Qual é o caso mais antigo de câncer em humanos?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
O câncer acompanha a humanidade há muito mais tempo do que poderíamos imaginar e, definitivamente, não é uma doença moderna — a sua prevalência, sim, pode ser discutida. Fósseis e achados arqueológicos indicam que parentes próximos dos humanos já sofriam com a formação de tumores malignos nos ossos há mais de 1,5 milhão de anos.
Até onde se sabe, o caso de câncer mais antigo da história é o de um hominídeo que viveu em Sterkfontein, na África do Sul, há mais de 1,7 milhão de anos, segundo estudo publicado na revista South African Journal of Science. Muito provavelmente, o indivíduo que tinha um tumor maligno no osso do dedo do pé esquerdo era da espécie Paranthropus robustus ou da Homo ergaster.
Aqui, é preciso destacar que este é apenas o caso mais antigo de câncer já descoberto pela ciência, mas não deve ser o primeiro a ter acometido os antepassados do homem moderno. Inclusive, os vestígios de diferentes tipos de tumores podem ter se perdido ao longo dos milhares e milhões de anos, como aqueles que afetam a pele ou outros tecidos moles (e não os ossos), já que teriam sido simplesmente decompostos.
Primeiro caso de câncer no mundo
Por enquanto, o caso mais antigo de câncer em um hominídeo é o de um osteossarcoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), este é um tipo de tumor maligno ósseo mais frequente na infância e no começo da fase adulta, tendo o risco aumentando até os 19 anos. É comumente associado com dor local e, dependendo do seu estágio de desenvolvimento, pode comprometer a capacidade de movimentação do indivíduo.
O curioso é que, os autores do estudo, incluindo membros da Universidade de Witwatersrand, consideram a estrutura do osteossarcoma antigo extremamente semelhante com a forma identificada hoje em humanos. Em ambas as espécies, o formato lembra uma couve-flor.
Entenda o primeiro caso conhecido de câncer nos ossos
"Devido à preservação [do fóssil], não sabemos se o único osso canceroso do pé pertence a um adulto ou criança, nem se o câncer causou a morte desse indivíduo, mas podemos dizer que isso teria afetado a capacidade dos indivíduos de andar ou correr", afirma Bernhard Zipfel, um dos autores do estudo, em comunicado.
Casos de câncer são comuns desde a pré-história
“Embora o aumento da incidência de malignidade esteja correlacionado com estilos de vida modernos, não há razão para suspeitar que tumores ósseos primários seriam menos frequentes em espécimes antigos”, afirmam os pesquisadores do artigo. Em outras palavras, nossos antepassados já conviviam, com certeza, com alguns tipos de cânceres.
Inclusive, a equipe faz uma distinção importante: o osteossarcoma não está relacionado com o estilo de vida de um indivíduo, como uma dieta pobre em fibras, e é mais comum entre crianças e adolescentes. “Tais tumores não estão relacionados ao estilo de vida e ocorrem frequentemente em indivíduos mais jovens”, acrescentam os autores.
Neste ponto, não é possível saber como o estilo de vida dos hominídeos impactavam na prevalência do câncer e nem o quão comum era a proliferação anormal de células ao ponto de formarem tumores. De forma geral, esses achados são bastante raros, o que limita a pesquisa. Hoje, sabe-se que determinados comportamentos humanos impactam no risco de câncer, como sedentarismo, tabagismo e uso excessivo de álcool.
Aqui, vale pontuar que um quadro ainda mais antigo de tumor já é conhecido pela ciência, mas se trata de um caso benigno (não causa metástase). Também publicado na revista South African Journal of Science, o estudo detalha o caso de um indivíduo da espécie Australopithecus sediba que teria vivido há 1,9 milhão de anos.
Fonte: Inca, EurekAlert e South African Journal of Science (1) e (2)