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Crítica Halo | Histórias pessoais e clichês são o foco da primeira temporada

Por| Editado por Jones Oliveira | 19 de Maio de 2022 às 08h00

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Divulgação/Paramount+
Divulgação/Paramount+

Quando se fala em adaptação de games, a discussão sobre fidelidade ou não sempre caminha ao lado das reações ao material lançado. Entre fãs discutindo se seria melhor seguir a trama dos games, novatos que chegaram pelo novo produto e se integraram aos jogos e seguidores única e exclusivamente dos produtos baseados nos originais, a série de Halo fez questão de se posicionar desde o primeiro capítulo como seu próprio universo.

Atenção: esta crítica contém spoilers de todos os episódios de Halo.

Um segredo bem guardado ao longo de mais de 20 anos de jogos, por exemplo, foi revelado logo no final do primeiro capítulo do seriado, servindo também para que a produção fincasse o pé sobre o que desejava apresentar. Quando Master Chief (Pablo Schrieber) tirou o capacete, em um momento sem peso e que se tornou uma trivialidade ao longo dos nove episódios de Halo, também se iniciava uma nova história, ainda que baseada nos conceitos e elementos dos jogos.

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Não haveria nenhum problema nisso, não fosse o fato de a produção ser baseada em clichês e conflitos que não resistem a um pouco de pensamento, apresentando dilemas desinteressantes e banalidades que fazem com que os poucos mistérios possam ter a solução vista a quilômetros de distância. A própria cena em que Chief revela seu rosto é seguida por um momento que não faz o menor sentido e, da mesma forma que mostrou a que o seriado de Halo se propunha, também revelou sua abordagem do começo até o final.

Mestre bobo

Temos, sim, uma história bastante acessível e que apresenta uma crescente interessante, dando o devido espaço aos personagens mais relevantes e firmando a participação de cada um deles na trama. Master Chief, claro, é o mais explorado e tem seu enredo pessoal entremeado ao da UNSC, o governo unificado do que antes era apenas a Terra, servindo, também, como ponto de questionamento.

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A saga dele vem cheia de perguntas e sofrimento, para o próprio, e dilemas morais para o espectador, colocados principalmente na figura de Catherine Halsey (Natascha McElhone), a doutora responsável por todo o projeto dos soldados Espartanos. Novamente, seriam discussões interessantes sobre a ética em experimentos científicos e a necessidade de sacrifícios individuais para salvar toda uma raça, não fosse o fato de já termos visto tais conversas tantas vezes antes.

A abordagem de Schriber ao personagem, dividido entre um novo mundo de sensações descobertas ao se libertar das amarras da UNSC pela remoção de um chip de controle, mas sem conseguir se livrar da disciplina que dava sentido à sua vida, chama a atenção. Ela, inclusive, rende alguns momentos interessantes de rebeldia contra sua própria criação, especialmente aquele em que ele usa a Dra. Halsey para testar até que ponto está sob o controle da UNSC, em um dos momentos mais tensos de toda a série.

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Por outro lado, também o acompanha uma obstinação burra que simplesmente não cola, principalmente diante de Makee (Charlie Murphy). A personagem humana, mas que está ao lado dos Covenant, surge como uma das ideias frescas e mais interessantes de toda a série de Halo, apenas para cair no mesmo caldeirão de chavões, tramas previsíveis e decisões sem sentido que permeia os roteiros dos episódios.

A destruição é tamanha que, de elemento importante e carta fora do baralho, Makee deve acabar sendo lembrada como protagonista de um dos momentos mais constrangedores de toda a primeira temporada, ao lado de Master Chief. A tristeza de Cortana (Jen Taylor) sendo testemunha ocular de uma cena amorosa que surge do mais absoluto nada e leva a um resultado ainda mais desgraçado é a mesma dos fãs, principalmente aqueles que conhecem os games e sabem onde tudo isso vai acabar.

