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Tudo que você precisa saber antes de assistir The Witcher na Netflix

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Finalmente chegou a hora mais esperada de 2019 pelos fãs de fantasia: a estreia de The Witcher na Netflix. A tão aguardada série finalmente estreia nesta sexta-feira (20), pela primeira vez juntando fãs dos livros e dos jogos em um único sentimento: a esperança de que a série da Netflix faça jus a ambas as versões que ajudaram a tornar Geralt um dos personagens mais famosos e admirados do mundo geek e levar a “palavra do bruxo” para o grande público.

Mas, como acontece com qualquer série de fantasia, o mundo de The Witcher é muito rico e complexo, e entrar nele sem ter qualquer conhecimento prévio sobre pode ser algo meio assustador. Por isso, vamos explicar aqui tudo o que você precisa saber para entrar de cabeça na nova série da Netflix.

De onde surgiu The Witcher?

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The Witcher é uma criação do escritor polonês Andrzej Sapkowski e se iniciou como um conto em 1986. Na época, ele foi enviado para um concurso feito pela revista Fantastika. Apesar da história Wiedźmin (palavra polonesa que em português significo “bruxo”) ter ficado apenas em terceiro lugar no concurso, ela fez bastante sucesso entre os leitores da revista, o que motivou Sapkowski a continuar escrevendo sobre o protagonista da história, o bruxo Geralt de Rivia.

Entre 1992 e 1999, Sapkowski lançou os sete livros que oficialmente compõem a chamada “Saga do Bruxo”: O Último Desejo, A Espada do Destino, O Sangue dos Elfos, Tempo do Desprezo, Batismo de Fogo, A Torre da Andorinha e A Senhora do Lago. Os dois primeiros livros são coletâneas de contos que ajudam a introduzir o estado do mundo em que a saga se passa e alguns de seus principais personagens, mas é a partir de O Sangue dos Elfos que temos o que é considerada a “narrativa principal” da saga — que é também a que será usada pela série da Netflix, na qual Geralt, Yennefer e Ciri dividem o protagonismo. Anos mais tarde, em 2013, o autor também publicou Tempo de Tempestade, mas este nada mais era do que uma coleção de contos e cujos eventos eram anteriores à história iniciada em O Sangue dos Elfos.

Ainda que Sapkowski tenha atingido relativo sucesso no leste europeu, ele, no geral, era considerado como um autor “cult” e um tanto desconhecido pelo resto do mundo, já que nenhum de seus livros havia sido traduzido para o inglês. Isso mudou apenas com o lançamento de The Witcher, jogo desenvolvido pela CD Projekt Red lançado em outubro de 2007. O game — um RPG clássico para computadores — fez enorme sucesso entre público e crítica e foi o grande responsável por alavancar Sapkowski como um dos mais renomados autores de fantasia do mundo. Com o sucesso do jogo (que cria uma continuação para a história dos livros, mas não é considerado canônico pelo autor), ele conseguiu pela primeira vez que um de seus livros fosse traduzido para o inglês e finalmente o mundo criado por ele pôde ser devidamente apreciado.

E, como esperado, assim que foi traduzido para o inglês, o mundo criado por Sapkowski logo caiu no gosto dos fãs de fantasia. Isso porque os livros do polonês tinham muitas semelhanças com a de outra série de fantasia que, na época, já constava na lista do jornal New York Times de livros de ficção mais vendidos: A Canção de Gelo & Fogo, de George R.R. Martin — os livros que seriam a base para a série Game of Thrones.

Assim como o mundo criado por Martin, os livros de The Witcher também misturam temas clássicos de fantasia — como o uso de magia, heróis que empunham espadas para salvar o mundo e monstros que atormentam a população — com tramas políticas extremamente complexas. Agora, algo que Martin nunca teve foi um personagem tão complexo e interessante quanto Geralt: alguém que tem o mesmo profissionalismo de Ned Stark, a inteligência e língua afiada de Tyrion e a habilidade com espada quase sobrenatural de Jaime Lannister, tudo isso em uma única pessoa. Não à toa o personagem acabou se tornando, de certa forma, maior do que a própria obra: muitos fãs de The Witcher são, na verdade, muito mais fãs de Geralt do que do resto da obra em si, e é fácil notar isso quando o principal símbolo de todo o universo de Sapkowski — o medalhão do lobo — é um símbolo individual apenas do bruxo, e não possui qualquer significado para nenhum outro personagem ou evento além do próprio Geralt.

