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Como a NASA está se preparando para uma missão interestelar que durará 100 anos

Por| Editado por Patricia Gnipper | 26 de Outubro de 2021 às 13h15

Dana Berry/Harold Levison/Dan Durda/SWRI
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As sondas Voyager 1 e 2 foram construídas para estudar o Sistema Solar externo, em especial Júpiter e Saturno, em uma viagem de aproximadamente cinco anos, mas continuaram funcionando até alcançar Urano, Netuno e, mais recentemente, o espaço interestelar. Isso é muito impressionante, mas o programa Voyager já mostra alguns desafios que aguardam a NASA em sua próxima missão de longo prazo — principalmente no que tange à transição de equipes.

Lançadas em 1977, as sondas Voyager já estão viajando rumo às fronteiras do Sistema Solar há mais de 40 anos. Isso significa que muitos dos cientistas, engenheiros e demais membros da equipe de planejamento inicial da missão já faleceram e tiveram que ser substituídos por especialistas mais jovens. Esse tipo de transição exige planos, e “é sempre difícil falar” sobre esse assunto, de acordo com Ralph McNutt, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.

Gráfico fora de escala que mostra as distâncias entre os planetas, a heliopausa, a Nuvem de Oort e a estrela vizinha, em unidades astronômicas (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)
Gráfico fora de escala que mostra as distâncias entre os planetas, a heliopausa, a Nuvem de Oort e a estrela vizinha, em unidades astronômicas (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)

McNutt, que lidera o planejamento de uma nova missão ao espaço interestelar, é também o membro mais jovem da equipe científica da Voyager, dentre os que estavam presentes desde o lançamento das sondas. Aos 67 anos, conta que normalmente essas transições não acontecem realmente na maioria das missões, mas, assim como aconteceu na Voyager, a sucessora — se for aprovada — também exigirá planejamento de transição.

De acordo com os proponentes da próxima missão, que pode ser lançada em 2036 — os instrumentos das Voyager podem ser desligados no início da década de 2030 —, a nova espaçonave poderia funcionar por incríveis 100 anos, tornando-se assim a missão espacial mais duradoura da história. A ideia surgiu alguns anos atrás, quando os oficiais da NASA pediram a McNutt e seus colegas que elaborassem um plano para uma nova missão interestelar, para que o legado das Voyager não acabasse.

Essa nova sonda teria uma infinidade de objetos para explorar nas bordas do Sistema Solar, como mais de 130 planetas anões e o próprio espaço interestelar, sobre o qual ainda não se sabe muita coisa porque as Voyager não possuem instrumentos robustos o suficiente para investigar, a fundo, o que há nessa região. Com capacidade de “voar” mais rápido que as antecessoras, a nova espaçonave poderia alcançar cerca de 375 unidades astronômicas (sendo que uma unidade astronômica é equivalente à distância média Sol-Terra) nos primeiros 50 anos.

Voyager 2 e seus instrumentos científicos (Imagem: NASA/JPL-Caltech)
Voyager 2 e seus instrumentos científicos (Imagem: NASA/JPL-Caltech)
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Assim como aconteceu com a Voyager e outras missões da NASA, como os rovers robóticos em Marte, McNutt acha que a próxima espaçonave também poderá simplesmente seguir adiante, ultrapassando sua estimativa de vida, e percorrer mais de 800 unidades astronômicas após um século de missão. Isso seria, mais ou menos, 120 bilhões de km — muita coisa, mas ainda bem longe da estrela vizinha, Proxima Centauri, que está a 40 trilhões de km.

Com objetivo de preparar a equipe para a inevitável transição ao longo desses possíveis 100 anos de missão, a equipe de pesquisa dessa proposta entrou em contato com Janet Vertesi, uma socióloga da Universidade de Princeton que estudou os aspectos organizacionais de outros projetos no espaço. "Muitas missões da NASA têm isso como um feliz problema”, disse ela. “Os rovers de Marte que deveriam durar 90 dias duraram tipo 12 anos". Para ela, um plano coordenado para uma missão de longo prazo tem suas particularidades organizacionais.

Embora os cientistas saibam que, em algum momento, terão que passar o cargo para outros mais jovens, eles “não consideraram a frequência com que isso tem que acontecer para ser uma parte normal e esperada das operações da missão e não uma grande violação ou grande problema”, disse Vertesi. Ela comparou com os hospitais, onde transferências frequentes entre turnos ocorrem, e isso implica que médicos e enfermeiras elaboram listas de verificação e outros procedimentos para garantir que a transição ocorra perfeitamente.

Ilustração mostra a posição das sondas Voyager 1 e Voyager 2 fora da heliosfera, em pontos diferentes (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)
Ilustração mostra a posição das sondas Voyager 1 e Voyager 2 fora da heliosfera, em pontos diferentes (Imagem: Reprodução/NASA/JPL-Caltech)
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Em outras palavras, a equipe da próxima missão de longo prazo precisa não apenas saber que a transição ocorrerá várias vezes, mas também devem ser “bons em pensar e planejar", afirma a socióloga, que conduziu discussões com os pesquisadores para ajudá-los nessa tarefa. O astrônomo Carey Lisse, que está trabalhando no estudo da nova sonda interestelar, disse que essas sessões foram "muito diretas e nos fizeram pensar muito".

Lisse disse que, se a missão for mesmo lançada em 2036, ele terá 75 anos. “Isso significa que sei que não estarei nesta missão provavelmente por mais de dez anos após o lançamento. Isso não é apenas teoria ou apenas conversa. Vai acontecer várias vezes, provavelmente duas ou três vezes, pelo menos", concluiu. Será necessário prever como o programa precisará mudar ao longo do tempo.

O resultado dessas reflexões levou os pesquisadores a perceberem que eles terão que aprender a fazer previsões de como será a demografia da comunidade de cientistas e engenheiros de todo o mundo, pois a missão deverá ser para todos eles, e não apenas para a equipe original. Ou seja, ao “passar o bastão”, cada um deverá entregar o cargo com todas as ferramentas necessárias para que o sucessor possa assumir dali em diante.

Fonte: NPR