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CEO da Imperium E-Sports é acusado de estelionato; entenda o caso

Por| Editado por Bruna Penilhas | 30 de Julho de 2021 às 17h00

Arte / Igor Pontes
Arte / Igor Pontes
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Na noite de segunda-feira (27), Bruno Menezes, através do seu perfil no Twitter, acusou o CEO da Imperium E-Sports, Gean “BiigBo0ss” Santos, de estelionato. De acordo com mensagens divulgadas na rede social, ao invés de enviar um iPhone 12 e um monitor que ele teria adquirido em negociação com Gean, o CEO da organização teria lhe enviado um pacote de farinha e estava postergando a devolução do dinheiro do rapaz.

O Canaltech conversou com o autor da postagem e outras pessoas que alegam também terem sido lesadas por Gean. No caso, a história envolvendo as partes tem começo parecido. Os envolvidos teriam visto uma postagem em um servidor do Discord, e que teriam contatado Gean para comprar peças de PC, monitores e notebooks abaixo do preço que, de acordo com o relato tanto de Gean quanto dos envolvidos, teriam sido adquiridos em um leilão da Polícia Federal.

Tabela com os preços das mercadorias. (Imagem: Captura de Tela/Denis Francisco)
Tabela com os preços das mercadorias. (Imagem: Captura de Tela/Denis Francisco)

Bruno Menezes, o autor da postagem no Twitter, relatou que, inicialmente, tinha comprado um iPhone 12 e um monitor. Depois, teria resolvido também comprar um Macbook — no total, a compra deu cerca de R$ 11 mil, mas Bruno chegou a pagar R$ 4.590 referente ao monitor e smartphone. Gean prometeu enviar no dia seguinte o código de rastreamento e, na troca de mensagens, ele chegou a enviar uma foto do Macbook — entretanto, a imagem não parecia corresponder ao produto comprado, e sim a uma foto qualquer da internet, com marca d'água. Ao ver a imagem, Bruno preferiu não enviar o pagamendo do computador.

Poucos dias após o pedido, Bruno teria recebido um pacote com farinha no lugar de suas duas compras. Gean Santos também é chef de cozinha e possui uma panificadora em Votuporanga (SP). De acordo com o CEO da Imperium, seus funcionários se confundiram na logística de entrega e, ao invés de enviar as peças de computador e o Macbook, enviaram amostras de farinha, que deveriam ir para outros compradores, do ramo de panificação.

Bruno recebeu pacote com farinha ao invés de duas encomendas. (Imagem: Captura de Tela/Bruno Menezes)
Bruno recebeu pacote com farinha ao invés de duas encomendas. (Imagem: Captura de Tela/Bruno Menezes)
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Denis Francisco, outro rapaz que também chegou a comprar com Gean, explicou ao Canaltech que o desenrolar da situação foi o mesmo do que aconteceu com Bruno. “Chegamos a ele através de uma menina que passou a lista, e fomos passando [as informações] entre si ”, explicou Denis.


De acordo com a postagem de Bruno e os relatos de quem havia comprado com Gean, o nome do destinatário estava errado, geralmente com o nome “Lucas”, mesmo nome presente na rua do remetente. O endereço também estava errado, com o CEP correto, mas com um número inexistente na rua. A prática dos Correios nesse caso, é declarar que o destinatário está ausente e retornar a entrega para o centro de distribuição.

As pessoas lesadas pela situação alegam que, provavelmente, o nome do remetente estava errado para dificultar a retirada dos itens nos centros de distribuição locais, já que o nome que estava na encomenda não iria bater com o nome da pessoa na carteira de identidade. Um dos compradores que conversou com o Canaltech e pediu para ter o nome preservado, alegou que Gean chegou a afirmar que tinha o pacote em mãos e que havia entregado para funcionários realizarem o envio das mercadorias.

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Os compradores também começaram a cruzar informações sobre a situação, e detectaram os padrões nos pacotes que impossibilitaram as entregas. Em imagem feita pelos compradores, é possível ver que alguns números foram modificados, impedindo a entrega dos produtos no local correto.

Imagem cedida por um dos entrevistados. (Imagem: Captura de Tela/Arte/Denis Francisco)
Imagem cedida por um dos entrevistados. (Imagem: Captura de Tela/Arte/Denis Francisco)

Os que tentaram pedir a devolução do dinheiro para Gean, relataram que ele disse que o valor foi aplicado em investimentos, e que por isso demoraria para repassar o montante. Algumas pessoas, cujo valor de compra era menor, conseguiram reaver o dinheiro. Bruno então conseguiu, por meio de denúncias, bloquear a conta que Gean tem no Nubank.

De acordo com um pronunciamento feito por Gean Santos no Twitter e em conversa com Bruno, o bloqueio estava impedindo a devolução de todo o dinheiro, já que ele não tinha mais acesso à própria conta.

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Conversa entre Gean Santos e Bruno Menezes, publicada no Twitter. (Imagem: Captura de Tela/Bruno Menezes)
Conversa entre Gean Santos e Bruno Menezes, publicada no Twitter. (Imagem: Captura de Tela/Bruno Menezes)

Devido ao ocorrido e a demora na devolução do dinheiro, Menezes realizou um Boletim de Ocorrência e publicou nas redes sociais, dando sequência às publicações sobre o caso.

Gean Santos é CEO da Imperium E-Sports, organização com braços em várias categorias de eSports. A empresa, que tem sede em São Paulo, possui times de League of Legends, Counter Strike: Global Offensive, Rainbow 6 Siege, Call of Duty e Free Fire. A line-up de Rainbow 6, inclusive, está disputando a Copa do Brasil, campeonato organizado pela Ubisoft que pode conceder acesso ao Elite Six, categoria principal do jogo da desenvolvedora no país.

