanto o levantamento sísmico usa as ondas sonoras para mapear camadas inferiores da superfície do fundo marinho.

Faixas de profundidade do oceano e as principais ferramentas de exploração (Imagem: Reprodução/Explore Ocean)
Faixas de profundidade do oceano e as principais ferramentas de exploração (Imagem: Reprodução/Explore Ocean)
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Já os sonares retornam informações qualitativas do fundo oceânico. Lippi explicou que a biota da coluna de água e do sedimento fornece as condições químicas e físicas da água, “entre outros parâmetros que precisam de equipamentos mais complexos que ainda estão se aprimorando”, disse.

Com o aprimoramento das tecnologias sonoras, atualmente existem equipamentos que fornecem informações como afloramentos rochosos, mudanças no padrão de sedimentação sem a necessidade de perfurar o fundo marinho.

A batimetria permite modelar em 3D o fundo oceânico (Imagem: Reprodução/NOAA)
A batimetria permite modelar em 3D o fundo oceânico (Imagem: Reprodução/NOAA)

No entanto, Lippi destacou que essas ferramentas podem perturbar espécies marinhas, como baleias e golfinhos, que usam as ondas sonoras para se localizarem e se comunicarem. “As explosões causadas por esses equipamentos pode desnortear e indiretamente causar morte de animais”, apontou a oceanógrafa.

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Então, equipamentos como os veículos autônomos subaquáticos (AUVs, na sigla em inglês) são fundamentais para o mapeamento do fundo oceânico, pois eles podem alcançar grandes profundidades que os humanos não alcançariam — e não dependem de embarcações com altos custos.

As profundezas do oceano abrigam uma rica biodiversidade repleta de seres exóticos, como o polvo dumbo, que vive de 3 a 4 km de profundidade (Imagem: Reprodução/NOAA)
As profundezas do oceano abrigam uma rica biodiversidade repleta de seres exóticos, como o polvo dumbo, que vive de 3 a 4 km de profundidade (Imagem: Reprodução/NOAA)

Para efeitos de comparação, num mergulho na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, com 11 km de profundidade, qualquer equipamento precisa lidar com uma pressão superior a 1.000 vezes a pressão exercida na superfície.

Com essas ferramentas, cerca de 20% do fundo oceânico já foi mapeado, mas com uma resolução ainda limitada, que onde cada pixel das imagens alcançam até 100 metros quadrados das águas oceânicas — e isso é pouco, se comparado com os pontos mais profundos do oceano ainda desconhecidos.

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Como o fundo do oceano brasileiro é mapeado?

Mais do que conhecer os oceanos, essas águas precisam ser protegidas, uma vez que cumprem um papel fundamental para o planeta. Mas como proteger o que ainda não conhecemos? É por isso que diversas iniciativas globais se dedicam às pesquisas oceanográficas.

A área oceânica sob jurisdição brasileira tem 4,4 milhões de km quadrados, conhecida como a Amazônia Azul (Imagem: Reprodução/)Marinha do Brasil)
A área oceânica sob jurisdição brasileira tem 4,4 milhões de km quadrados, conhecida como a Amazônia Azul (Imagem: Reprodução/)Marinha do Brasil)

O mapeamento do fundo marinho brasileiro é conduzindo principalmente pela Marinha do Brasil e instituições de pesquisa que atuam por aqui. Normalmente, conforme explicou a oceanógrafa Adriana, grupos de pesquisa dependem de investimentos público e privado para realizar o mapeamento, cobrindo apenas pequenas regiões.

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O Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), estabelecido em 1989, surgiu com o propósito de demarcar os limites oceânicos do Brasil, mas apenas por motivações de soberania e ampliação da zona econômica exclusiva (ZEE). Essa zona foi definida pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, onde a ZEE se entende por mais de 320 km da costa brasileira. O problema é que a LEPLAC só confere o direito ao território marítimo e não estimula a pesquisa e exploração do oceano.

Conforme a tecnologia evolui, espera-se que mais inciativas voltadas para a exploração oceânica e sua preservação sejam estabelecidas — sobretudo nos países onde a ciência oceânica é menos desenvolvida.

Fonte: NOAA (1, 2), Oceana, Marinha do Brasil