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Máscara para vacinados ou não? O que dizem os especialistas sobre COVID-19 no BR

Por| Editado por Luciana Zaramela | 11 de Junho de 2021 às 18h40

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Diante da pandemia do coronavírus SARS-CoV-2, o governo levantou a hipótese de que pessoas já imunizadas contra a COVID-19 ou que já tenham se infectado pelo agente infeccioso não precisariam mais usar máscaras. Isso porque, em tese, já estariam protegidas contra o vírus. No entanto, a infecção segue como um problema de saúde pública brasileira e medidas protetivas ainda são necessárias, segundo especialistas.

Para entender o cenário brasileiro em relação à COVID-19 e quais critérios poderiam basear uma medida que dispensasse o uso de máscaras, o Canaltech conversou com médicos sobre o tema. Adiantamos que o uso de máscaras, como medida para barrar a transmissão da doença, ainda é necessário.

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Por que máscaras ainda são importantes no Brasil?

"No momento atual, estamos no pico da pandemia, com nível altíssimo de transmissão e podendo se sobrepor uma terceira onda. Nós temos, portanto, uma característica de alta transmissão da COVID-19", explica Sérgio Zanetta, médico sanitarista e professor de Saúde Pública do Centro Universitário São Camilo. "Retirar a proteção não farmacológica que, no caso é a máscara, seria um absoluto convite à transmissão, ao sofrimento, ao adoecimento e à morte das pessoas", pontua.

Sobre a eventual autorização de pessoas não mais usarem máscaras, Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e infectologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, questiona: "É irracional, se não irresponsável. Como pensar em abrandar uso de máscaras com a alta incidência e alta ocupação de hospitais?" A questão só poderá ser revista com a melhora desse quadro.

Em números, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), morreram, em média, 1,8 mil brasileiros por dia na última semana. No mesmo intervalo, 58,2 mil pessoas se infectaram. Em valores totais, 17,2 milhões de brasileiros já adoeceram em decorrência da COVID-19, sendo que 482 mil faleceram. Além disso, inúmeras cidades brasileiras registram mais de 90% de ocupação nos leitos de hospitais.

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Quando as medidas de proteção contra a COVID-19 poderão ser relaxadas?

Segundo Zanetta, duas estratégias são possíveis para controlar a transmissão do coronavírus: vacinação de população brasileira, considerada como uma medida farmacológica; e as medidas de proteção não farmacológicas, como o uso de máscara, o distanciamento pessoal e higienização das mãos. Idealmente, elas precisam estar combinadas.

"Consigo reduzir medidas não farmacológicas [máscara e distanciamento], quando eu tenho uma proteção farmacológica, de vacina, que interrompe do crescimento da transmissão. Enquanto nós tivermos transmissão alta, uma taxa de transmissão [Rt] superior a 1 [sendo que o recomendado é que seja inferior a 1], não se pode pensar em eliminar qualquer medida de bloqueio da transmissão. Vamos precisar, enquanto não tivermos proteção vacinal superior a 80% da população", detalha o professor do Centro Universitário São Camilo.

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"Por isso que a gente diz que a vacina não é um instrumento de proteção individual, como uma capa de chuva. A vacina é um instrumento de proteção coletiva, ela protege contra a enchente. Não adianta uma parte ter capa de chuva, porque se a água da enchente subir, pegará todos", ilustra Zanetta.

Nessa metáfora, a enchente representa o elevado nível de transmissão da COVID-19 que o Brasil enfrenta. Isso porque, mesmo que eficazes as vacinas contra o coronavírus, não há imunizante 100% protetor, o que ocorre é a mitigação dos riscos. A estratégia da imunização em massa é, na verdade, barrar — ou reduzir — a circulação de um agente infeccioso, o que garante a proteção de todos.

Mas por que, nos Estados Unidos, quem se vacinou não precisa mais de máscaras?

É verdade que, nos Estados Unidos, pessoas totalmente imunizadas contra a COVID-19 — com as duas doses ou com a dose única, dependendo da fórmula — não precisam mais usar máscaras, desde o mês passado. No entanto, além da vacinação completa, a pessoa deve esperar duas semanas para que a vacina comece a produzir a resposta imunológica. Outro ponto é que a medida não é válida para quem já se contaminou, afinal, casos de reinfecções são possíveis, mesmo que raros.

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No entanto, a situação epidemiológica da COVID-19 é bastante diferente nos EUA e no Brasil, principalmente quando se observa a porcentagem de imunização da população. Segundo os números da vacinação levantados pela plataforma Our World in Data, mais de 51% dos norte-americanos já receberam pelo menos uma dose da vacina contra o coronavírus, o que equivale a mais de 172 milhões de pessoas. Entretanto, o grupo de pessoas que pode sair sem máscaras é apenas aqueles com as duas doses do imunizante em dia e, mesmo assim, a medida não é consenso.

De acordo com o presidente norte-americano Joe Biden, a meta é vacinar 70% da população adulta contra a COVID-19 até o dia 4 de julho, data em que o país celebra sua independência e poderá simbolizar a superação do coronavírus. Todavia, existem alguns desafios, como formas de incentivar as pessoas a se vacinarem.

Já, no caso brasileiro, apenas 24% da população recebeu ao menos uma dose do imunizante, o que representa 52,3 milhões de pessoas. Pensando na imunização completa, o número de brasileiros protegidos é ainda menor, estimado em 23,4 milhões de pessoas. Também é verdade que este número pode mudar em breve, com estados e municípios, anunciando a vacinação geral da população contra a doença. Dessa forma, essa é uma discussão para o futuro.

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Quem foi vacinado ainda pode transmitir o coronavírus

"A vacina tem uma eficácia que é muito alta para impedir que a pessoa fique doente, de forma grave. Significa que ela pode ter [a COVID-19], mas não será [na maioria das vezes] grave. E tem níveis menores de proteção contra o fato da pessoa ter uma forma da doença com poucos sintomas ou assintomática", explica o professor Zanetta sobre o funcionamento das vacinas.

Nesse cenário, "a vacina não impede, individual e totalmente a transmissão. Uma pessoa vacinada pode ter COVID-19 e pode transmitir a outra pessoa", pontua o médico. Nesse caso, uma pessoa protegida pode transmitir a doença para alguém vulnerável, mesmo sem saber, já que a transmissão do coronavírus ainda é alta no Brasil. Por isso, a máscara ainda é importante, já que é uma barreira física contra a transmissão do agente infeccioso.

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Por mais incômodo que alguns usuários consideram usar uma máscara, ela pode proteger vidas e não tem contraindicações. "O uso da máscara não causa nenhum malefício para quem usa. Pelo contrário, o uso da máscara traz o benefício de impedir que essa pessoa contraia uma doença viral, transmitida por outra. A máscara não tem nenhuma contraindicação, não provoca nenhum efeito negativo", afirma o professor.

Mesmo com essas evidências que apontam para a necessidade de paciência e de cautela na hora de adotar medidas de relaxamento contra a COVID-19, a eventual liberação do uso das máscaras causará um outro problema: a fiscalização. Dificilmente, na prática, isso funcionaria, já que a pessoa precisaria andar com o comprovante de imunização ou com um exame médico, no qual ela testou positivo para a doença. Essa mudança no protocolo pode representar, na verdade, o fim de uma medida simples, mas capaz de salvar vidas: a máscara.

Para acessar os dados sobre a COVID-19 no Brasil, divulgados pelo Conass, clique aqui. Para conferir os números da vacinação contra o coronavírus, levantados pela plataforma Our World in Data, acesse aqui.