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Casa TIM 5G: como a operadora imagina a 5º geração de internet móvel no Brasil

Por| 09 de Setembro de 2019 às 09h40

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Foto: Rafael Arbulu
Foto: Rafael Arbulu
Tudo sobre TIM

A operadora TIM inaugurou um centro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia 5G na cidade de Santa Rita do Sapucaí, interior de Minas Gerais. Situado dentro do Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL), o laboratório conta com diversas soluções que utilizam a conexão móvel de quinta geração da empresa, em diversas searas voltadas ao aprimoramento inteligente da vida de seus consumidores, desde a rotina do dia a dia até práticas de medicina modernizada e segurança pública.

Batizado de “Casa TIM 5G”, o local opera dentro da frequência 3,5 GHz para operacionalizar a parte de rede das soluções exibidas e corresponde à segunda ativação da conexão como um projeto inteligente da operadora: o primeiro ocorreu em Santa Catarina, na cidade de Florianópolis. Em ambos os casos, foram registradas velocidades médias de 1 Gbps.

“Parece uma coisa muito futurista, do tipo que você vê nos desenhos d’Os Jetsons, não é?” — comentou Leonardo Capdeville, ex-aluno do INATEL e atual CTO da TIM, durante apresentação do projeto, para o qual o Canaltech conferiu ao vivo, a convite da empresa. “É interessante olhar para esse tipo de coisa porque, olhando o passado, não haveria como prever que tudo isso estaria acontecendo. Há 30 anos, nós tínhamos o telefone fixo — aquele que a gente até botava um cadeado como controle de gastos —; em 1989 nasceu a web como a conhecemos aqui e, um ano depois, foi feita a primeira ligação de celular”.

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O executivo continuou: “Quem imaginaria que, três décadas depois, estaríamos onde estamos agora? E é assim aqui, na Casa 5G. Em 1989, ela era apenas uma república de estudantes. E hoje, é nela onde montamos a nossa estrutura 5G. Tudo evolui, incluindo a TIM: em 1999, começamos a operar no Brasil com a telefonia móvel. Em 2008, veio o nosso 3G, com voz e dados; em seguida — 2014 —, começamos a operar com o 4G. E agora, estamos em 2019, esperando que, em 2020, possamos operar o 5G no Brasil”.

A habilitação do 5G em Santa Rita do Sapucaí não foi feita à toa: o consenso da indústria de tecnologia brasileira mostra que a pequena cidade de pouco mais de 36 mil habitantes é um grande pólo tecnológico para estudantes do setor. A maior parte da cidade é ocupada pelas estruturas do INATEL, uma “cidade universitária” constituída de diversos prédios, com salas de aula, laboratórios de desenvolvimento de hardware e software, além, claro, de repúblicas estudantis que formaram alguns dos executivos presentes na apresentação.

A ideia não passou despercebida por Carlos Nazareth, um dos diretores do INATEL. O 5G estabelecido no local é resultado de uma parceria entre a instituição de ensino e a TIM, além da Ericsson para oferta de equipamentos de hardware e componentes. “Ao longo de nossos 54 anos, a pesquisa e o desenvolvimento em telecomunicações foram e são parte do contexto de vida do INATEL, nos ajudando a moldar o que nós temos em Santa Rita, atualmente. Esta cidade conta com cerca de 160 empresas de tecnologia, que empregam, aproximadamente, 14 mil pessoas, e nós temos, em média, 14,5 mil produtos aparecendo no mercado, ao longo desses anos. E foi neste cenário de 5G que nós conseguimos alguns progressos bastante interessantes: altas taxas em velocidade de download e upload, baixíssima latência para uso em práticas como a telemedicina e a possibilidade de criar-se um ecossistema que dê suporte a uma conexão de um número absolutamente grande de dispositivos conectados à internet”, ele comentou.