A marca The Witcher ganhou ainda mais importância em 2015 com o lançamento de The Witcher 3: Wild Hunt, jogo lançado para PlayStation 4, Xbox One e PC que não apenas foi um enorme sucesso de público e de crítica, mas é considerado como um dos melhores jogos de videogames já criados na história. O game — que vendeu cerca de 20 milhões de cópias desde o lançamento — é o grande responsável por ter dado à marca The Witcher a notoriedade para fazer a Netflix investir uma grana pesada na produção de uma série de fantasia, na promessa de finalmente encontrar o “Game of Thrones” deles — algo que há anos o serviço de streaming vem tentando sem sucesso.

Mas o que raios é um Witcher?

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Um witcher — ou bruxo, em português — é um mutante, um humano que passa por mudanças genéticas voluntárias para se tornar forte o suficiente para enfrentar de igual para igual os monstros que aterrorizam o mundo.

Na tradição da história, é contado que o universo onde se passa The Witcher nem sempre foi assolado por monstros, e durante muito tempo era uma terra onde anões e elfos viviam suas vidas em harmonia. Mas, cerca de 1500 anos antes dos livros, aconteceu algo chamado de “conjunção das esferas”, um evento cataclísmico que mexeu com o multiverso, destruindo alguns mundos e fazendo com que criaturas de vários universos diferentes ficassem presas no universo das histórias do bruxo. Foi esse evento que trouxe não apenas os primeiros humanos para aquela terra, mas também diversos monstros que até então só existiam em histórias infantis — além, é claro, dos feiticeiros capazes de controlar as forças primordiais do universo, algo que foi chamado de "magia".

Para combater esses monstros que surgiram, os bruxos voluntariamente passam por um doloroso processo de mutação — responsável por matar 60% de todos os candidatos —, que utiliza uma mistura de magia e injeção de uma solução de ervas venenosas no sangue com o objetivo de modificar o DNA dessas pessoas. O resultado desse processo garante aos sobreviventes força, reflexo e constituição sobre-humanas, “olhos de gato” que permitem enxergar no escuro e a habilidade de utilizar sinais — magias básicas e de conjuração rápida, que podem fazer muita diferença durante as lutas. A mutação também torna o corpo deles mais resistente ao uso de poções e elixires que, por serem feitas com raízes venenosas e partes de monstros, são mortais para qualquer humano comum, mas garante aos bruxos habilidades importantes de batalha, como imunidade a venenos ou cura acelerada para seus ferimentos. Em troca dessas habilidades, os bruxos se tornam estéreis (o que atrapalha um pouco a manutenção da classe).

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A relação do bruxo com a sociedade é de um eterno amo e ódio: ao mesmo tempo que eles são vistos como necessários para lidar com os monstros que aterrorizam o cidadão comum e reconhecidos como guerreiros valorosos com uma habilidade impressionante no manejo da espada, pelo fato de serem mutantes eles também são vistos como tão monstruosos quanto aqueles que devem caçar, considerados como desprovidos de sentimento (uma noção que os próprios bruxos ajudam a espalhar). Por isso mesmo não são bem-vindos em qualquer lugar considerado como “civilizado”.

O engraçado é que o termo “witcher” para designar seu protagonista não é uma escolha de Sapkowski: a ideia original do autor polonês era chamar a classe de caçadores de monstros da qual Geralt faz parte de “hexer”, baseado na palavra alemã para “bruxo”. O termo “witcher” foi cunhado pela CD Projekt Red para o lançamento de seu jogo principalmente porque, apesar de ter vendido a licença para a empresa desenvolver o game, Sapkowski não gostava de videogames e sempre quis distanciar seu nome daquilo que a desenvolvedora polonesa estava fazendo. Ironicamente, o nome usado com o objetivo de se distanciar do autor foi como a história dele ficou conhecida mundialmente, já que foi o sucesso dos jogos que fez com que a história se tornasse conhecido para além do leste europeu.

