Crítica | The Witcher é uma obra incrível, mas problemática para não-iniciados
Por Rafael Rodrigues da Silva |

Quando a Netflix anunciou em maio de 2017 que iria produzir uma série baseada na saga de livros conhecidos aqui no ocidente como The Witcher (ou A Saga do Bruxo em português), houve muita comemoração do público, principalmente daquele nicho que é fã de histórias de fantasia. Na época, The Witcher 3 já havia sido considerado como o Melhor Jogo do Ano em 2015 e hoje, segundo dados da CD Projekt RED, produtora do game, ele possui cerca de 20 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, equiparando-se, em vendas, a Super Mario World, um dos maiores clássicos da história dos videogames.
Mas, como a imprensa de cinema/TV ainda está muito separada da imprensa de videogames e de os livros da saga não serem tão famosos, desde o anúncio a série foi recusada de ter “vida própria” e vem sendo chamada por muitos como “o Game of Thrones da Netflix”. E é fácil entender o porquê dessa comparação: Game of Thrones foi o maior fenômeno cultural da TV da última década e conseguiu aquele tipo de status reservado a marcas lendárias como Star Wars (no cinema), Homem-Aranha e X-Men (nos quadrinhos) e Super Mario Bros (nos videogames). Todas elas possuem um reconhecimento tão grande que mesmo quem nunca consumiu nenhuma dessas obras sabe do que você está falando quando elas são citadas em uma conversa. Assim, qualquer nova série de fantasia será, corretamente ou não, comparada à Game of Thrones, pois é a maneira mais simples de explicar para audiência que nunca ouviu falar sobre aquilo que ela pode esperar um mundo medieval com cavaleiros de armadura e espada, magia e talvez um ou dois dragões.
Ainda que você verá essa comparação a todo momento, uma dica para você assistir a série é: esqueça Game of Thrones. Ainda que The Witcher seja uma história de fantasia complexa, com diversos temas políticos e com uma ameaça apocalíptica futura que pode dizimar todo o mundo, a série da Netflix e da HBO possuem pouca coisa em comum. Por isso, querer enxergar The Witcher como uma sucessora de GoT é um caminho certo para a decepção.
Dê um trocado para o seu bruxo
The Witcher não é, nem de longe, um sucessor ou substituto para Game of Thrones, e poderia aprender algumas lições valorosas com a série da HBO, principalmente no quesito de explicar seu universo de fantasia para um espectador que não sabe nada sobre ele. Mas como não devemos julgar a série por quão diferente ela é da maior obra de fantasia medieval já desenvolvida para a TV na história, e sim por seus próprios méritos, The Witcher é não apenas uma adaptação completamente fiel aos livros e que deverá deixar muito feliz e satisfeito aqueles que já conhecem sobre o universo do bruxo — seja pelos livros ou pelos videogames — como também é uma das melhores séries de todo o catálogo da Netflix. Não à toa, atualmente ela é a série original do serviço de streaming com a melhor nota do site IMDb (Internet Movie Database).
E, se a primeira temporada tem seus defeitos, muitos deles deverão ser corrigidos na já confirmada segunda temporada, que finalmente sairá do terreno pantanoso de adaptação de contos para começar a adaptar os romances do bruxo, o que deverá trazer para ela a linha narrativa bem definida que tanto fez falta durante seus primeiros oito episódios.
Todos os episódios da primeira temporada de The Witcher já estão disponíveis no catálogo da Netflix.