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O diretor acadêmico ainda falou sobre o papel do INATEL na criação de ambientes inovadores para a nova geração de conexão: "Este projeto agregará muito valor aos nossos programas institucionais. O foco é desenvolver soluções inteligentes para segurança, com aplicações de iluminação, monitoramento por vídeo e rastreamento de veículos, dentro do contexto de Internet das Coisas. As empresas e a instituição pretendem utilizar o 5G para implementar soluções de cidades inteligentes, criando uma rede com cobertura por todo o município. Ainda será possível instalar câmeras de segurança em todos os postes e implantar outras tecnologias, como soluções de identificação facial, estacionamento inteligente, entre outras", disse.

Tecendo elogios à Casa TIM, o presidente da Ericsson para o chamado “Cone Sul” (geograficamente, a área do continente americano situada ao sul do Trópico de Capricórnio), Eduardo Ricotta, ressaltou a longa parceria da empresa com a operadora, mencionando a participação da Ericsson no estabelecimento das conexões 2G, 3G, 4G e, agora, o 5G, nos negócios da companhia telefônica. “São mais de 30 anos de parceria com a TIM e mais de 50 com o INATEL e nos sentimos orgulhosos de estarmos aqui hoje. Eu também sou um ex-aluno da instituição e acho muito bacana ver como a tecnologia evoluiu nos últimos anos”.

“Em uma conta rápida, se pegarmos uma série de 10 capítulos da Netflix e fizéssemos o download de cada episódio, na conexão 2G, isso levaria cinco dias. Hoje, com a tecnologia 5G, que aumenta em até mil vezes a velocidade de conexão, podemos fazer isso em segundos. Apenas por isso, já podemos entender como essa será a infraestrutura mais importante da próxima década”, disse Ricotta. “É a tecnologia que conecta pessoas, cidades, sociedades, vai conectar o campo, que hoje é tão desprovido disso. Recentemente, estive visitando uma fazendo em São Paulo, provida de mil colheitadeiras, totalmente desconectada. Cada uma dessas máquinas custa, em média, R$ 1 milhão. Sabe como a programação delas é feita? Uma vez por semana, um técnico grava dados de atualização em um pen drive e entrega aos pilotos delas. Agora, imagine um campo de colheita totalmente conectado: se conseguirmos aumentar a eficácia do agronegócio em apenas 1%, estamos falando de mais de R$ 15 bilhões de economia que o 5G pode dar ao país”. O executivo argumentou que o setor agro é responsável por uma média de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

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Mas por que agora e não antes?

O conceito de aplicar conexões ultrarrápidas às cidades inteligentes não é novo e possui até um nome específico: “Indústria 4.0”. Alvo de conversas entre executivos de várias empresas ao redor do mundo, essa conceitualização é o que rege coisas como automação de processos industriais e o emprego da inteligência artificial em mercados de fabricação de bens. Sua aplicabilidade vem sendo discutida desde quando o 4G era a novidade.

“Embora essas discussões venham desde lá de trás, nós não estávamos preparados para aplicar isso de uma forma massiva”, contou Leonardo Capdeville em conversa com o Canaltech. “Se a gente fala do uso de telemedicina, por exemplo, a largura de banda necessária para isso é muito alta, então dificilmente você poderia fazer isso com outra tecnologia. Por outro lado, a questão da latência é a parte mais crítica: se você tem que esperar vários milissegundos para que um comando ou tarefa seja executada na outra ponta da conexão, você sai perdendo. Com o 5G e sua latência consistentemente menor, isso é quase instantâneo. Então o que vemos de diferente aqui em relação às tecnologias anteriores, é que com o 5G, algumas barreiras técnicas estão sendo quebradas, permitindo uma banda maior para transmissão de dados em vídeo, imagem e mídia, além de reduzir muito a latência”.

