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Paciente que morreu em decorrência da COVID-19 pode doar órgãos?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 22 de Abril de 2021 às 14h17

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Anaaya Foods
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Na pandemia do coronavírus SARS-CoV-2, o Brasil ainda registra um elevado número de mortes em decorrência da COVID-19. De acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de óbitos nos últimos sete dias é de aproximadamente 2,7 mil, ou seja, mais de 18 mil vidas são perdidas em uma semana. Em paralelo, as doações de órgãos sofrem queda e há aumento da fila de espera por transplantes.

As vítimas da infecção pelo coronavírus, geralmente, não estão aptas para a doação de órgãos. Para entender o porquê dessa impossibilidade e os eventuais cenários onde a doação é possível, o Canaltech conversou com o médico e presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Dr. José Huygens Garcia. Aproveitamos também para entender o cenário dos transplantes na pandemia da COVID-19 no país.

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Como a pandemia afetou a doação de órgãos no Brasil?  

"Em 2020, a pandemia teve um impacto negativo em todo o mundo, e no Brasil, isso também aconteceu. Começou a partir de março [de 2020], nas regiões Norte e Nordeste, basicamente uma queda de mais de 70% nas doações e transplantes. A recuperação começou a partir de agosto", explica o Dr. Garcia sobre a dinâmica das doações pelo país no cenário da COVID-19. Inclusive, no Sudeste, a queda foi menor, enquanto a queda aconteceu mais tardiamente na região Sul.

No total, "se você comparar 2020 com 2019, tivemos uma queda nas doações de órgãos de 12%, mas a queda dos transplantes foi variável", afirma o presidente da ABTO. Por exemplo, a maior queda no número de transplantes foi a de pulmão, com uma estimativa de 40% menos. Por outro lado, a menor queda foi a de rim, calculada em 10%.

"Já em 2021, agora, é complicado, porque os meses de janeiro e fevereiro começaram bem, mas em março, certamente, houve uma queda muito grande nas doações de órgãos", pontua o Dr. Garcia sobre os resultados da segunda onda do coronavírus no Brasil. Afinal, neste bimestre do ano, a infecção atingiu todas as regiões de forma semelhante com altos números tanto de casos quanto de óbitos.

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Vítimas da COVID-19 podem doar órgãos?

Pode até parecer estranho que, diante de tantas mortes diárias, o número de doações de órgãos tenha caído, mas não é. Isso porque o paciente que morre, no hospital, contaminado pelo coronavírus, não pode ser um doador. "Existe uma resolução tanto do Sistema Nacional de Transplantes, do Ministério da Saúde, como também da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), da qual sou presidente, que um paciente que teve COVID-19 só poderá doar órgãos após 30 dias do início dos sintomas", afirma o Dr. Garcia.

No entanto, pacientes que desenvolveram complicações da doença e não transmitem mais o agente infeccioso podem doar, sim. "Por exemplo, o paciente está, agora, no primeiro dia e, se ele tiver um acidente cerebral vascular [em alguns casos, o AVC pode ser causado por uma trombose originada pela COVID-19] depois de 30 dias, esse paciente poderá ser doador de órgãos. Antes não, porque é uma doença muito nova, desconhecida em alguns aspectos", detalha.

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"Sabemos que a possibilidade de transmitir a doença [no caso, a COVID-19] de um órgão doado para quem recebe, é muito baixa, mas temos que ter uma margem de segurança enquanto não temos mais estudos recomendando encurtar esse tempo", detalha o Dr. Garcia sobre a convenção dos 30 dias. De uma maneira geral, após 14 dias, a pessoa não transmite mais a doença, mas quando o caso é muito grave, esse tempo pode se prolongar até o vigésimo dia. "Por isso, definiu-se os 30 dias como tempo seguro para se aceitar os órgãos de pacientes que tiveram morte cerebral, dentro da COVID-19", comenta.

Órgão doado é testado para o coronavírus?   

Mesmo após o período de 30 dias, existem alguns parâmetros a serem avaliados para a doação de órgãos. Provavelmente, o pulmão do paciente não será doado, por exemplo. Sobre a questão, Dr. Garcia explica que o órgão costuma ser mais comprometido pela infecção e estes doadores, geralmente, desenvolveram a doença na forma mais grave, comprometendo seriamente o pulmão. Por outro lado, a probabilidade de doação é maior para rins, coração, fígado e pâncreas.

"É possível desde que exames mostrem que esses órgãos estejam em boas condições para serem transplantados", afirma o médico sobre a avaliação individual de cada órgão antes de um possível transplante. "Se o diagnóstico de morte cerebral foi realizado, mesmo assim é realizado um novo RT-PCR [exame da infecção do coronavírus] para saber se está negativo. Se estiver positivo, o órgão não será aceito", completa.

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No contexto da pandemia, o teste negativo da COVID-19 é fator obrigatório para qualquer doação de órgão, independente da causa do óbito. "No Brasil, temos uma portaria que toda doação de órgãos só pode ser realizada após o diagnóstico negativo da COVID-19, feito nas últimas 48h. Essa determinação traz uma segurança maior para quem vai receber esses órgãos e também para a equipe cirúrgica que vai realizar a retirada dos órgãos", afirma o médico.

Como é feita a doação de órgãos?

Independente dos requisitos necessários para a doação de órgãos na pandemia, inúmeros pacientes ainda dependem de um transplante e se afirmar como um doador, em vida, é um gesto que pode salvar inúmeras pessoas que aguardam pela doação. "A decisão da doação de órgãos é da família, mas o mais importante é que a pessoa diga em vida que é doadora de órgãos. Quando você fala isso para sua família e, por acaso, tem uma morte cerebral por qualquer causa, a família vai autorizar, porque esse é o desejo daquela pessoa", orienta o Dr. Garcia.

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Inclusive, a família não precisa procurar nenhuma entidade específica para fazer a doação de órgãos de algum ente que faleceu. No Brasil, se uma pessoa tem morte cerebral em um hospital, por lei, a equipe médica responsável deve comunicar a central estadual de transplantes e, dessa forma, é iniciado um processo para confirmar o diagnóstico de morte cerebral. Caso este seja positivo, os responsáveis serão orientados sobre a possibilidade da doação e receberão todas as explicações necessários sobre o gesto que pode salvar vidas.