Publicidade

Quantas vezes o mesmo órgão pode ser transplantado?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 14 de Julho de 2021 às 20h30

Link copiado!

Twenty20photos/Envato Elements
Twenty20photos/Envato Elements

Transplantar um órgão costuma ser uma tarefa complexa e, na maioria dos casos, a fila de espera por doações é maior que o número de doadores. Neste cenário, estratégias pouco comuns são adotadas para aproveitar órgãos em pleno funcionamento, como é o caso do retransplante. É isso mesmo: órgãos que já foram transplantados podem ser, novamente, doados, dependendo de suas condições. Em tese, o procedimento poderia ocorrer algumas vezes, mas na prática é muito diferente.  

Para ser transplantado novamente, o órgão — como um rim ou um coração — precisa passar ileso por duas mortes cerebrais, já que esta é a principal condição de óbito para que alguém se torne um doador. Além disso, ele precisa estar em boas condições para a operação, o que costuma ser raro. Por esses motivos, registros de retransplante de órgãos não são nem um pouco comuns. 

Continua após a publicidade

Na verdade, os próprios transplantes, mesmo necessários, ocorrem em números pouco expressivos. Por exemplo, no ano de 2020, 7,4 mil procedimentos do tipo foram registrados no estado de São Paulo, segundo a Central de Transplantes. No entanto, a fila de espera era de 17,6 mil em maio deste ano. A situação é similar entre outros estados brasileiros. Diante desse quadro, a possibilidade de "salvar" órgãos já transplantados pode ser importante, mesmo que as técnicas sejam pouco comuns.

Quando é possível aproveitar um órgão já transplantado?

A situação "mais comum" de doação de órgãos transplantados ocorre quando o primeiro receptor é um paciente que já está nos estágios finais de uma doença e, neste momento, recebe um novo fígado ou rim como último esforço para mantê-lo vivo. Caso o paciente venha a falecer e o motivo do óbito não interfira no órgão, o retransplante pode ser uma opção. 

“O trauma de morrer pode ferir um órgão”, explicou o médico Robert Montgomery, diretor do da central de transplantes da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, para a revista Popular Science. “Então, se a segunda pessoa [que recebeu o órgão] morre, o órgão é retirado novamente. Isso é mais lesão”, comentou. Isso significa que, mesmo que as condições do óbito não tivessem ligação com o órgão, ainda assim não é 100% garantido que ele poderá ser doado.

Continua após a publicidade

No entanto, a principal questão é ainda outra: quando um órgão é transplantado, ele cria uma fibrose —  algo como um espesso e duro curativo, feito de tecido conjuntivo — no ponto de ligação. Só que é necessária a remoção desse tecido, antes do segundo transplante. Como é um procedimento delicado, ele pode romper e causar mais lesões ao órgão, o que impedirá o novo transplante.

Caso do retransplante de rim

No futuro, conforme a medicina avança e mais se aprende sobre os transplantes, é provável que o número de retransplantes aumente, também. Por agora, esses feitos são amplamente divulgados. É o caso do cirurgião Jeffrey Veale, do centro médico da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Em 2018, o especialista já era conhecido por três procedimentos do tipo e incentiva outros profissionais a se aperfeiçoarem na técnica.

Naquele ano, a equipe de Veale transplantou, com sucesso, um rim já doado a uma mulher de 70 anos que esperava na fila por quase 10 anos. “Cerca de 20% a 25% dos pacientes que fazem um transplante de rim morrem com um rim em funcionamento”, explica o médico. Por outro lado, esses rins ainda podem ter uma longa vida e, consequentemente, salvar outras pessoas. Diante desses casos, ele completa: “Não quero ver um rim saudável que funcionava bem após um transplante ir para o lixo".

Continua após a publicidade

Fonte: Agência BrasilPopular Science e UCLA Health