Voyager 1 revela "zumbido" do plasma interestelar pela primeira vez
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
O espaço entre as estrelas, conhecido como espaço interestelar, não é um grande “nada”, ou seja, não está livre da presença de partículas e plasma. É nesse plasma onde a sonda Voyager 1, lançada há 44 anos, está “nadando” desde o momento em que entrou no espaço interestelar. Agora, pesquisadores descobriram que os instrumentos da nave podem detectar o “zumbido” constante do plasma e enviar os sinais para a Terra.
Se você estiver em uma nave capaz de deixar os limites do Sistema Solar e viajar rumo ao desconhecido, longe de radiação do Sol e da poeira que há entre os planetas, ainda haverá muitas coisas imperceptíveis ao seu redor. Partículas como neutrinos e fótons estarão sempre presentes — e também o plasma, que é um dos estados da matéria, similar ao gás. Nesse sentido, a expressão “nadar” no universo pode não ser meramente uma figura de linguagem.
No caso da fronteira do Sistema Solar, delimitada pela heliosfera — a "bolha" protetora de partículas que vêm de outras estrelas —, o plasma é constante e uniforme, e as ondas emitidas por ele foram encontradas “acidentalmente” entre os dados da Voyager. "É muito fraco e monótono, porque está em uma largura de banda de frequência estreita", disse a estudante de doutorado em astronomia Stella Koch Ocker, que descobriu a emissão. O resultado foi um artigo publicado na revista Nature Astronomy.
Com esses dados, os cientistas poderão compreender melhor o meio interestelar e como as partículas ali presentes interagem com o vento solar e como a bolha protetora da heliosfera. Essa bolha é moldada e modificada pelo próprio ambiente interestelar e, segundo descobertas anteriores das duas sondas Voyager, contém “vazamentos” que ocorrem nos dois sentidos, isto é, de dentro para fora do Sistema Solar e vice-versa.
Mas a Voyager 1 não detecta apenas o sinal desse plasma. Na verdade, após entrar no espaço interestelar, o instrumento Plasma Wave System da sonda detectou perturbações no gás, em decorrência dos ventos solares e erupções do nosso Sol. Essas ondas eram como “detectar a explosão de um raio em uma tempestade”, de acordo com James Cordes, autor principal do artigo, enquanto o sinal do plasma interestelar “é como uma chuva tranquila ou suave", disse o pesquisador.
Foi entre os sinais dessas erupções solares que os autores descobriram a assinatura constante e persistente produzida pelo quase vácuo do espaço. O “zumbido” é fraco porque o meio interestelar é bastante tranquilo e a densidade do plasma é muito baixa. Ocker considera que há mais atividade de baixo nível no gás interestelar do se cogitava anteriormente, e o rastreamento desse sinal será importante justamente para medir e determinar as características desse plasma.
É a primeira vez que uma sonda humana consegue captar as ondas do meio interestelar sem a interferência constante de raios solares. “A Voyager está enviando detalhes”, disse o pesquisador Shami Chatterjee. “A nave está dizendo: 'Esta é a densidade na qual estou nadando agora. E aqui está a de agora. E aqui está a de agora. E aqui está a de agora'. A Voyager está muito distante e fará isso continuamente”.
Entretanto, para cada vez que a Voyager 1 enviar esses dados, haverá um longo tempo de espera, já que a taxa de comunicação diminuiu para 160 bits por segundo após atingir os limites do Sistema Solar. Ainda assim, Ocker afirma que “cientificamente, essa pesquisa é um feito e tanto. É uma prova da incrível espaçonave Voyager. É o presente da engenharia à ciência, que continua sendo oferecido”.
Fonte: Cornell Chronicle