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Verificamos: álcool em gel 70% pode causar queimaduras na pele?

Por| 13 de Abril de 2020 às 20h30

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Canaltech
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Frente à pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), uma das maneiras mais eficientes de se reduzir os riscos da infeção é manter boas práticas de higiene, como limpar sempre as mãos. Para isso, além de lavá-las com água em sabão, o álcool em gel 70% é um dos produtos mais eficientes nessa essa higienização, mas seu uso requer cuidados. Afinal, o composto não deixa de ser um produto inflamável.   

Para evitar contaminação com a COVID-19, muitas pessoas têm usado o álcool em gel 70% várias vezes ao dia, ao ponto de até esquecerem que o material pode entrar em combustão. Diante disso, circulam pelas redes sociais algumas imagens, vídeos e até mesmo relatos de quem passou por acidentes domésticos depois de utilizarem o material de forma inadequada. Para ajudar na prevenção desses acidentes, o Canaltech conversou com duas espacialistas no assunto.

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Riscos do álcool gel

Como destaca Luisa Fernanda Rios Pinto, doutora em engenheira química pela UNICAMP e com pós-doutorado no ALGAE R&D Centre da Murdoch University, na Austrália, qualquer álcool "acima de 54% [com uma porcentagem igual ou superior a essa] já é um produto inflamável", o que faz da versão em gel com 70% igualmente combustível, em alguns casos específicos.

"É possível que pegue fogo o lugar onde o álcool em gel foi passado, mas ainda não tenha secado. O problema é que a sua chama é quase transparente, o que faz com que a pessoa não perceba que está aceso", alerta a doutora em engenharia química sobre o fogo.

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Para a dermatologista Lilian Odo, membro da Academia Americana de Dermatologia e com especialização em Cicatrização pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos, "o álcool, além de ser um esterilizante e solvente, é também um combustível e, portanto, há riscos de queimadura na pele, especialmente se for manipulado perto do fogo, como enquanto você estiver cozinhando, fumando ou fazendo churrasco".

Sobre essa chama menos chamativa, a pesquisadora e engenheira química esclarece: "A diferença entre o álcool líquido e em gel é que o em líquido vai produzir uma chama mais forte, mas vai evaporar mais rápido". O processo é o inverso na versão gelatinosa, ou seja, a chama é mais fraca, porém mais duradoura. Ambos os casos trazem risco para quem manuseia.

"Quanto maior a concentração [de álcool], mais inflamável e irritante [é o produto], mas também maior o poder esterilizante. Quando o álcool é misturado com gel, sua evaporação é mais vagarosa, deixando um resíduo por mais tempo sobre a pele. É nesse momento que devemos estar atentos com o fogo", afirma a dermatologista.

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No entanto, muitos internautas acreditam não existir perigo. É o caso de quem já tentou acender uma churrasqueira com álcool em gel 70%: essa pessoa com certeza sabe o quão difícil pode ser fazer o carvão queimar, e provavelmente não vai pensar que esse produto é inflamável. De acordo com a engenheira Luisa Fernanda, "nesse processo, o álcool vai demorar para acender [a churrasqueira] um pouco mais, já que o correto nesse caso seria usar um álcool acima de 80%".

Para evitar acidentes domésticos e queimaduras, "a recomendação é passar o álcool em gel e esperar secar completamente, de 10 a 20 minutos, dependendo da quantidade que se passou, antes de manipular qualquer equipamento que utilize fogo ou calor em altas temperaturas", orienta a engenheira química.

O que fazer após uma queimadura?

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"Se houver queimadura, coloque a região afetada sob água fria corrente para apagar o fogo e tentar baixar a temperatura da pele, mas evite usar gelo, pois como a sensibilidade está alterada, poderá piorar a queimadura pelo calor com uma queimadura pelo frio", orienta a dermatologista Lilian.

Após o procedimento com água corrente, a região pode ser lavada com sabonete, de forma delicada, para retirar sujeiras e resquícios. Também vale cobrir a área com um pouco de vaselina ou glicerina pura, seguida por um curativo em camadas com gaze, algodão e atadura, explica Lilian. "Procure um dermatologista para avaliação da lesão. Mesmo as queimaduras simples de primeiro grau podem deixar manchas que podem ser evitadas com uma abordagem medicamentosa precoce", avisa a dermatologista.

Quando usar? 

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"A ideia do álcool em gel é ser usado, somente, quando não temos torneira e sabão disponível para higienizar as mãos, e para passar nas superfícies nas quais iremos ter contato, como um carrinho de mercado. Quando estamos dentro de casa, o melhor é sempre lavar as mãos constantemente e higienizar as superfícies", defende Luisa.

Além de ter a função de higienização, o álcool é um solvente e desengordurante, o que causa o ressecamento da pele com o seu uso intensivo. "O manto hidrolipídico, que protege a pele, é removido por essa substância, o que aumenta os riscos de dermatites tanto alérgicas quanto por irritação primária", lembra a dermatologista. Por isso mesmo, é sempre importante hidratar as mãos após o uso do produto.

"As palmas das mãos, naturalmente, não apresentam glândulas sebáceas e podem sofrer muito com o uso do álcool em gel, além de ser a região que sempre está em contato com outros possíveis irritantes como produtos de limpeza, cosméticos, poluentes e micróbios", argumenta Lilian Odo, ressaltando a importância da hidratação.

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Ainda segundo a médica, "para a prevenção da COVID-19, dê preferência para a lavagem das mãos com sabonete e só utilize o álcool gel onde não for possível realizar essa higiene".

Embora seja verdadeiro afirmar que álcool em gel cause queimaduras na pele, se exposto ao fogo ou altas temperaturas, vale dizer que nem todas as imagens que circulam na web são verdadeiras. Nas últimas semanas, uma foto de mãos e antebraços bastante feridos ganhou os aplicativos de mensagens e redes sociais. A queimadura ali é real — porém, não foi causada por álcool em gel. Segundo o site e-farsas, ela foi causada por outros produtos, possivelmente produtos de limpeza, e posterior exposição ao fogo.