Como utilizar seu celular para pagamentos no Brasil
Por Joyce Macedo | 29 de Outubro de 2012 às 10h10
Em um país que possui 258,9 milhões de celulares ativos e 36% da população não possui conta em bancos, as opções de pagamento via celular surgem como uma boa ferramenta. NFC, QR Code, SMS são algumas das tecnologias que podem transformar o seu aparelho em uma espécie de cartão de crédito ou débito, efetuando pagamentos sem muito esforço.
Conhecido como Mobile Payment, M-Payment ou simplesmente Pagamento Móvel, essa é uma ideia que vale a pena conhecer melhor. Mas, apesar de existir uma série de maneiras diferentes para realizar operações via celular, isso ainda não é muito comum no Brasil. Afinal, você sabe quais são as opções disponíveis no país quando tratamos de pagamentos móveis?
Possibilidades já existentes para você
Por mais que você nunca tenha experimentado, já é possível comprar medicamentos, colocar crédito no seu celular pré-pago, pagar contas e até mesmo uma corrida de táxi, utilizando apenas uma plataforma móvel. Para os lojistas, as taxas cobradas pelos pagamentos feitos com SMS, por exemplo, geralmente são mais baixas do que as das transações convencionais por cartões de crédito.
Uma empresa especializada em medicamentos especiais, a 4BIO, mandou desenvolver seu próprio sistema para pagamentos móveis. Por se tratar de um segmento muito específico, eles tiveram que desembolsar R$ 150 mil para conectar sua loja virtual a plataformas mobile. O sistema funciona em smartphones e tablets que rodam iOS, Android e Blackberry.
O consumidor pode escanear a receita médica, enviar por meio da ferramenta desenvolvida pela 4BIO e, além de receber a cotação de preços dos medicamentos, ele já pode efetuar o pagamento do pedido.
"A consolidação da nossa plataforma mobile é a realização de um trabalho que tem como principal foco a facilidade para o nosso consumidor. Estamos muito orgulhosos de sermos os primeiros a proporcionar esta modernidade aos clientes e temos a certeza de que o novo serviço será um sucesso", comenta Andre Kina, CEO da 4BIO.
Algumas operadoras de telefonia também oferecem seu próprio serviço de pagamento para os clientes. É o caso da Oi, e, mais recentemente, a Vivo.
O Oi Paggo existe desde 2006, e já possui 250 mil clientes e 75 mil lojistas cadastrados. Para realizar pagamentos utilizando essa ferramenta, o usuário recebe uma mensagem de confirmação da compra, depois pode concordar ou não com o pagamento e, posteriormente, terá que digitar sua senha para que a compra seja realizada com sucesso.
A Freeddom, empresa de soluções mobile, é a responsável pelo sistema Oi Paggo, que é um produto de crédito utilizado como meio de pagamento pelos clientes da operadora. Os usuários podem adquirir bens e serviços nas lojas afiliadas apenas utilizando o celular. A companhia também é responsável pelo desenvolvimento e implementação de uma solução mobile para transações financeiras na Nigéria.
Já a parceria entre a Vivo e o site PayPal é bem mais recente - ela foi oficializada em agosto de 2012. O serviço utiliza a tecnologia USSD, similar ao SMS, que envia os dados do usuário e do seu cartão de crédito como uma mensagem de voz. O valor das compras efetuadas pelo serviço é enviado para a fatura do cartão de crédito do cliente. Em caso de recebimentos, o dinheiro é encaminhado para a conta do usuário no PayPal.
Outra tecnologia recente foi criada pela brasileira Tivit. Ela desenvolveu o Pagcell, uma solução de pagamento móvel offline, cujo grande diferencial é funcionar independentemente de uma operadora de telefonia ou de comunicação via NFC. Basta que o usuário faça o download do aplicativo PagCell, já disponível para diversos sistemas operacionais e fornecido pelo banco ou empresa de cartões. Com o app instalado, sempre que precisar realizar algum pagamento, é gerada uma chave visual do tipo Token – de modo offline – que pode ser lida por uma câmera de outros dispositivos móveis ou até pela webcam de um computador.
No que diz respeito à tecnologia NFC, a PagSeguro fez sua estreia no Brasil em abril deste ano. A empresa é a pioneira da categoria no país e funciona por meio de um aplicativo instalado no smartphone do usuário. Na hora da compra o vendedor, com outro aparelho, digita o valor a ser pago, depois basta aproximar os celulares, escolher o cartão de crédito que deseja usar, e o pagamento é realizado.
Uma discussão sobre os pagamentos móveis no Brasil está tramitando na Casa Civil e a ideia é diminuir os custos das transações financeiras. Nessa segunda-feira (29) o ministro das telecomunicações, Paulo Bernardo, disse que vai encaminhar o texto para aprovação no Congresso dentro dos próximos dias.
"É uma necessidade. Precisamos reduzir os custos [das operações bancárias]. As operadoras vão ganhar, os bancos vão ganhar, mas acho que o grande benefício será a redução do custo para o consumidor", disse o ministro.
A ideia do Ministério é transformar o celular em uma carteira eletrônica, e estabelecer uma maneira de exigir tecnologias que permitam a comunicação entre todos os usuários, sem exclusões. A nova lei também deve garantir que o dinheiro do cliente não fique com a operadora de telefonia, para evitar possíveis perdas em caso de falência das instituições, por exemplo.