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Outro detalhe que chama atenção é que, para algumas pessoas com quem Gean havia negociado, ele pediu para que elas seguissem suas redes sociais e as redes do time, apesar de já estar tratando com os compradores através do WhatsApp.

Denis disse também que Gean, depois da confirmação da compra, continuava a conversar com os compradores casualmente. Ele acredita que o acusado tenha feito isso para ganhar credibilidade e seguidores nas redes sociais. Denis ainda relatou que continua em contato com Gean, para tentar reaver o valor que um amigo havia repassado ao CEO da Imperium.

“O meu valor eu consegui estornar, pois fiz através do cartão de crédito. Mas continuo em contato com ele para reaver o dinheiro de um amigo que fez um depósito direto”, explica Denis. Outros compradores ainda estão esperando um retorno de Gean, que alegou para eles que, devido ao bloqueio de sua conta no Nubank, "estava difícil de fazer o ressarcimento" pois depende da plataforma liberar a conta, além da retirada do dinheiro que está aplicado.

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Conversa entre Gean e Denis, sobre os valores pendentes de outros compradores. (Imagem: Captura de Tela/Denis Francisco)
Conversa entre Gean e Denis, sobre os valores pendentes de outros compradores. (Imagem: Captura de Tela/Denis Francisco)

O Canaltech procurou Gean Santos, que afirmou ter entrado com um boletim de ocorrência e estar tomando medidas judiciais acerca da situação. Ele também declarou que os relatos "não são exatamente como estão falando, mas que tudo vai ser resolvido o quanto antes". Ele ainda afirmou que a maioria dos casos já foram resolvidos e que o dinheiro teria sido estornado.

O Canaltech checou essa informação e constatou que, algumas pessoas com compras de valores mais altos, alguns de cerca de R$ 5 mil, ainda não foram ressarcidos. Gean também reiterou que as peças teriam sido compradas em um leilão da Receita Federal para montar a Gaming House da Imperium E-Sports, e que pelas compras nos leilões serem feitas em lotes, ele teria peças sobressalentes. Segundo ele, conhecidos teriam perguntado se ele estava disposto a vender as peças.

Durante a apuração do Canaltech sobre o caso, descobrimos outras pessoas não relacionadas ao caso atual que também foram lesadas em outras situações. Um dos entrevistados, que preferiu manter o anonimato, reportou que Gean prometeu a entrega de um produto, mas que o nome e o endereço de entrega estavam errados e foi enviado um pacote de farinha no lugar do item — ou seja, o mesmo que aconteceu com Bruno e Denis. Neste caso, Gean havia prometido enviar um novo pacote, o que não foi feito.

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Outras fontes também relatam que Gean chegou a comunicar aos funcionários da Imperium E-Sports que havia descoberto a causa do problema nas trocas das encomendas e que havia comunicado aos compradores. Entramos em contato mais uma vez com os compradores e, os que retornaram a nossa pergunta, alegaram fatos diferentes.

Os que conseguiram pegar os pacotes no Correio confrontaram Gean sobre a farinha. Ele alegou que "aconteceu alguma confusão na entrega das encomendas" por parte de seus funcionários, mas que "não teria dito nada além disso".

O Canaltech também localizou duas reclamações, uma de 2017 e outra de 2019, sobre Geanderson Bertoldi Santos — nome completo de Gean, que usa seu apelido nas redes sociais. Ambas seriam reclamações sobre produtos não entregues. Em uma delas, o autor da contestação afirma que não recebeu uma balança que comprou com Gean, e tampouco o reembolso. Na outra, de 2019, o comprador afirma que Geanderson teria culpado a empresa fabricante do item pela não entrega das mercadorias.

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Indo a fundo nas investigações, também foi encontrado uma página no Diário de Justiça do Estado de São Paulo (DJSP), de 24 de janeiro de 2018. No conteúdo, Geanderson havia sido acusado de estelionato, e neste caso, cumpriu pena em liberdade sob pagamento de multa. O Canaltech procurou o acusado sobre o assunto, e de acordo com ele, a situação ocorreu em 2013.

"Esse processo está encerrado e já foi cumprido tudo que a justiça pediu, na época eu me envolvi em um enlace político, eu tinha uma escola de informática e cursos profissionalizantes e fiz parceria para com uma faculdade para venda de cursos! Devido ao desacordo político, as coisas não deram muito certo, isso é coisa antiga e já resolvida a tempos."

Geanderson registrou o boletim de ocorrência alegando ter sido difamado por Bruno Menezes. Ele ainda declarou que não conhece alguns dos acusadores que apareceram na postagem de Bruno e que pessoas com quem ele já havia resolvido a situação, estariam alegando o contrário. Gean também declarou que irá abrir outro B.O — nesse caso, referente a ameaças que ele afirma estar sofrendo por meio de mensagens privadas nas redes sociais. Após o ocorrido, o acusado limitou a privacidade da própria conta no Twitter (apenas seguidores de Gean podem visualizar as publicações).

Imagem do Boletim de Ocorrência feito por Geanderson Santos. (Imagem: Captura de Tela/Igor Pontes)
Imagem do Boletim de Ocorrência feito por Geanderson Santos. (Imagem: Captura de Tela/Igor Pontes)

Durante o fechamento desta reportagem, a Imperium E-Sports publicou um comunicado sobre o afastamento de Gean Santos do cargo de CEO. De acordo com a publicação, Otto Anselmini e Ronaldo Alves assumem interinamente a posição em conjunto. O comunicado termina com a equipe pedindo desculpas aos players e funcionários que teriam sido atacados online devido a situação.

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