Mutações da proteína spike ajudam Ômicron a escapar dos anticorpos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Para entender os motivos que levam a variante Ômicron (B.1.1.529) do coronavírus SARS-CoV-2 ser mais infecciosa e transmissível, uma equipe internacional de cientistas investigou as mutações presentes na proteína spike (S). É através dela que o vírus da covid-19 consegue invadir as células saudáveis do organismo.
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Publicado na revista Science, o estudo contou com a participação de diferentes centros de pesquisa, como o Howard Hughes Medical Institute e a Universidade de Washington. Segundo os autores, as mutações da proteína spike permitem que o vírus escape dos anticorpos desenvolvidos contra outras variantes do coronavírus e também consiga invadir as células saudáveis de forma mais rápida.
“As descobertas fornecem um plano que os pesquisadores podem usar para projetar novas medidas de proteção, como vacinas ou terapia, contra a Ômicron e outras variantes de coronavírus que possam surgir”, afirmou o cientista David Veesler, da Universidade de Washington.
“Este vírus tem uma plasticidade incrível: pode mudar muito e ainda manter todas as funções necessárias para infectar e replicar”, comentou Veesler sobre as mutações. "E é quase garantido que a Ômicron não é a última variante que veremos", completou.
Mutações da Ômicron
Vale lembrar que a variante Ômicron foi identificada pela primeira vez em novembro de 2021 na África do Sul e, desde então, os números globais de casos da nova cepa não param de crescer. Além de ser altamente infecciosa, a variante consegue "fugir" com mais facilidade dos anticorpos produzidos contra variantes anteriores, o que pode levar a pessoas já infectadas a se reinfectarem e reduzir a proteção das vacinas.
Segundo os pesquisadores, uma das justificativas para a alta transmissibilidade é o grande número de mutações nas sequências de aminoácidos da proteína spike do coronavírus. Para sermos mais precisos, são 37. Estas afetam diretamente a área conhecida como Domínio de Ligação ao Receptor (RBD).
O RBD é o alvo da enzima ACE2, presente nas células humanas e a porta de entrada do coronavírus. A pesquisa concluiu que essas mutações foram responsáveis por aumentar a capacidade do RBD de se ligar ao ACE2 em até 2,4 vezes.
Além disso, a equipe observou que as mutações alteraram a forma como a proteína spike interage com os anticorpos. Por exemplo, a capacidade de quase todos os anticorpos monoclonais contra ela é reduzida.
Agora, o objetivo de novas pesquisas sobre o coronavírus SARS-CoV-2 será identificar regiões adicionais na proteína spike que correm menor risco de sofrer mutações e são mais estáveis. Isso permitirá que as vacinas, no futuro, desencadeiem uma forte e duradoura resposta imunológica contra inúmeras variantes.
Fonte: Science