“Podemos ter a rede, mas sem um ecossistema de aplicação e uso para ela, novamente teremos uma oportunidade desperdiçada. Por isso que a nossa parceria com o INATEL e a Ericsson é importante, pois ela tem o sentido de criar esse ecossistema”, o CTIO da TIM nos contou. “Santa Rita do Sapucaí é conhecida por alguns como ‘o Vale do Silício brasileiro’ — aqui, é a melhor chance que temos de fazer com que essas ideias venham a surgir. Com a mentes brilhantes daqui, podemos ver o 5G sendo testado em condições reais, e isso fará com que nós não tenhamos que perder novas oportunidades”.

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5G na prática: como ele funciona, afinal?

Depois de uma longa apresentação do projeto, a TIM levou o Canaltech e outros jornalistas convidados a uma série de demonstrações de aplicação da nova geração de conexão de dados em ambientes específicos. Dentro da Casa TIM, diversas estações contendo uma série de soluções estavam dispostas, comandadas por monitores e representantes de diversas empresas. Capdeville coordenava o “tour”, ressaltando que o que estávamos prestes a ver não era o 5G como o público massificado poderia antecipar: na verdade, a ideia de ver o símbolo “5G” como uma conexão no seu smartphone parece, aqui, ser a última parte de um processo com várias fases anteriores.

Ao preço de contar o final antes, a TIM preparou a apresentação musical de uma banda, separando seus membros em duas equipes: vocalista e guitarrista estavam na sacada da Casa TIM, enquanto baterista e baixista estavam em um prédio mais afastado do INATEL. A situação remete ao ano de 2015, onde a operadora veiculou o que chamou de “primeiro comercial de TV transmitido via 4G”. Na ocasião, porém, o comercial havia sido gravado anteriormente (via transmissão de chamada em 4G, similar ao que se vê hoje com o Hangouts) e posteriormente veiculado no horário nobre da TV Globo.

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Não é o caso aqui: a banda pode até ter ensaiado antes (as músicas eram composições próprias, afinal), mas a transmissão de imagem e vídeo entre um ponto e outro realmente parecia muito sinérgica, e não houve engasgos durante a jam session dos músicos, que executaram as canções com precisão, mesmo estando bem distantes entre si.

Mas foram as demonstrações que antecederam ao musical que chamaram a atenção do potencial do 5G:

Smart Home

Talvez a demonstração mais óbvia — mas nem por isso, menos interessante — fosse a aplicação do 5G no controle de aplicações inteligentes da casa. Comandada por Fabricio Habib, gerente geral e chefe da área de produtos da fabricante coreana LG, a apresentação mostrou aspectos já conhecidos por alguns, mas que ainda não passam de sonho para a maioria dos brasileiros: controle de temperatura do ar condicionado por meio de app no smartphone, alertas e controle do processo de lavagem de roupas em uma aplicação instalada na smart TV da sala, além de diversas aplicações digitais em uma geladeira/freezer inteligente, que permitia coisas como visualizar os alimentos dentro do eletrodoméstico sem ter que abrir a porta (o que, segundo Fabricio, contribuiria para a economia de gastos de eletricidade), além do controle de temperatura e refrigeração dos itens.

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Fabricio controlava a maior parte das aplicações por meio de um smartphone V50 ThinQ, o “dobrável” da LG que deve concorrer com o Galaxy Fold (Samsung) e o Mate X (Huawei). O executivo aproveitou para confirmar que o dispositivo chega ao Brasil até o Natal de 2019, a um preço “mais acessível” que seus concorrentes. Falamos detalhadamente sobre isso na última semana. Os vídeos abaixo resumem a apresentação.

Telemedicina

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Em um outro cômodo da casa (que Capdeville disse ser o seu quarto nos tempos de estudante do INATEL), somos apresentados a uma monitora do INATEL e...uma gestante deitada em uma maca. Na tela, um fundo escuro com borrões de cinza e diversas métricas denunciam: exame de ultrassom.