Se aprovada, essa lei irá padronizar o sistema de pagamento móvel no país, permitindo que as pessoas utilizem seus aparelhos para fazer transferências e pagamentos, a partir de um limite que deve ser estipulado e regulamentado pelo Banco Central.
E no mundo?
Um estudo realizado pela ACI Worldwide em parceria com a Aite Group analisou o perfil dos 'Smartphonatics'. O termo é utilizado para definir consumidores que mudaram seu comportamento em relação a compras, finanças e pagamentos por conta da adoção dos smartphones.
Quando o assunto abordado é pagamento móvel e mobile banking, dos 14 países estudados, o Brasil tem a terceira maior porcentagem de 'Smartphonatics', com 37% de brasileiros neste segmento. Quase todos esses consumidores esperam fazer pagamentos móveis ou transações bancárias com um dispositivo móvel nos próximos seis meses. Quando questionados sobre as razões pelas quais não realizaram pagamentos móveis, não saber como fazê-lo foi a razão mais citada pelos entrevistados, que somaram 38% do total.
Imagem: Reprodução / ACI Worldwide
A MasterCard realizou uma pesquisa que possui um índice numérico interessante (chamado MasterCard Mobile Payments Readiness Index ou MPRI) e que envolve uma pontuação de 0 a 100, para determinar o quanto os mercados globais em que atua estão preparados e receptivos ao pagamento móvel. Na última avaliação, publicada em maio de 2012, nenhum país obteve mais de 50 pontos. O Brasil atingiu 33,4 pontos – pontuação mais alta entre as nações latino-americanas. A média global foi de 33,2 pontos. Segundo a MasterCard o "ponto de inflexão" ou a pontuação a partir da qual os pagamentos móveis teriam uma participação significativa entre os outros meios de pagamentos é de 60 pontos.
Joel Nunes, gerente de produtos da ACI Worldwide, empresa que fornece softwares de prevenção a fraudes bancárias e lavagem de dinheiro, disse ao Canaltech que ainda é necessária a participação de órgãos reguladores governamentais para termos interoperabilidade e uma boa negociação entre as instituições financeiras e as operadoras das redes de celular para que os pagamentos móveis no Brasil tenham condições de atingir o tal "ponto de inflexão".
"Diversos testes pilotos estão em andamento ou já foram concluídos, mas ainda falta um acordo comercial entre os bancos e as operadoras de telefonia celular que garanta a interoperabilidade do sistema, ou seja, permitir que um cliente de qualquer banco, com qualquer celular habilitado, em qualquer operadora possa gerar um pagamento para outras pessoas e/ou estabelecimentos nas mesmas condições", disse Joel.
Quais os tipos existentes?
Existem duas modalidades de pagamentos móveis: remoto ou por proximidade. No primeiro caso, o usuário realiza o pagamento de qualquer lugar onde estiver, e as transações são efetuadas a partir de aplicativos instalados no aparelho ou até mesmo por SMS.
Já o pagamento por proximidade exige que o usuário tenha um celular com uma tecnologia chamada NFC (Near Field Communication), que armazena as informações da conta do usuário e realiza a comunicação com um leitor de propriedade do estabelecimento. Para efetuar a transação, basta aproximar o aparelho a poucos centímetros desse leitor que a compra será concluída por meio de uma comunicação sem fio.
As cobranças variam de acordo com o serviço adotado. Por exemplo, existem sistemas pré-pagos, onde o usuário mantém um valor em uma espécie de conta para utilizar quando achar necessário. Assim, seus pagamentos serão debitados desse fundo na hora da compra. Esse método implica em acordo com determinadas empresas que oferecem esse serviço.
Também é possível utilizar o celular exatamente como um cartão de crédito, com direito a limite pré-aprovado e tudo mais. No final do período, a pessoa recebe uma conta com a fatura do que foi gasto. Outra maneira existente é o pagamento feito diretamente por meio de desconto na conta bancária, em tempo real, assim como nos cartões de débito.
A tabela abaixo, feita pela Europraxis, mostra um pouco mais a respeito das tecnologias para pagamentos móveis disponíveis ao redor do planeta.
Tecnologia | O que faz | Disponível no Brasil | Compatível com celulares disponíveis | Exige download de aplicativo | Custo para o cliente (US$) |
URA | Permite operações por comando de voz | Não | 100% | Não | 0,32 por minuto |
SMS | Realiza operações com envio de códigos | Sim | 100% | Não | 0,14 por SMS |
USSD | Similar ao SMS, mas com interação em tempo real | Sim | 95% | Não | 0,06 por transação |
Wap | Conexão para acessar via internet páginas adaptadas com menus simples | Sim | 30% | Não | 0,01 a 0,03 por transação |
SIM Toolkit | Menu disponível no cartão SIM que permite receber informação bancária | Sim | 98% do mercado Sul africano | Sim | 0,024 |
HTTPS | Navegação via web para acessar portais dos bancos | Sim | 30% | Sim | 0,01 a 0,03 por transação |
NFC | Uso do celular como meio de pagamento sem fio | Em teste | Exige troca de aparelho | Sim | Indefinido |