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Aplicativo espião ilegal já foi usado em 100 mil celulares, mas segue disponível

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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ESET/welivesecurity
ESET/welivesecurity

Uma equipe de hackers conseguiu invadir o sistema de um aplicativo espião ilegal, chamado Celular 007, e revelou milhares de conversas captadas sem autorização. O conteúdo chegou às mãos da DDoSecrets, organização que publica, analisa e arquiva dados vazados, e compilou tudo com auxílio da InterSecLab, laboratório que trabalha com segurança digital e perícia forense digital. 

Vendido livremente na internet, o app é descrito como uma ferramenta para que pais e responsáveis possam supervisionar as atividades dos filhos no celular, mas, segundo levantamento da revista piauí, que teve acesso às mensagens interceptadas, na prática o aplicativo espião é usado para investigações policiais clandestinas, perseguição e espionagem no geral, como stalking.

Quem usa aplicativos espiões e para quê?

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Os dados compilados pelos hackers compreendem o período entre janeiro de 2015 e maio de 2024, quando pelo menos 116.079 celulares foram espionados por 105.897 usuários por todo o Brasil. Os clientes vão de cidadãos comuns e funcionários públicos a policiais civis e militares, bem como servidores do judiciário brasileiro. As pessoas espionadas incluem investigados, outros servidores públicos e, em alguns casos, cônjuges e civis comuns, por motivos desconhecidos.

Pela lei, só é permitido usar aplicativos do tipo em casos onde um pai ou responsável realmente esteja monitorando o filho para garantir sua segurança, ainda devendo respeitar o direito à privacidade mantido pelo menor de idade.

Mesmo assim, a publicidade do Celular 007, em seu site oficial, não disfarça sua ilegalidade: ela afirma que o app é o “melhor para rastreamento no Brasil, com mais de 1 milhão de downloads”, e que pode ser usado sem ser notado para monitorar empregados, cônjuges e investigados. O aplicativo só está disponível para celulares Android, assim como outros do tipo.

Para a instalação do aplicativo, é necessário ter em mãos o celular de quem será espionado, modificando algumas configurações para permitir o acompanhamento das atividades através de uma página HTML. Microfone, câmera e localização passam, também, a ser rastreados.

No Brasil, todo uso de apps assim, fora o caso de pais acompanhando filhos, é ilegal, só sendo permitido pela polícia com mandado e através de sistemas de oficiais de inteligência, como o Guardião, que é auditável, seguro e não permite invadir aplicativos criptografados, como o WhatsApp.

O Celular 007 é pago, custando R$ 209 no pacote mais barato, que dura 15 dias. Ele não é o único app do tipo, chamado stalkerware, dividindo espaço com pelo menos 12 outros, como Meu Spy, Rastreador de Namorado, WebDetetive e Bruno Espião.

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Além da ilegalidade, os aplicativos não têm uma engenharia robusta, ficando facilmente vulneráveis a ataques: em 2023, o WebDetetive teve seu banco de dados invadido e exposto na internet, revelando seu uso por 76 mil celulares.

Como mostra a reportagem da piauí, que traz relatos de pessoas invadidas e casos de uso ilegal por autoridades brasileiras, a existência de aplicativos ilegais como esses é disseminada e não está sofrendo ações de mitigação por parte das polícias e Ministério Público, que deveriam investigar casos do tipo.

Marla Rivera, diretora do InterSecLab, recomendou aos brasileiros que tenham cuidado ao compartilhar a senha do celular com quaisquer outras pessoas: à revista, ela afirmou que a segurança da informação é um tema pouco trabalhado no Brasil.

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Fonte: piauí