A queda de Reach, um dos momentos definidores e mais importantes de Halo, é bem diferente na série e poderia até carregar o mesmo peso, não fosse, como dito, a torrente de clichês que levaram a ele. Entre traições óbvias, das quais Master Chief foi avisado desde soldados de baixo escalão até o mais alto comando da UNSC, e decisões sem sentido, há uma tentativa de pessoalizar o conflito devastador, mas ao contrário de outros elementos da série, ele simplesmente não funciona aqui.

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Linguiça espacial

Ao lado de Master Chief, também estão outros personagens interessantes que dão mais cor às tramas centrais da série de Halo. A Espartana Kai-125 (Kate Kennedy), por exemplo, segue uma jornada de descoberta semelhante à do protagonista, mas não tão perto dos olhos da UNSC, enquanto os outros companheiros de esquadrão, Vannak-134 (Bentley Kalu) e Riz-028 (Natasha Culzac) começam a perceber que algo está errado, enquanto o chip de controle ainda exerce poder sobre seus pensamentos.

São dilemas internos que chamam a atenção, mas novamente, perdem espaço para as tramas maiores e mais previsíveis, principalmente aquela envolvendo Kwan Ha (Yerin Ha), a última sobrevivente de uma linhagem de combatentes pela liberdade do planeta Madrigal. A trama dela chega a ocupar um espaço inexplicável na série, se distanciando a cada momento do enredo central do seriado enquanto apresenta um ritmo arrastado e dos mais desinteressantes da produção.

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A lentidão é tamanha que o show dedica um episódio inteiro para fechar o enredo da personagem, enquanto a sensação é que ele poderia ter sido apagado já no início da temporada, praticamente sem consequências. Um desperdício absoluto do personagem Soren (Bokeem Woodbine), também um Espartano que conseguiu escapar do domínio da UNSC e poderia dialogar diretamente com a saga de descobrimento de Master Chief e da podridão do governo unificado, mas acaba servindo apenas como babá de Ha e vetor de piadinhas sem graça nenhuma.

O mesmo desperdício também vale para Miranda Keyes (Olive Gray), personagem que é centro de um dos plot twists mais despropositados e desnecessários de toda a série, enquanto acaba sendo jogada de um lado para o outro como uma bola de pinball. Mais um elemento que poderia ser peça central em uma desconstrução da UNSC por dentro e é completamente deixado de lado, assim como essa própria ideia que, talvez, seja aproveitada nas temporadas futuras.

A sensação geral deixada pela série de Halo é de termos um produto que poderia ser interessante, e até com boas histórias para contar, mas que acaba optando pelo caminho mais fácil e bobo na maior parte do tempo. É um produto de entrada interessante para quem não conhece a saga e, também, seus livros e materiais suplementares que trazem um foco maior no enredo do que os próprios títulos.

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Passamos longe da ideia de que uma adaptação desse tipo tem mais ou menos qualidade de acordo com a fidelidade ao produto original e chegamos a um ponto em que percebemos que Halo é, simplesmente, fraco. Existem elementos que custam a passar, enquanto outros cheios de potencial são deixados de lado em prol de tramas que almejam ser profundas, mas caem no lugar-comum de tantas outras produções de ficção científica que temos por aí.

A melhor forma de aproveitar o seriado é deixando a coerência de lado e a observando do ponto de vista do puro entretenimento, ainda que ela tente demonstrar, o tempo todo, uma ambição nunca sacramentada de ser mais do que isso. A mudança de showrunner para a segunda temporada, já confirmada, mas ainda sem data para estrear, quem sabe, realize alterações na pegada do show, mas diante do sucesso estrondoso que ele fez, é difícil esperar de verdade por isso.

O último episódio de Halo estreou nesta quinta-feira (19) exclusivamente no Paramount+, que agora conta com a primeira temporada completa. Os episódios foram fornecidos antecipadamente ao Canaltech pela Paramount.