Quais são os possíveis perigos do chumbo para a saúde?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
O chumbo é um metal pesado tóxico usado na produção de baterias, tintas, canos, soldas, plásticos, vidros, brinquedos e até garrafas térmicas. No entanto, esse mesmo chumbo consegue provocar inúmeros problemas de saúde, afetando crianças e adultos.
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Os possíveis perigos do chumbo para a saúde envolvem quase sempre o cérebro e o sistema nervoso central. Em caso de intoxicação por chumbo, os rins, o fígado e outros sistemas do corpo humano também podem ser afetados. A fertilidade pode ser comprometida.
Conforme aponta a Organização Mundial de Saúde (OMS), "não há concentração segura de chumbo no sangue conhecida". Mesmo em pequenas doses, gestantes e crianças já podem apresentar as primeiras alterações.
O que é intoxicação por chumbo?
Embora o chumbo seja encontrado naturalmente na crosta terrestre, esses minérios “brutos” não estão relacionados aos possíveis perigos para a saúde. O problema está no uso generalizado em algumas indústrias e atividades econômicas, sem os devidos cuidados, o que resulta em contaminação ambiental e exposição humana ao metal tóxico.
Dessa forma, podemos definir intoxicação por chumbo ou ainda envenenamento por chumbo como a ingestão ou o contato, na maioria das vezes acidental, com esse metal pesado. Quanto maior for a exposição, maiores são os riscos.
Por ano, é estimado que 1 milhão de pessoas morram em consequência da intoxicação por chumbo e outras milhares desenvolvam problemas neurológicos relacionados à exposição ao metal. No caso dos sobreviventes, os danos podem ser irreversíveis, comprometendo a saúde pública.
Perigos do chumbo para a saúde
"Em praticamente todo tipo de exposição a chumbo, considerando a duração curta ou a longo prazo, em altas ou baixas concentrações, o órgão crítico alvo é sempre o cérebro”, afirma Eduardo de Capitani, médico e professor associado da Unicamp, em artigo na revista Medicina (Ribeirão Preto). Nestes casos, o paciente com intoxicação por chumbo pode apresentar:
- Dor de cabeça;
- Perda de memória;
- Dificuldade de concentração e de atenção;
- Alterações de humor;
- Irritabilidade;
- Depressão;
- Insônia ou sonolência excessiva.
Para o especialista, em alguns casos os sintomas evoluem ou já se iniciam com fortes sinais de agravamento. Isso envolve o aparecimento da paranoia, além de delírios e alucinações. Podem ocorrer alterações da marcha e do equilíbrio, quando o cerebelo é afetado. Ainda há risco de convulsões ou mesmo coma.
Outros sinais, como cólicas abdominais, fadiga, dor muscular generalizada (ou mais localizada nas panturrilhas), náusea, vômito e perda da libido, ajudam no diagnóstico.
A confirmação de um caso de intoxicação por chumbo é feita com a dosagem de chumbo no sangue (plumbemia) ou na urina (plumbúria), além da análise dos sintomas apresentados pela pessoa.
Quanto de chumbo no sangue é perigoso?
Para entender o quão prejudicial pode ser o chumbo no sangue, o Laboratório de Análises da Exposição Humana a Contaminantes Ambientais (Lehca), da USP, aponta que:
- Com 10 microgramas de chumbo por decilitro de sangue (50 ug/dl), a pessoa pode apresentar neuropatia, problemas de memória e hipertensão;
- Com 50 microgramas, há relatos de: irritabilidade, dores de cabeça, redução da capacidade auditiva; danos aos rins, queda no número de hemoglobinas no sangue e impotência sexual;
- Com 100 microgramas, o risco de encefalopatia, ou seja, doenças cerebrais é alto, o que pode ser potencialmente mortal.
Em crianças, as complicações em caso de intoxicação por chumbo são mais intensas. Por exemplo, pequenas doses já podem provocar dificuldades de aprendizagem e redução no Quociente de Inteligência (QI), além de déficit de atenção.
Como pode acontecer a contaminação por chumbo?
Na maioria das vezes, a pessoa não vai perceber que entrou em contato com o chumbo, o metal responsável pela intoxicação. O risco é maior para pessoas que trabalham em indústrias ou atividades que utilizam o material, mas não só.
Afinal, o metal pesado pode estar presente em baterias, tintas, eletrônicos, lixo eletrônico, utensílios de metal reciclado, louças, cristais e alguns tipos de plásticos, além das atividades de mineração e de garimpo. Tudo isso são fontes de chumbo e deixam “rastros” no ambiente.
Nesse sentido, a intoxicação pode ocorrer a partir da ingestão de poeira, água e alimentos contaminados. Inclusive, as casas muito antigas podem ter canos metálicos, feitos com o material. Em outros casos, a pessoa pode manusear objetos com pequenas quantidades do metal e, eventualmente, levar a mão para a boca. Por isso, é preciso atenção e uma melhor regulação envolvendo o uso do material.
Fonte: Medicina (Ribeirão Preto), Lehca, OMS