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Quando os professores serão vacinados contra COVID-19?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 08 de Março de 2021 às 18h55

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Marco Fileccia/ Unsplash
Marco Fileccia/ Unsplash

Nas últimas semanas, o Brasil enfrenta o pior momento da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e a média móvel de óbitos já ultrapassou a marca de 2,4 mil mortes, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Neste cenário, onde estados e municípios impõem lockdown para conter a transmissão do vírus da COVID-19, escolas estão abertas em algumas localidades do país, sem uma previsão oficial para a vacinação dos professores e profissionais que estão atuando na educação, de forma presencial. A exceção, por enquanto, é o estado de São Paulo.

Mesmo que não haja uma data oficial para a vacinação brasileira dos profissionais da educação contra a COVID-19 no Plano Nacional de Imunização (PNI), elaborado pelo Ministério da Saúde, especialistas apontam para a prioridade desses trabalhadores, caso as escolas permaneçam abertas. No contágio do coronavírus, os maiores riscos estariam no deslocamento dessas pessoas e durante as refeições.  Diante dos riscos, SP começará a imunização destes profissionais, somente daqueles com mais de 47 anos, a partir do dia 12 de abril.

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Escolas em SP e o coronavírus

Mesmo com o crescente aumento de casos da COVID-19 durante o mês de fevereiro, o estado de São Paulo chegou a iniciar o ano letivo de 2021 em algumas unidades, tanto do sistema público quanto privado de ensino, de forma presencial. A regra era de que a unidade deveria respeitar o limite máximo de ocupação de 35% da capacidade. 

No mês de fevereiro, a Secretaria da Educação de SP estimou que "cerca de 2,5 milhões de alunos e 165 mil funcionários estiveram presencialmente nas escolas estaduais". Desde o início do ano letivo até o dia 5 de março, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) identificou mais de 1,9 mil casos confirmados da COVID-19 em profissionais que atuaram presencialmente no período, além das suspeitas. Os casos estavam divididos em 908 escolas.

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Com recordes de internações em decorrência da infecção pelo coronavírus e a migração do estado da Fase Vermelha para a Fase Emergencial, novas medidas foram tomadas para o setor da educação. Até o dia 28 de março, as aulas da rede pública estão em recesso — nos locais de ensino, merendes ainda são ofericidas para os alunos carentes —, enquanto a rede privada recebeu a mesma recomendação (de caráter não obrigatório). As medidas para o ensino presencial ainda podem ser prolongadas, dependendo da situação epidemiológica do estado.

Por outro lado, nesta quarta-feira (24), o governo de SP anunciou que os funcionários da área de educação com mais de 47 anos poderão se imunizar contra a COVID-19, a partir do dia 12 de abril. Com a medida, a expectativa é de que serão vacinados cerca de 350 mil trabalhadores que atuam de creches ao ensino médio, nas redes pública e privada. Conforme novas vacinas forem disponibilizadas, o grupo de beneficiados deve aumentar. Vale destacar que este é o primeiro estado a marcar uma data para a imunização desses indivíduos.

Há prazo de vacinação dos professores no Brasil?

"O Ministério da Saúde optou por priorizar a vacinação de determinados grupos para garantir o funcionamento dos serviços de saúde, a proteção dos cidadãos com maior risco para coronavírus, além da preservação do funcionamento dos serviços essenciais", afirma a pasta, em nota, atualizada em janeiro deste ano. Entre os grupos considerados prioritários, estão, sim, os profissionais da educação. 

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Nessa categoria, entram os profissionais que atuam em: creches; pré-escolas; ensino fundamental; ensino médio; profissionalizantes; EJA (Educação para Jovens e Adultos); ensino Superior. Embora sejam considerados prioritários, pela baixa quantidade de doses de vacinas contra a COVID-19 disponíveis, ainda não há uma previsão específica para a imunização desse grupo de profissionais.

Para definir os próximos grupos prioritários, foi elaborada uma lista pela Saúde e a recomendação é que "os gestores de saúde sigam essa ordem estipulada pelo Plano de Vacinação, de acordo com as orientações do Programa Nacional de Imunizações (PNI)". Nesta lista, os profissionais da educação ocupam a 17ª posição.  

A seguir, confira a lista completa dos grupos prioritários, elaborada pelo Ministério da Saúde:

  • Pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas;
  • Pessoas com deficiência institucionalizadas;
  • Povos indígenas vivendo em terras indígenas;
  • Trabalhadores de saúde;
  • Pessoas de 80 anos ou mais;
  • Pessoas de 75 a 79 anos;
  • Povos e comunidades tradicionais ribeirinhas;
  • Povos e comunidades tradicionais quilombolas;
  • Pessoas de 70 a 74 anos;
  • Pessoas de 65 a 69 anos;
  • Pessoas de 60 a 64 anos;
  • Comorbidades;
  • Pessoas com deficiência permanente grave;
  • Pessoas em situação de rua;
  • População privada de liberdade;
  • Funcionários do sistema de privação de liberdade;
  • Trabalhadores da educação do Ensino Básico (creche, pré-escolas, ensino fundamental, ensino médio, profissionalizantes e EJA);
  • Trabalhadores da educação do Ensino Superior;
  • Forças de segurança e salvamento;
  • Forças Armadas;
  • Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros;
  • Trabalhadores de transporte metroviário e ferroviário;
  • Trabalhadores de transporte aéreo;
  • Trabalhadores de transporte aquaviário;
  • Caminhoneiros;
  • Trabalhadores portuários;
  • Trabalhadores industriais.
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Vale destacar, no entanto, que a imunização segue a lógica do Sistema Único de Saúde (SUS), onde "estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas". A partir dessa autonomia, São Paulo optou por adiantar a imunização dos prifiossionais da educação, antes mesmo de imunizar as pessoas com comorbidades, por exemplo. No entanto, isso não é regra e outros estados ainda não se definiram sobre o assunto.

