Por que o café pode deixar você ainda mais cansado?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Para garantir a energia necessária no começo do dia ou ainda para animar uma tarde cansativa de trabalho, muitas pessoas recorrem a uma xícara — ou a algumas xícaras — de café. Só que, nem sempre, o efeito desejado é o que acontece. Isso porque um cafézinho também pode dar o efeito inverso e deixar você ainda mais cansado.
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“O paradoxo da cafeína é que, no curto prazo, ajuda na atenção e no estado de alerta. Ajuda em algumas tarefas cognitivas e nos níveis de energia", comenta Mark Stein, professor da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Por outro lado, "o efeito cumulativo — ou o impacto de longo prazo — tem o efeito oposto”, avisa Stein.
Como o café pode ter efeitos opostos?
Pode parecer estranho, mas o café pode, sim, aumentar o sono de quem bebe. A principal causa disso está na quantidade de café ingerida e na frequência de uso dessa droga — afinal, café é também uma droga e pode viciar alguns usuários. Para entender o porquê disso, é preciso compreender a ideia de que o corpo sofre a "pressão do sono".
Quando uma pessoa acorda, ela sabe que, ao final do dia, o seu relógio biológico a levará de volta para a cama, já que a disposição se "esgotou". Inclusive, o corpo irá emitir inúmeros sinais de cansaço e da necessidade de repouso. Isso porque tudo o que um indivíduo faz depende da ATP, aquela molécula que garante a liberação de energia para o funcionamento das células.
À medida que essa ATP é gasta, as células humanas geram uma substância química chamada adenosina como subproduto. Por sua vez, a adenosina passa a se ligar a receptores no cérebro e deixa os humanos mais sonolentos, segundo Seth Blackshaw, neurocientista da Universidade Johns Hopkins.
Do ponto de vista químico, a cafeína é relativamente semelhante à adenosina e, dessa forma, consegue ocupar os receptores do cérebro. No curto prazo, roubar o lugar da adenosina suprime a pressão do sono, ou seja, a pessoa ganha uma dose extra de energia. Só que, nesse momento, a adenosina ainda está no corpo, apenas aguardando a sua vez de se conectar.
“Uma vez que a cafeína passa, você atinge um nível muito alto de 'pressão do sono' e tem que pagar de volta”, ilustra a neurocientista Bradshaw. Dessa forma, a única forma de elevar, novamente, a energia será um bom período de sono.
Problema: grande quantidade de café
É preciso ficar atento, porque quanto mais cafeína é ingerida, mais se aumenta a tolerância do corpo a essa substância. Além disso, o fígado passa a produzir mais proteínas que quebram a cafeína e o número de receptores de adenosina se multiplica no cérebro. É como se o cérebro soubesse que o indivíduo quer burlar os seus limites do sono e age contra o truque proporcionado pela cafeína.
Dessa forma, o consumo continuado ou aumentado de cafeína afeta negativamente o sono, o que também faz as pessoas se sentirem mais cansadas. “Se você está dormindo menos, está estressado e depende da cafeína para melhorar isso, é uma tempestade perfeita para uma solução de curto prazo que vai piorar as coisas a longo prazo”, aponta Stein. “Você vai adicionar mais doses ao seu expresso, mas o impacto negativo no seu sono vai continuar, e isso é cumulativo”, comenta.
Nesse caso, a solução para melhorar o nível de disposição é reduzir a quantidade de café, de forma gradual. Por exemplo, a pessoa pode intercalar os dias em que bebe cafeína ou ainda adotar apenas cafés descafeinados. Outra opção é que, quando estiver cansado, a pessoa simplesmente descanse e, de preferência, tenha uma noite tranquila de sono. Sim, nem sempre essas soluções são possíveis, mas são as ideais.
Fonte: NYT