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Rins "parcialmente" humanos são cultivados em porcos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 08 de Setembro de 2023 às 12h31

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 twenty20photos/Envato
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Na medicina recente, já foi possível transplantar órgãos de porcos para humanos. Inclusive, um ser humano sobreviveu por alguns meses com um coração suíno. Nestes casos, o órgão animal sofre algumas edições genéticas e é transferido para o receptor humano. No entanto, um órgão genuinamente humano e funcional nunca foi desenvolvido, até o momento, dentro de outra espécie.

Buscando reverter esta limitação, pesquisadores do Instituto de Biomedicina e Saúde de Guangzhou, na China, criaram, pela primeira vez, rins parcialmente humanos dentro de porcos. Os resultados do experimento foram publicados na revista científica Cell Stem Cell.

Apesar do extraordinário avanço, a ciência ainda não chegou ao ponto de viabilizar que órgãos humanos sejam totalmente cultivados dentro de outras espécies, como porcos. Ainda serão necessários anos e anos até que os xenotransplantes sejam seguros e adotados em larga escala na saúde, eliminando as longas filas por transplantes de órgãos em todo o mundo.

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Entenda a criação de rins humanos em porcos

Para viabilizar o cultivo de rins humanos dentro de porcos, os cientistas chineses usaram uma técnica de edição genética, a tesoura genética CRISPR, para modificar um embrião de porco, ainda em estágio unicelular, removendo os genes associados com o desenvolvimento renal. Sem instruções para a formação dos rins suínos, a equipe criou o espaço ideal para que rins humanizados criassem raízes. Dessa forma, foi gerado em embrião quimérico, ou seja, com a mistura de células suínas e humanas.

No total, foram transferidos 1,8 mil embriões quiméricos para porcas grávidas. Passados 25 ou 28 dias de gestação, a gravidez era interrompida, e os embriões eram removidos para estudos em laboratório. A ideia era observar o quão bem desenvolvidos estavam os rins humanizados.

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Em média, os rins cultivados em porcos tinham cerca de 50% a 60% de células humanas — o percentual ainda é pequeno para garantir que os órgãos, após o transplante, não sofram rejeição. Outro problema identificado é que as células humanas tenham migrado para outros tecidos do animal, o que pode implicar em questões éticas. Por exemplo, foram identificadas em tecidos nervosos.

Após o experimento, a próxima etapa de pesquisa envolve aperfeiçoar esses processos, evitando a dispersão das células humanas para outros locais, e testar o cultivo dos rins por períodos maiores de tempo.

Quais são as limitações envolvendo o cultivo de órgãos humanos?

“No futuro, uma versão otimizada desta tecnologia poderá resolver a atual escassez de doadores compatíveis para transplante renal”, afirma Darius Widera, professor de medicina regenerativa da Universidade de Reading, na Inglaterra, em nota para a plataforma SMC. Widera não participou da pesquisa.

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Além disso, o professor explica que “este método também pode ser valioso para estudar doenças e condições humanas, levando potencialmente a melhores opções terapêuticas para os pacientes com doenças renais”.

No entanto, o especialista reforça que o atual estágio de desenvolvimento ainda está longe de viabilizar os transplantes em larga escala, já que os rins criados ainda são significativamente suínos. Em paralelo, ele reforça a descoberta preocupante de que “os autores encontraram células humanas nos cérebros dos porcos, levantando questões séria éticas”.

Fonte: Cell Stem Cell, EurekAlert e SMC