Virologistas recebem Nobel de Medicina pela descoberta do vírus da hepatite C
Por Fidel Forato |
Na segunda-feira (5), a Academia Sueca anunciou um trio de virologistas como os ganhadores do Prêmio Nobel 2020 de Medicina por suas descobertas relacionadas ao vírus da hepatite C — doença que se caracteriza por inflamação do fígado, podendo se tornar crônica e levar o paciente à morte. Os homenageados foram Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice.
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"O Prêmio Nobel deste ano é concedido a três cientistas que deram uma contribuição decisiva para a luta contra a hepatite transmitida pelo sangue, um importante problema de saúde global que causa cirrose e câncer de fígado em pessoas ao redor do mundo", afirmou a Academia, em nota.
Quem são os vencedores do prêmio Nobel?
O trio de pesquisadores atuou na pesquisa do vírus da hepatite C (HCV) em diferentes momentos, mas de alguma forma conectados. Por exemplo, o virologista norte-americano Harvey J. Alter é parte do National Institutes of Health (NIH), nos EUA. A contribuição de Alter contra a doença, ainda nos anos 1970, foi entender que durante as transfusões de sangue, acontecia um contágio hepático diferente da hepatite A e da B, o que viria a ser um outro tipo de vírus, conhecido por ter maior probabilidade de se manifestar de forma crônica nos pacientes.
Em 1989, o virologista britânico Michael Houghton — atualmente, é diretor do Instituto de Virologia Aplicada da Universidade de Alberta, no Canadá — usou uma estratégia não testada para isolar o genoma desse novo vírus. A partir desse estudo, passou a ser conhecido como o vírus da hepatite C.
Muitos anos mais tarde, em 2010, o virologista norte-americano Charles M. Rice — hoje, professor de virologia na Universidade Rockefeller, nos EUA — encontrou a evidência final que demonstrava que o vírus da hepatite C podia, sozinho, causar a doença. Isso permitiu desenvolver um novo tipo de tratamento para a doença. Agora, os três dividirão, em partes iguais, o valor de 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,3 milhões).
Hepatite C no mundo
Publicado em 2017, o último relatório da OMS sobre a doença estimava que, em 2015, havia 71 milhões de pessoas no mundo vivendo com hepatite C na sua forma crônica. Entre as principais sequelas da doença, estão: cirrose e carcinoma hepatocelular (câncer no fígado). Ainda em 2015, o vírus foi responsável por 400 mil mortes.
Mesmo que os pesquisadores já saibam bastante sobre o vírus da hepatite C, ainda não há vacina eficaz contra esse agente infeccioso. Entretanto, há tratamento disponível e pacientes conseguem controlar o quadro, desde que acompanhados. Mesmo sendo crônica para muitas pessoas, cerca de 30% das pessoas infectadas eliminam o vírus em até seis meses após a infecção, segundo a Organização mundial da Saúde (OMS).
Por que o prêmio só chegou agora?
As descobertas promovidas foram, extremamente, importantes para a ciência e para o desenvolvimento de tratamentos e profilaxia contra o vírus da hepatite C, por isso a pergunta: por que os pesquisadores só foram reconhecidos tão tardiamente? Segundo o secretário do comitê do Nobel, Thomas Perlmann, "leva tempo" para que algo se comprove no campo das ciências médicas e para que se verifique que se trata de uma descoberta, realmente, importante.
"Depois de 1989, quando o vírus foi clonado, tornou-se aparente bem rápido que era [uma descoberta] útil para a serologia, mas houve desenvolvimentos adicionais que levaram a medicamentos antivirais que se provaram imensamente importantes, e isso é muito mais recente. Mas a segunda razão é que o comitê do Nobel é muito cuidadoso antes de chegar à decisão", completou Perlmann.
Para quem acompanha a premiação do Nobel, vale lembrar que nos próximos dias serão apresentados os vencedores das outras categorias. Até a próxima segunda-feira (12), os premiados em Física, Química, Literatura, Paz e Economia serão anunciados.
Fonte: Nobel Prize e G1