Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

A Apple acertou ou errou ao remover o conector de áudio no iPhone 7? (Parte 3)

Por| 16 de Setembro de 2016 às 23h15

Link copiado!

A Apple acertou ou errou ao remover o conector de áudio no iPhone 7? (Parte 3)
A Apple acertou ou errou ao remover o conector de áudio no iPhone 7? (Parte 3)

Tratamos da falsa premissa da "infalibilidade Apple" na primeira parte deste artigo, um pressuposto errado de que a empresa acerta sempre. Não é algo que se resume somente à Apple, mas é algo mais comumente associado a ela. Já na segunda parte exploramos como os formatos de áudio mudaram com o tempo, raramente priorizando a qualidade de som. Isso não chega a ser de todo ruim, já que a praticidade ganhou pontos o suficiente para justificar essas mudanças. A remoção do conector analógico foge dessa tendência, não sendo nem necessário para a melhoria do áudio, nem para aumentar ainda mais a praticidade – é, na verdade, o contrário.

Vamos agora à última parte: tentar prever se esse novo posicionamento fará sucesso ou não, usando, para isso, certos padrões de comportamento da indústria de tecnologia. Que tecnologias surgem e desaparecem não há dúvidas, mas isso não quer dizer que qualquer movimento feito por qualquer empresa fará sucesso apenas "porque a empresa quer". E é esse exatamente o primeiro assunto dessa última parte.

Padrão é diferente de popularidade

Acreditamos que nem quem defende a remoção do conector de áudio acredita que isso criará um efeito em cascata tão grande a ponto de influenciar todos os fabricantes a adotarem posturas semelhantes. Um dos motivos para isso é, como vimos, não haver a menor necessidade de um padrão novo. Acredite: quem busca uma melhor qualidade de áudio não está contando com o smartphone para isso, e sim com equipamentos especializados, e a grande maioria deles usa conectores P2, P10 (aquele um pouco maior) ou uma conexão ainda mais específica, como o XLR.

Continua após a publicidade

A decisão da Apple em abandonar várias tecnologias fazia sentido também pelo fato de que toda a indústria compartilhava esses padrões. Disquetes, DVDs, e outros não eram exclusivos da Apple. O Lightning é.

Mesmo porque, o Lightning é exclusivo da Apple, então o fabricante que optar por usar somente essa conexão estará restringindo bastante o seu mercado consumidor. E é exatamente por isso que a Apple incluiu um adaptador Lightning-Analógico (com um DAC incluso). O mesmo não ocorre com os fones de ouvido sem fios, porém, que já existiam antes de alguém ter a ideia de remover o conector de áudio. Só que este coexiste com os fones comuns – alguns até suportam tanto o Bluetooth quanto o conector analógico –, e mesmo assim eles não eliminaram o padrão existente.

É claro que será um padrão, o que não quer dizer que vá se popularizar. A probabilidade de a Apple retornar com esse conector na próxima versão do iPhone é algo entre 0 e negativo, o que não chega a ser tão ruim para seus usuários, já que eles se ajustarão a isso com o passar do tempo assim como se ajustaram à ausência de cartões microSD e à bateria pequena. Agora, isso quer dizer que os concorrentes – os fabricantes com Android – farão o mesmo com o USB tipo C, como o Moto Z? Muito, mas muito difícil. Por que é difícil?

Continua após a publicidade

Mercado

A Apple é, talvez, a única empresa que consiga efetuar mudanças do tipo. Todos os iDevices são projetados por ela, assim como o iOS, então mesmo que o usuário não fique muito satisfeito com algo, não tem muito para onde correr. E abandonar completamente uma plataforma é um movimento radical e tanto, já que o usuário deve aprender um novo sistema, comprar novamente seus apps, acessórios, e por aí vai. Essa dominância garante um controle fantástico para a Apple de continuar vendendo sem se preocupar muito com quem gostou ou não de uma certa mudança.

Usuários já trocam cada vez menos de smartphones exatamente pela falta de novidades que justifiquem esse investimento. Tirar recursos nos novos aparelhos faz ainda menos sentido.

Continua após a publicidade

No Android a música toca de um jeito diferente: se o usuário não está satisfeito com uma empresa, independentemente do motivo, tem toda a liberdade para escolher um novo fabricante. Isso significa que se um fabricante forçar demais a barra, as chances de perder o consumidor são bem altas, já que ele não está preso a uma marca específica. Se o usuário não concordar com a remoção de conector analógico, basta escolher outro aparelho. "Ah, mas e se todos os fabricantes abandonarem esse conector?".

Esse cenário jamais acontecerá. Basta um fabricante vender o smartphone com o conector de áudio para concentrar toda a demanda. E aqui entre nós: usuários estão trocando de smartphones com cada vez menos frequência, então irritá-los é bastante arriscado. Já no caso do iPhone, se o usuário não concordar com uma mudança, só tem uma escolha: abandonar toda a plataforma, um custo (em todos os sentidos) bastante alto e que raramente acontece na prática.

Então... a Apple acertou ou errou?

É aqui que temos o "pulo do gato", pois, na verdade, a resposta é completamente irrelevante. Em primeiro lugar por não ser uma mudança drástica, que, sozinha, irrite tanto o usuário que ele acabe mudando de plataforma somente por isso. Em segundo lugar, os fãs da Apple não têm lá muita opção se quiserem continuar com o iPhone. Ou aceitam a mudança ou mudam de plataforma. O usuário não tem escolha entre dois iPhones, um com o conector e outro sem, então ou aceita tudo ou recusa tudo.

Continua após a publicidade

Revolucionário por revolucionário, o Moto G Music Edition de primeira geração deixa a Apple no chinelo.

Agora, se a Apple acertou? Acreditamos que não. Remover o conector analógico é nada mais do que um pretexto, já que a "revolução sem fios" não implica, necessariamente, em obrigar o usuário a investir em você para participar dela. Essa "revolução" sem fios não necessita do iPhone 7 para acontecer. Basta comprar qualquer smartphone com Bluetooth e um fone compatível, e não precisa nem gastar muito para isso. Revolução por revolução, o Moto G original Music Edition (2013), que trazia o Tracks Air da Sol Republic, é muito mais revolucionário (e tem muito mais qualidade a oferecer) do que o iPhone 7.

Não é necessário "coragem" para remover esse conector, mas sim para convencer o usuário de que a Apple optou por não deixar o iPhone 2 mm mais espesso para abarcar uma entrada P3, de quebra aumentando a capacidade de bateria. Aliás, um iPhone com uma bateria mais competente é um adepto muito mais gabaritado para uma "revolução wireless", já que nada adianta escutar música com um fone Bluetooth enquanto o seu iPhone está carregando pela terceira vez no dia. E com fios, claro, já que a Apple deixou de fora o carregamento sem fios (não faria sentido ter esse recurso? Afinal, não é para não usar fios?).

Continua após a publicidade

Como empresas de internet fazem, a Apple criou um problema para vender soluções.

Argumentos para deixar esse conector fazem muito mais sentido dos que os que defendem o seu abandono. Mas, como dissemos, isso não faz a menor diferença. O mercado é supremo nesses quesitos, e compra o novo iPhone quem quiser. De um lado, é uma mudança nonsense. Do outro, vale a pena abandonar uma plataforma inteira para isso? É um "recurso" a menos, independentemente do que a Apple ou os usuários tentem racionalizar.

Se você acha que a Apple exagerou nesse ponto, basta não comprar o aparelho. Se você é fã da marca e não vê problemas nessa remoção, compre o aparelho, mas sabendo que, independentemente do que a Apple fale, você está pagando em um aparelho novo com um recurso a menos.