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O “estado do mundo” em The Witcher

Como a série da Netflix será baseada nos livros, seremos introduzidos a um mundo assolado pela guerra e no “inverno dos bruxos”. Isso porque o papel de bruxo é algo que está em extinção: já não existem mais escolas treinando novos caçadores de monstros e aqueles que ainda oferecem seus serviços são cada vez mais raros. Entre eles está Geralt de Rivia, um bruxo famoso até mesmo entre seus semelhantes por sua habilidade com a espada. Geralt é o maior matador de monstros conhecido pelo mundo e por isso é sempre procurado por governadores e membros da nobreza para matar monstros ou quebrar maldições, ao mesmo tempo que não consegue sentar para tomar uma cerveja em qualquer taverna sem ser atormentado por pessoas chamando-o de “monstro” e tentando puxar briga para expulsá-lo daquele lugar de “gente de bem”.

Algo interessante é que, apesar dos humanos terem chegado a este mundo junto com os monstros, este agora é um universo deles, e os poucos elfos e anões que ainda existem são relegados a papéis de servidão e exilados à margem da sociedade. De certa forma, a “conjunção das esferas” é um enorme paralelo com a época das grandes navegações, com os humanos no papel dos europeus e os anões e elfos no dos habitantes nativos da América: mesmo que estes últimos já estivessem alocados por aqui e possuíssem suas próprias culturas e impérios, a invasão dos primeiros rapidamente transformou todo o local à imagem deles e centenas de anos depois são os invasores que dominam o mundo enquanto os nativos têm apenas a escolha de servir aos invasores ou viverem isolados da sociedade.

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Além de Geralt, os outros dois protagonistas da série serão Yennefer e Cirilla. A primeira é uma das mais poderosas feiticeiras do mundo e membro da Estada das Feiticeiras, uma organização composta apenas de mulheres usuárias da magia que têm como principal objetivo evitar que a arte de controlar as forças elementais da natureza seja perdida para sempre. Yennefer possui uma relação romântica um tanto conturbada com Geralt: a todo momento os dois estão brigando, discutindo e se separando por conta das diferenças de filosofia de vida de cada um, mas não importam o que façam ou o quanto briguem, cedo ou tarde ele parecem sempre voltar para os braços um do outro. Yennefer é uma pessoa amarga e difícil de lidar, mas isso tudo é uma máscara criada pelo sofrimento para esconder a mocinha inocente que, no fundo, ainda acredita nas pessoas e no poder do amor.

Já Cirilla (também conhecida como Ciri) é a princesa de Cintra, e, como toda princesa, vive uma vida cercada de luxo e sem qualquer problema. Mas, quando a guerra bate à sua porta, ela é obrigada a se tornar uma fugitiva e aprender na marra as habilidades necessárias para sobreviver como indigente, vivenciando pela primeira vez todo o sofrimento real de seu povo. Cirilla não entende direito os motivos de estar sendo caçada, mas sabe que precisa encontrar o bruxo Geralt. O que ela ainda não sabe é que seu destino está intrinsecamente interligado à “profecia de Ithlinne”, uma profecia élfica que fala sobre a destruição do mundo e a chegada de uma era de gelo eterna, mas também sobre o renascimento do mundo pela Andorinha, a figura que irá abrir a Porta Proibida e mostrar a todos o caminho da salvação.

Ciri, Yennefer e Geralt formam o trio protagonista da série da Netflix e tanto nos livros quanto nos jogos formam uma espécie de “família” disfuncional, onde três pessoas às margens da sociedade acabam se encontrando e fazendo dessa relação a pedra fundamental de um futuro melhor e cheio de esperança. Provavelmente essa relação entre os três também será explorada a fundo pela série e deverá ser uma das pedras fundamentais da história como um todo.

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Basicamente, isso é tudo que você precisa saber para não chegar totalmente perdido para assistir à série da Netflix — entrar em mais detalhes do que isso poderá revelar alguns spoilers da história. Tudo o que nos resta agora é esperar pelo dia 20 de dezembro e torcer para que a série da Netflix faça jus a esse universo de personagens tão interessantes e complexos.