Variante genética comum pode proteger contra Alzheimer e Parkinson
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Para os próximos anos, a tendência é que os casos de demência, como doença de Alzheimer e Parkinson, aumentem significativamente. Em 2050, a previsão é que mais de 150 milhões convivam, em algum grau, com essa condição neurodegenerativa. Na contramão dessa tendência, uma abrangente pesquisa internacional descobriu que alguns — sortudos — indivíduos têm fatores naturais de proteção por causa de uma variação genética relativamente comum no DNA.
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Indo além da questão individual, que é a proteção natural contra o Parkinson e o Alzheimer devido à genética, os pesquisadores apostam que investigar e compreender o porquê desse mecanismo pode ajudar no desenvolvimento de novas terapias, como vacinas, beneficiando a todos. É o que aponta um estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Qual é a variante genética que confere proteção contra o Alzheimer?
No estudo, que envolveu a participação de cientistas de 25 países, foi descoberto que a variação genética que confere proteção contra o Alzheimer e o Parkinson está localizada em um conjunto de genes no cromossomo 6, conhecido como sistema de Antígenos Leucocitários Humano (HLA).
Esta região está diretamente envolvida com a regulação do sistema imune adaptativo. Em outras palavras, esses genes ensinam os glóbulos brancos (leucócitos) a diferenciarem antígenos do próprio corpo humano daqueles que são invasores.
Sendo ainda mais preciso, a pessoa que tem proteção natural contra essas doenças precisa ter o subtipo específico do gene (alelo) DR4 no conjunto de genes HLA. Estes indivíduos têm de 8% a 15% menos chances de desenvolver essas duas doenças neurodegenerativas.
Quão comum é ter o alelo DR4?
Para entender o quão comum é essa variação genética, os pesquisadores revisaram massivamente dados médicos e genéticos de pessoas saudáveis ou com uma das duas doenças neurodegenerativas, incluindo populações bastantes diversas — as informações vieram da Europa, do Leste Asiático, do Oriente Médio e das Américas (Sul e Norte).
A conclusão da equipe de cientistas é de que 20% a 30% das pessoas do mundo carregam a versão desse gene relacionado ao sistema imunológico que pode proteger contra as doenças de Alzheimer e Parkinson. De outra forma, 1 a cada 5 pessoas tem essa vantagem. No entanto, é preciso destacar que, mesmo tendo esse alelo específico, o indivíduo ainda pode ter essas doenças. Afinal, a característica não confere imunidade.
Entenda a proteção genética contra Alzheimer e Parkinson
Além da variante genética reduzir o risco de uma pessoa ter Alzheimer ou Parkinson em cerca de 10%, os cientistas, incluindo membros da Universidade Stanford, fizeram uma descoberta adicional: quando estas pessoas desenvolvem alguma dessas demências, o início dos sintomas tende a ocorrer mais tarde que a média.
Analisando alterações nos cérebros 7 mil pacientes que tiveram Alzheimer, os autores também descobriram que o emaranhado de proteínas tau — em altas concentrações, essas proteínas são consideradas como um das causas do declínio cognitivo — era menor que o esperado em pessoas com o alelo DR4. Este é um forte indicador de que a doença era menos grave.
Por enquanto, a principal hipótese para justificar essa vantagem natural contra as doenças neurodegenerativas é que o alelo em questão impeça o acúmulo das proteínas tóxicas no cérebro, como se treinasse o sistema imunológico para limpá-las. No entanto, mais estudos ainda são necessários nesse campo.
Fonte: PNAS e Universidade Stanford