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A Apple acertou ou errou ao remover o conector de áudio no iPhone 7? (Parte 1)

Por| 12 de Setembro de 2016 às 23h29

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A Apple acertou ou errou ao remover o conector de áudio no iPhone 7? (Parte 1)
A Apple acertou ou errou ao remover o conector de áudio no iPhone 7? (Parte 1)

Ainda que seja difícil mensurar a participação de cada lado, há uma divisão clara. Primeiramente, temos os que criticam a remoção do conector da entrada P3 de áudio dos novos iPhones, sendo o principal argumento o fato de a Apple fezer isso somente para lucrar com a venda de modelos Bluetooth ou Lightning. Fora eles, muitos defendem que esse conector deve realmente ir embora, já que tem mais de 100 anos e já cumpriu seu papel. Ou seja: deve ir embora em favor de um padrão mais moderno, que ofereça mais qualidade.

Já fizemos uma crítica à possível (à época) remoção do conector de áudio do iPhone 7 quando este ainda não era oficial, mas nosso objetivo aqui é diferente. Vamos fazer um exercício teórico neutro aqui, analisando aqui quais são as implicações dessa mudança não somente para a Apple, mas para o mercado como um todo. Nossa inspiração para isso é um discurso de Steve Jobs feito em 2010 (abaixo) sobre como a Apple trabalha, defendendo a remoção de alguns componentes – o que, com o tempo, acabou se revelando uma decisão acertada.

Steve Jobs estava certo?

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Se levarmos em consideração como o mercado está atualmente, a Apple de fato acertou ao remover as tecnologias acima. Aliás, boa parte do poder de marca da empresa é exatamente a coragem em fazer essas mudanças, muitas vezes antes de todo mundo. Essa é uma das grandes vantagens de possuir um controle cirúrgico em todo o seu portfólio, obtido pelo fornecimento tanto do hardware (dos Macs aos iDevices) e do software (OS X e iOS), algo que seus concorrentes não têm, sejam eles o Google, a Microsoft ou a Samsung.

Hoje pertencentes aos museus de tecnologia, onde devem estar, os disquetes foram motivo de muita discussão quando foram abandonados.

Como o próprio Steve Jobs diz, a Apple abandonou o disquete de 5,25'' em favor do disquete de 3,5'' nos Macs, tornando-os populares. Isso antes de qualquer fabricante, vale lembrar. Em 1998, os iMacs não traziam mais entrada para disquetes. O próximo passo foi eliminar a compatibilidade com cabos e conectores seriais e paralelos (este bastante utilizado em impressoras, na época) em favor do USB, que hoje é praticamente onipresente em qualquer máquina, sobrevivendo ao tempo com sucesso depois de passar por revisões periódicas (USB 1.0, 2.0, 3.0, etc.) que oferecem taxas mais robustas de transferência sem quebrar compatibilidade.

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Detalhe das conexões de uma placa-mãe antiga, com conexões PS/2, porta serial, porta paralela e VGA, todos raramente encontrados em produtos mais modernos. O VGA ainda não sumiu, mas está desaparecendo do mercado.

Sim, essa retrocompatibilidade do USB, além de sua adoção quase universal, é um dos motivos do seu sucesso. Isso hoje, já que o abandono das conexões dos padrões mais antigos em favor do USB quebrava qualquer compatibilidade existente na época, e a Apple foi uma das primeiras empresas a perceber que esse seria o futuro. Não podemos nos esquecer também que, à época, muitos criticaram essa decisão, e mesmo assim a Apple insistiu e acabou acertando suas previsões.

Próximo passo: discos ópticos. Atualmente, não há um produto sequer da Apple com suporte a discos ópticos, seja Mac mini, MacBook, MacBook Air, MacBook Pro, iMac ou Mac Pro. Sim, o MacBook White é um ponto fora da curva, mas ele já deixou de ser fabricado há tempos. Estamos na sexta geração de processadores Intel e detalhes sobre a sétima já estão bem delineados, enquanto esse modelo ainda vem com a terceira geração, e só continuou a ser vendido por ter sido encostado nas prateleiras.

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Até mesmo os Mac minis traziam suporte a discos ópticos.