A paciente disse estar grávida de sete meses e, enquanto deitada na maca, teve a barriga examinada por um controle de ultrassom, não muito diferente do que se vê em hospitais tradicionais. O diferencial aqui residia na luva com sensores vestida pela monitora. Ela não é a médica, vale citar. A especialista obstetra estava em outro prédio, prestando a chamada via teleconferência, oferecendo instruções de movimentos e leituras da imagem produzida pelo ultrassom.

O interessante aqui é que a luva é que parecia ditar os pontos certos de movimento (indicando sentido de movimento, profundidade do toque). Segundo a explicação na demonstração, os sensores do aparelho vibravam, indicando uma certa ação: se a vibração fosse no dedo mínimo da luva, o controle deveria ser movido em uma direção; se fosse na palma, em outra.

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Pela conexão 5G da TIM, por onde o “tele-exame” era conduzido, foi possível perceber a total ausência de engasgos (stuttering) na chamada de vídeo, atestando para a qualidade da conexão e do sinal. A baixa latência também permitia que comandos de vibração emitidos pela luva fossem recebidos na outra ponta da conexão quase que imediatamente.

Monitoramento climático e segurança

A TIM também demonstrou um sistema de monitoramento de desastres que constituía de um ou dois monitores em tela, conectados a um headset de realidade virtual (um Oculus Rift, para ser exato, mas os monitores disseram que qualquer um serviria). As telas exibiam exatamente o que o demonstrador enxergava pelo aparelho: uma maquete virtual completa da cidade de Las Palmas, localizada nas Ilhas Canárias, na Espanha.

Na demo, vimos desde eventos climáticos mais simples, como a antecipação de chuvas fortes, até desastres potencialmente perigosos, como a entrada de furacões vindos das regiões litorâneas. Capdeville disse que esse tipo de interação virtualizada tem a serventia de trazer uma resposta mais imersiva e com maiores dados a um evento do tipo, e que a conexão 5G da TIM trazia largura de banda o suficiente para que esses dados pudessem ser recebidos em larga escala, para uma avaliação densa.

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E quando tudo isso chega?

Durante a GameXP, em julho deste ano, a operadora Oi disse esperar que o estabelecimento comercial da conexão 5G viesse em meados de 2021. De lá para cá, porém, alguns parâmetros mudaram: o leilão de frequências de rádio, por onde a nova conexão deve operar estava inicialmente previsto para março de 2020. Em agosto, porém, essa ocasião foi adiada para uma data ainda não determinada do ano que vem.

A TIM, durante o evento, ponderou o adiamento, especulando que tudo deve estar disponível em variados graus em meados de 2021, mas sem se comprometer com um momento específico. Considerando que tudo o que vimos durante o HackTown 2019 traz significativos impactos dentro de várias indústrias brasileiras, é seguro afirmar que as soluções não serão imediatamente dispostas, chegando gradualmente para o público em momentos diversificados.

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É importante ressaltar que, a um público mais leigo, interessa saber apenas quando o ícone do “5G” deve aparecer na tela do seu smartphone. O projeto de pesquisa e desenvolvimento que a Casa TIM traz não é focado nessa parte, embora ambos sejam correlacionados. O que a operadora está fazendo junto de seus parceiros nos dá a impressão de que há todo um desenvolvimento tecnológico correndo por fora da realização do leilão, e espera-se apenas a aprovação final da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), via o adiado leilão, para que isso tudo tome um efeito mais prático.

Fora isso, existe a questão do preço: valores não foram mencionados em nenhum momento da apresentação ou demonstrações, mas na área de smart home, por exemplo, monitores da LG confidenciaram que a geraldeira usada nos testes custa entre R$ 13 mil e R$ 17 mil. Não é, digamos, algo que possamos classificar como "acessível".

É esperar para ver, mas dado o ritmo lento que as negociações ao redor do leilão vêm tomando, é provável que tenhamos pelo menos uns dois anos de aguardo.