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Apple tenta explicar quantidade massiva de apps falsos na App Store

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Abril de 2021 às 23h20

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felipepelaquim
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Kyle Andeer, gerente de conformidade da Apple, passou por maus bocados nesta última quarta-feira (21) — ele foi sabatinado pelo Senado dos EUA em uma audiência antitruste contra a companhia. Dessa vez, porém, as questões se focaram em um assunto bastante delicado: a quantidade massiva de aplicativos falsos (scams) que existem na App Store e que lucram milhões de dólares enganando os usuários com assinaturas caríssimas. Geralmente, tais softwares usam reviews também falsificados para ganhar visibilidade.

Trata-se de um problema que começou a ser levantado recentemente por programadores e pela própria mídia especializada. A “guerra” começou em março, quando Kosta Eleftheriou, desenvolvedor do famoso app FlickType, identificou uma versão copiada de sua obra sendo comercializada na App Store e lucrando quase US$ 2 milhões nas costas dos internautas que acreditavam estar usando a edição legítima. Eleftheriou ficou tão furioso que iniciou uma campanha no Twitter para denunciar esse tipo de golpe — além de processar a Maçã.

Durante a audiência, o senador Jon Ossoff, do estado da Geórgia, perguntou ao executivo da Apple qual é a dificuldade da companhia de frear esse tipo de atividade, já que seria “trivialmente fácil identificar os golpes”. O político chegou ao ponto de criticar a empresa de só tomar uma atitude após ser avisada através de “relatórios colaborativos e jornalistas”; uma clara referência ao caso de FlickType, que, na época de suas reclamações, ressaltou o quão fácil era identificar um scam.

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“Infelizmente, segurança e fraude são um jogo de gato e rato. Qualquer varejista dirá isso a você. Por isso, trabalhamos constantemente para melhorar”, respondeu Andeer, garantindo que a corporação investe “dezenas de milhões, centenas de milhões de dólares” (uma provável hipérbole) para aumentar a segurança da App Store. Ademais, o executivo ressaltou que a situação seria ainda pior caso o sistema operacional iOS fosse aberto para o funcionamento de lojas de terceiros, como ocorre no rival Android.

“Ninguém é perfeito, mas acho que mostramos repetidamente que fazemos um trabalho melhor do que os outros. Acho que os riscos reais de abrir o iPhone para sideload [instalação direta de apps através de arquivos baixados localmente] ou lojas de aplicativos de terceiros é que esse problema só vai se multiplicar. Se olharmos para outras lojas de aplicativos por aí ou olharmos para outras plataformas de distribuição, ficaremos assustados”, acrescentou o chefe de conformidade.

Lucrando com o crime

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O problema é que, vale lembrar, a App Store fica com 30% de toda transação ocorrida dentro dos aplicativos oferecidos, o que inclui as assinaturas. Isto posto, tem muita gente por aí — incluindo Eleftheriou — que acredita que a Maçã não faz um pente fino em sua loja justamente porque, de uma forma ou de outra, ela ganha uma fatia generosa dos lucros obtidos pelos criminosos com os softwares falsos. Por isso, o senador Ossoff foi bem incisivo e questionou: “A Apple está lucrando com essas práticas abusivas, não está?”.

Possivelmente com suor respingando em sua testa, Andeer garantiu que não. “Se encontrarmos uma fraude, se encontrarmos um problema, somos capazes de resolver isso rapidamente. E é o que fazemos todos os dias”, garantiu. Porém, o representante da Maçã confessou que os consumidores só são ressarcidos das cobranças indevidas caso eles mesmos abram um chamado reportando o golpe. Nesse ponto, Andeer foi enfático em dizer “um consumidor” e não “todos os consumidores”.

Ou seja, levando em consideração que muitos internautas nem sequer sabem da existência dessas ferramentas de reclamação, a Apple pode sim estar lucrando com atividades criminosas dentro da App Store. “Obviamente, há uma equipe dedicada aqui na Apple que trabalha nisso todos os dias. Mas meu entendimento é que trabalhamos muito para garantir que o cliente esteja satisfeito por completo. Esse é o nosso foco no final do dia. Se perdermos a confiança de nossos clientes, isso vai nos prejudicar”, finaliza Andeer.

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A audiência, é claro, não convenceu pessoas como Eleftheriou. “A falta de respostas da Apple às grandes perguntas do senador Ossoff na audiência deveriam irritar todos nós. Eles não deram nenhuma explicação do porquê é tão fácil para pessoas como eu continuarmos encontrando golpes multimilionários que acontecem sem verificação na App Store há anos. Eles também não deram uma resposta clara se são responsáveis por atividades fraudulentas em sua loja”, declarou o desenvolvedor ao TechCrunch.

O programador continua: “A Apple parece lucrar com esses golpes, em vez de devolver todas as receitas associadas aos usuários afetados, quando eles atrasam alguns deles. Já faz mais de uma década que deixamos a Apple avaliar seus próprios deveres de casa. Exorto o comitê a ir ao fundo dessas questões, incluindo a decisão desconcertante da Apple, anos atrás, de remover a capacidade dos usuários de sinalizar aplicativos suspeitos na App Store”, finaliza.

Cuidado com o fleeceware

Os tais golpes encontrados na App Store (e também na Google Play Store) têm um nome para especialistas em segurança da informação: fleeceware. Tratam-se de aplicativos que não são exatamente maliciosos (no sentido de não roubar dados do usuário final) e que podem até cumprir aquilo que prometem. Porém, eles cobram uma assinatura excessivamente alta, geralmente após um curto período de “teste grátis”, e a vítima só percebe que foi enganada quando recebe a fatura de seu cartão de crédito.

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Em sua jornada para alertar os internautas, Eleftheriou encontrou diversos casos que assustam, incluindo uma carteira de criptomoedas que roubou US$ 600 mil em bitcoins de um único usuário; um jogo infantil que possuía um cassino escondido e uma VPN que cobrava um total de US$ 5 milhões por ano. Eis a importância de sempre checar o nome do desenvolvedor responsável antes de baixar um aplicativo e prestar atenção aos reviews; quando falsos, eles costumam ser um tanto robóticos e levianos.

Fonte: Yahoo! Finance