Ainda há uma boa quantidade de notebooks que ainda trazem drives de CD, DVD ou Blu-Ray, mas eles estão se tornando cada vez mais raros. E, de fato, o espaço ocupado pelos drives ópticos, já que sua utilidade é consideravelmente menor hoje (se é que há alguma) pode muito bem ser utilizado para fins mais úteis. Pode-se tanto instalar uma bateria de maior capacidade, um sistema de refrigeração mais eficiente, um segundo disco de armazenamento ou mesmo tornar o modelo mais fino.

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Sem entrarmos em detalhes específicos, a Apple comumente questiona padrões. No caso do Mac Pro, por exemplo, ela mostrou que uma máquina de alto desempenho não precisa trazer o tamanho de um desktop convencional.

Ou seja, considerando a forma como o mercado interpretou essas mudanças e se adaptou a elas, a Apple acertou. Não somente acertou como também assumiu o risco de implementar essas mudanças antes de todos, isso em meio a críticas e revoltas dizendo que a empresa estava errada. Atualmente é bastante confortável dizer que o USB é superior às conexões paralelas, mas isso não era tão óbvio assim. Então, a Apple teve "coragem" (usando a palavra atual para defender a remoção dos conectores P3).

Considerando isso, é compreensível que muitos defendam a remoção do conector de áudio, já que, afinal, a Apple estava certa diversas vezes através das década. Ato contínuo, muitos dão um voto de confiança de "ato revolucionário", ainda que não sem um embasamento teórico. Algo como "a Apple sabe o que faz". Aliás, muitos concorrentes adotam decisões de design em seus produtos exatamente pelos palpites da Apple. Mas até onde o sucesso dos palpites acertados no passado implicam que novos palpites estarão certos?

Steve Jobs SEMPRE acertou?

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Já viu como a maioria das pessoas descreve uma situação no trânsito? Relatos do tipo dizem algo como "estava eu, na minha faixa, andando abaixo do limite quando um louco me fechou! Por sorte eu não estava usando o smartphone, não bebi uma gota de álcool e consegui evitar um acidente de forma preventiva, atitude segura no trânsito que sempre tive e sempre terei". Governos terminam seus mandatos contando apenas onde acertaram. Compartilhamos principalmente nossas histórias de sucesso no Facebook. E empresas destacam somente seus acertos, raramente fazendo um mea culpa quando erram.

Comercial de 1984, inspirado no livro de George Orwell.

A Apple acertou bastante em sua história, como os exemplos acima mostram. Quase todas as mudanças ressaltadas por Steve Jobs se referem aos Macs. Curiosamente, porém, a Apple impediu Steve Jobs de cometer um erro quase crasso no primeiro Macintosh, em 1984. A demonstração do "Hello" foi executada em um modelo que usava 512 KB de memória RAM, e diversos recursos mostrados na apresentação (incluindo o próprio "Hello") não poderiam ser executados na versão que Steve Jobs queria porque queria vender, com 128 KB, já que ele não reconhecida a necessidade de mais memória (e estava errado).

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O que Steve Jobs não falou em sua entrevista, além do Macintosh original, incluei, por exemplo, o MessagePad com o Newton OS (1993), um dos grandes fracassos da empresa. Outro? O Apple Lisa, que foi um fracasso de vendas. Ou o Power Mac G4 Cube, o Apple Pippin (um console), ou o "Hockey Puck" (aquele mouse redondo com apenas um botão), apenas para citar alguns exemplos. Produtos que a Apple apostou pesado como sucesso garantido e que acabaram fracassando.

Diferente? Sim. Se mostrou superior aos mouses comuns? Muito longe disso. Até mesmo fãs da Apple criticam o mouse "Hockey Puck",

Os erros da Apple estão longe de serem poucos, e o mesmo pode ser dito de seus acertos. E é exatamente esse o foco dessa primeira parte: mostrar que a Apple acertou sim, mas também errou muito (e mencionaremos vários outros de seus erros, ainda). Essa informação é essencial para desconstruirmos o mito da "infalibilidade Apple", a garantia automática que uma tendência prevista será automaticamente acertada apenas porque a Apple diz que é tendência. Na segunda parte vamos começar a analisar pontos técnicos da escolha da remoção do P3, dando uma de oráculo para vermos se isso foi acertado ou não.

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Fontes: Tech Land, CNET, PcMag