Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Por que a COVID-19 não deve transformar as cidades de forma radical?

Por| 20 de Julho de 2020 às 21h00

Link copiado!

Fotos Públicas
Fotos Públicas

Muito se tem discutido sobre os impactos e o legado que a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) poderá deixar para a humanidade, principalmente no modo de vida urbana. Afinal, evitar aglomerações, menor fluxo no transporte público e uso obrigatório de máscaras mais parecem medidas para o curto prazo, enquanto o contágio da COVID-19 precisa ser controlado.

Na pandemia, as mudanças foram rápidas, e grandes capitais brasileiras, como São Paulo, viveram dias em que suas principais ruas estiveram quase vazias por causa do isolamento social. Foi o caso das avenidas Faria Lima e Paulista, por exemplo. Agora, com a capital do estado na zona amarela da reabertura econômica, muita coisa tem voltado ao "normal", como o fluxo dessas regiões.

Continua após a publicidade

Em regra geral, as adaptações mais emergenciais costumam ter um efeito duradouro muito pequeno. Por outro lado, o que mais parece ter um efeito duradouro é a aceleração das tendências já existentes, isso no lugar de novas tendências causadas pela própria crise. Independente disso, o futuro segue imprevisível, mas algumas pistas desse comportamento podem ser levantadas ao longo da história da humanidade.

Olhando para o passado

Analisando o passado, a história mostra que as formas de organização de uma cidade são, na maioria dos casos, muito resistentes a mudanças bruscas, mesmo que seja em resposta de algum evento catastrófico. É o caso do Japão, durante a Segunda Guerra Mundial e a bomba nuclear. Após o bombardeiro de Hiroshima e Nagasaki e todas as vítimas do evento, houve uma mudança na distribuição da população local, em 1945. No entanto, na década de 1960, esse movimento tinha quase desaparecido.

Durante a Peste Negra, que aconteceu entre os anos de 1347 e 1352, quase 40% da população da Europa morreu. Em números, pesquisadores estimam o número de vítimas da peste bubônica entre 75 milhões a 200 milhões de pessoas. No entanto, a hierarquia urbana do continente retornou, em grande parte, a sua distribuição como era pré-praga ao longo dos anos.

Continua após a publicidade

Quanto ao Brasil, uma das possíveis comparações da COVID-19 é a gripe espanhola, que chegou ao país em 1918. No mundo, a pandemia levou ao óbito cerca de 50 milhões de pessoas, enquanto no Rio de Janeiro morreram ao menos 15 mil pessoas. Em jornais da época, há relatos de corpos acumulados nas ruas da capital, mas bastaram os riscos do vírus passarem que a cidade passou, em 1919, por um lendário carnaval, chamado de Carnaval da Revanche pelo pesquisador Ruy Castro.

Uma das possíveis razões para isso é que as mudanças temporariamente impostas não são capazes de mudar, estruturalmente, a sociedade e nem os hábitos das pessoas. Entretanto, é importante lembrar que as cidades são, sim, mutáveis, mas é necessário mais do que um fator externo para isso. É preciso haver conexão com novas tecnologias, muitas políticas públicas e a vontade por mudança.

O que a COVID-19 está promovendo?

Continua após a publicidade

No atual cenário, um dos maiores vetores de mudanças são as empresas que, caso queiram sobreviver à crise, precisam se adaptar ao novo coronavírus, buscar novas oportunidades, tecnologias e crescimento. Por exemplo, adotar o home office foi a única estratégia possível para a maioria das companhias continuar com suas operações, e o ensino online é a única forma pela qual os jovens podem aprender, no momento.

Mesmo que fosse impensável essas mudanças sem a chegada do novo coronavírus, de alguma forma, isso já era uma tendência, apontada por inúmeros especialistas. Além disso, a Internet das Coisas (IoT), a inteligência artificial (IA) e as plataformas online já impulsionavam mudanças significativas nas cidades, o que, entre muitas coisas, permitiu um controle mais rígido da taxa de isolamento via o rastreamento de smartphones. Na área médica, também correu ainda a adoção de telemedicina e aplicativos que agilizam o disgnósticos de exames.

Essas mudanças apontam para uma combinação de oportunidades (a pandemia da COVID-19) e uma tecnologia (a comunicação digital ampa) com tendências de longo prazo. Por isso, as chances dessas mudanças serem mais permanentes para a sociedade são maiores, do que as restrições de circulação.

É verdade também que esse movimento de migração para o online demonstrou, de forma bastante explícita, os efeitos das desigualdades da sociedade. É o caso dos trabalhadores que perderam seus empregos porque, para eles, não existe a possibilidade do trabalho remoto, o que também foi a situação de muitos jovens que não têm acesso a uma internet de qualidade e, por isso, não conseguem acompanhar o ano letivo. Para todas essas pessoas, é também necessário integrá-las de alguma forma a essa nova sociedade que pode se formar.

Continua após a publicidade

Fonte: Phys, SSRN e Folha de S. Paulo