Professores devem ser prioridade na vacinação?

“A prioridade de vacinação número um é o profissional da saúde que está na linha de frente. Passada essa prioridade, o professor, se a escola for ficar aberta, deve ser prioridade", afirma o infectologista Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e membro do corpo clínico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, para o Canaltech.

No entanto, o que mais preocupa o infectologista não são, necessariamente, as condições das salas de aula, quando se pensa na educação infantil, mas o percurso que um professor faz até chegar à escola. “A criança é menos transmissora e desenvolve menos a forma grave da COVID-19. Estou mais preocupado com os adultos ao redor, circulando no transporte público e no horário de almoço, do que no próprio ambiente da aula", explica Grinbaum.  

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“A prioridade de vacinação número um é o profissional da saúde que está na linha de frente. Passada essa prioridade, o professor, se a escola for ficar aberta, deve ser prioridade", afirma o infectologista Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e membro do corpo clínico da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, para o Canaltech.

No entanto, o que mais preocupa o infectologista não são, necessariamente, as condições das salas de aula, quando se pensa na educação infantil, mas o percurso que um professor faz até chegar à escola. “A criança é menos transmissora e desenvolve menos a forma grave da COVID-19. Estou mais preocupado com os adultos ao redor, circulando no transporte público e no horário de almoço, do que no próprio ambiente da aula", explica Grinbaum.  

"Sabemos que a transmissão de crianças é menor, no entanto, nós temos variantes que são mais agressivas, uma transmissão que está completamente descontrolada na cidade [de São Paulo] e os profissionais que lidam com as crianças estão em risco. Penso que o ideal seria não ter aulas [presenciais] neste momento", completa o infectologista.

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Como estão os professores na pandemia?

Para entender a situação dos professores que estavam lecionando de forma presencial e os riscos dessa atividade, o Canaltech conversou com profissionais da rede pública de ensino no estado de São Paulo, antes das férias coletivas anunciadas no dia 15 de março pelo governo de São Paulo. De acordo com o professor Maurício, que ensina crianças de quatro a cinco anos, três casos da COVID-19 foram confirmados na escola em que atua com o retorno das aulas.

"Não há segurança para os professores trabalharem, devido à estrutura precária das escolas e a dificuldade em seguir o protocolo de higiene", comentou Maurício. Vale destacar que o retorno, na sua unidade de ensino, aconteceu apenas no dia 22 de fevereiro, porque não havia equipe de limpeza disponível até então. "Considerando que educação é atividade essencial e trabalhamos com muitos alunos, só poderíamos voltar com vacinação", defendeu o professor da educação infantil.

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Também da rede pública de ensino, a professora Eliane comentou os desafios de lecionar com os riscos da COVID-19. Das escolas em que ensina, apenas uma reabriu de forma presencial. "Na escola da rede estadual [em que voltou a dar aulas], temos um caso confirmado de uma professora; seus familiares também se infectaram e há alguns casos suspeitos de alunos que não fizeram teste para a COVID-19, e a direção sugeriu que eles permanecessem no ensino remoto", afirmou. "Não me sinto segura, muito pelo contrário, sinto-me em pânico o tempo todo, e os outros colegas professores também", explicou a professora que leciona para jovens a partir dos 11 anos.

Para Eliane, há muitas questões que deveriam ser solucionadas antes do retorno e a obrigatoriedade das aulas presenciais, como a situação de "salas de aula com pouquíssima ventilação" e "a falta de funcionários de limpeza em número satisfatório para atender a escola toda em três períodos". Em relação aos alunos, a professora explicou que "eles não mantêm o distanciamento necessário, tiram as máscaras ou as deixam embaixo do nariz... Nós nos desgastamos muito chamando a atenção dos alunos que parecem não se importar com a vida alheia, mesmo morando em bairros com alto número de mortes pelo coronavírus".

"Trabalho diretamente com mais de 200 alunos por semana — 35% de alunos presentes na escola durante a Fase Laranja — e a escola não tem condições de cumprir os protocolos de segurança integralmente", afirmou Eliane. "Com certeza, os professores deveriam estar no grupo prioritário, principalmente os que trabalham diretamente com bebês, jovens e adultos na rede pública e particular", completou.

Fonte: Com informações: Apeoesp, Ministério da Saúde, Conass Secretaria da Educação de SP