Ciência explica por que algumas pessoas ignoram vacinas e riscos da covid
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 07 de Fevereiro de 2022 às 14h55
Pesquisadores dos Estados Unidos investigaram o porquê de algumas pessoas se recusarem a acreditar nos riscos da covid-19 e, por causa desse pensamento, rejeitarem medidas de proteção contra o coronavírus SARS-CoV-2, como o uso de máscaras e as vacinas. O funcionamento do cérebro e o uso dos atalhos cognitivos são as principais explicações.
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Publicado na revista científica Brain, Behavior, and Immunity, o estudo que explora as origens do negacionismo da pandemia da covid-19 no campo da psicologia foi desenvolvido por cientistas da Universidade de Notre Dame e da Universidade Estadual de Ohio, ambas nos EUA.
"Infelizmente, temos grande confiança na validade de nossas crenças errôneas e é improvável que descubramos suas falhas, porque ignoramos sistematicamente evidências contrárias", explicam os autores sobre o desafio de lidar com novas evidências científicas e avaliações de riscos.
Por que pessoas ignoram os riscos da covid?
Quando amigos ou familiares enfrentam casos leves da covid-19 e se recuperaram rapidamente, o cérebro pode convencer algumas pessoas que essa é a experiência padrão da infecção pelo coronavírus. O inverso da situação também pode ocorrer quando alguém descobre sobre um efeito adverso da vacina e pensa que todas as outras pessoas, inclusive ela, terão as mesmas reações.
Nesse cenário, "é mais provável que julguemos a covid-19 como uma doença leve e a vacina como insegura", explicam os autores. Na psicologia, esse fenômeno é conhecido como “heurística da disponibilidade”.
Para o professor de psicologia da Universidade de Notre Dame, Theodore Beauchaine, este é um atalho cognitivo que conserva a energia do cérebro — poupa a demanda por reflexão sobre um tema e usa exemplos conhecidos — e é, na maioria das vezes, é considerada uma estratégia positiva.
No entanto, “esses atalhos cognitivos podem ser mortais durante uma pandemia”, explica o pesquisador, em comunicado, sobre as origens da negação dos riscos da covid-19.
Mais atalhos cognitivos
Outro atalho cognitivo levantado pelo grupo de cientistas é a “heurística da representatividade”. Nesse caso, “podemos ignorar ou deixar de levar em conta fatos básicos sobre o SARS-CoV-2 e decidir nos envolver com pessoas que acreditamos serem improváveis de serem infectadas, mesmo que todos estejamos em risco de exposição e infecção por esse novo patógeno”, explicam os pesquisadores.
Além disso, algumas pessoas podem se apegar às informações iniciais que receberam sobre algo, mesmo quando informações atualizadas são apresentadas. Esse fenômeno é conhecido como “heurística de ancoragem”.
Para ilustrar esse contexto, podem se enquadrar pessoas que afirmam que determinados remédios — divulgados no começo da pandemia da covid-19, como cloroquina — são eficazes contra a covid-19, mesmo que nenhuma evidência científica robusta comprove o uso.
Fonte: Brain, Behavior, and Immunity e Universidade de Notre Dame